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Psoríase e sexo: o estigma expresso na pele

Estudos mostram que até 40% das mulheres com psoríase podem ter disfunção sexual por conta dos desafios trazidos pela doença

Por Carmita Abdo, sexóloga e psiquiatra*
Atualizado em 29 out 2023, 11h42 - Publicado em 29 out 2023, 11h37
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  • Todas as sociedades do mundo ainda lidam com diversos estigmas associados ao sexo, mesmo 22 anos depois do início do século XXI. Para quem tem psoríase, o tema pode ser ainda mais desafiador, uma vez que, inevitavelmente, a atividade sexual envolve o contato direto com a pele.

    Doença inflamatória, sistêmica, crônica, incapacitante e ainda sem cura, é comum que as primeiras manifestações da psoríase ocorram em homens e mulheres com idade entre os 20 e 40 anos, mas 15% dos casos surgem ainda durante a infância.

    Ela é caracterizada pelo surgimento de lesões de pele avermelhadas, descamativas e desfigurantes, muitas vezes associadas a dor em áreas sensíveis, como sola dos pés e palma das mãos, e se desenvolve a partir da liberação de substâncias inflamatórias pelas células de defesa do organismo.

    Embora não seja contagiosa, os desafios e preconceitos enfrentados pelos quase 5 milhões de brasileiros diagnosticados com psoríase ocupam lugar de destaque na vida dessas pessoas, afetando as relações sociais.

    + Leia também: Doença milenar, psoríase não é só questão de pele

    Quando direcionamos a lupa para as relações íntimas, a premissa segue verdadeira. Afinal, se o paciente precisa lidar diariamente com estigmas que limitam atitudes simples, como a escolha das roupas e dos ambientes a frequentar, isso também se reflete na intimidade.

    Um exemplo bastante básico ilustra esse ponto: faz parte da rotina dos pacientes que não têm a doença controlada usar roupas longas mesmo em dias de calor, na intenção de cobrir os sinais da psoríase.

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    É difícil o convívio com olhares e comentários em ambientes de trabalho, educação ou lazer, como cinemas, parques, restaurantes, praias ou piscinas, quando uma área maior de pele fica exposta.

    Em função de tantos desafios enfrentados, é comum que o indivíduo com psoríase apresente sentimentos de raiva, depressão, vergonha e ansiedade, que intensificam o isolamento social e prejudicam os relacionamentos sexuais.

    + Leia também: Psoríase, uma nova era no tratamento

    Nesse departamento, pesa também o desconhecimento da doença, que se evidencia, por exemplo, no receio que o parceiro tem de se contaminar. Sim, muita gente que psoríase “pega”.

    Estudos mostram que a disfunção sexual ocorre em 40,8% dos pacientes, prioritariamente mulheres. As lesões psoriásicas na área genital, presentes em 35% a 42% dos pacientes, causam grande constrangimento.

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    Coxas, abdômen e costas também podem ser atingidos, dificultando uma atividade sexual sadia e confortável.

    Círculo vicioso

    O estresse, a perda de autoestima e o comprometimento da autoimagem podem tornar-se frequentes na vida de quem tem psoríase, levando a baixa libido e disfunção erétil, o que, por sua vez, mantém essa autodepreciação, gerando um círculo vicioso nos momentos de intimidade.

    Vale lembrar que qualquer relação social, íntima ou não, causa impacto psicológico, positivo ou negativo. Todas essas questões podem ser enfrentadas a partir do diagnóstico mais precoce possível.

    + Leia também: O que é conviver com a psoríase desde os 12 anos

    O acesso ao tratamento adequado inclui de medicamentos de uso tópico aos imunobiológicos, passando por fototerapia, medicações sistêmicas e acompanhamento de um especialista em saúde mental.

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    É importante também atentar-se a comorbidades como depressão, ansiedade, obesidade, doenças cardiovasculares, entre outras. O ideal é que a abordagem seja multidisciplinar para o cuidado integral do paciente.

    Além disso, uma rede de apoio consistente e a disseminação de informações sobre a doença favorecem a recuperação dos pacientes e o combate ao preconceito. Mesmo que a jornada inclua muitos desafios, é fundamental não desanimar ou se isolar. Viver bem com psoríase é possível!

    Para saber mais sobre o assunto, acesse o site da campanha “Juntos transformamos a doença psoriásica”.

    *Carmita Abdo é sexóloga, médica psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

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