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Precisamos falar sobre incontinência fecal sem sentir vergonha

Médica explica o que envolve o diagnóstico e o tratamento dessa condição, que já conta com terapias mais modernas e eficazes

Por Dra. Lucia Oliveira, coloproctologista*
11 jul 2020, 10h21
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Incontinência fecal ocorre mais em mulheres e compromete a qualidade de vida. (Ilustração: GI/Getty Images)
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A manutenção da nossa capacidade de controlar o momento em que evacuamos está associada a vários fatores, como a integridade dos músculos do ânus, a sensibilidade do reto (a porção final do intestino) e os movimentos peristálticos intestinais. Quando a perda do controle do esfíncter na região anal, tanto para gases como para fezes, ocorre por pelo menos um mês em pessoas acima dos 4 anos de idade e causa constrangimentos sociais e problemas de higiene, temos a chamada incontinência anal.

Trata-se de uma condição subestimada, cuja prevalência na população pode chegar a 18% dos indivíduos. Isso significa que uma em cada 12 pessoas sofre ou já sofreu algum episódio. Frequentemente, encontramos pacientes que, por vergonha, omitem a situação ao médico, o que dificulta o diagnóstico e retarda o tratamento.

Sabemos por estudos que as mulheres são mais acometidas por essa incontinência, principalmente pela possibilidade de ela estar associada a traumas obstétricos (ligados ao parto vaginal). Também existem casos em que a pessoa nasceu com uma alteração anatômica ou passou por uma cirurgia na região do reto, do ânus ou da pelve que resultou no problema.

Tudo isso pode tornar um verdadeiro desafio tratar adequadamente a incontinência anal. Além de se fazer o diagnóstico correto, o coloproctologista deve considerar a gravidade do quadro, o prejuízo na qualidade de vida e os custos associados ao tratamento. Porque há essa boa notícia: a incontinência tem tratamento!

O controle da incontinência

Existe uma gama de terapias que vão de suplementos e medicamentos a procedimentos fisioterápicos e cirurgias. Em geral, recomendamos a utilização de produtos que ajudam a formar o bolo fecal, como as fibras, que permitem manter uma evacuação mais regular e evitar diarreias. Podem ser receitadas medicações específicas e técnicas de fisioterapia, que incluem biofeedback e eletroestimulação para trabalhar a musculatura local.

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Para os casos mais graves, em que o sintoma é diário e impacta muito a qualidade de vida, dispomos de diferentes procedimentos e alguns são minimamente invasivos. Já temos à disposição um método conhecido como neuromodulação sacral, que consiste no implante de um neuroestimulador na região sacral e glútea. Essa terapia permite estimular nervos que saem da medula, descem para a pelve e atuam na musculatura do assoalho pélvico, incluindo o esfíncter anal.

O procedimento é realizado em duas etapas, permitindo que o paciente faça um teste e observe se há melhora dos sintomas durante um período (uma das vantagens, aliás). Quando os efeitos da neuroestimulação propiciam redução de mais de 50% dos episódios de escape das fezes, o gerador do dispositivo pode ser implantado e assegurar o sucesso da intervenção.

O tratamento tem proporcionado melhora na qualidade de vida de pacientes que sofrem de incontinência fecal e urinária. A estimulação recupera circuitos nervosos perdidos ou danificados e permite ao paciente voltar a ter controle sobre o momento de ir ao banheiro. Hoje, cerca de 150 mil pessoas já se beneficiam com a neuromodulação sacral pelo mundo, sendo que o resultado é satisfatório em mais de 70% dos casos.

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Falamos de um procedimento simples e eficaz, que possibilitou uma mudança na maneira de tratarmos a incontinência fecal e reduz significativamente os episódios do problema, como mostra um estudo multicêntrico que conduzimos na América Latina com 129 pacientes. Eis um avanço que ajuda a mudar a vida de quem sofre com essa condição tão angustiante.

* Dra. Lucia Camara Castro Oliveira é coloproctologista, doutora pela Universidade de São Paulo (USP) e membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia 

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