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Precisamos falar sobre eventos adversos

Situações que provocam complicações indesejadas durante a assistência médica ocupam o ranking das dez maiores razões de morte e incapacidade, segundo a OMS

Por João Fernando Monteiro Ferreira, cardiologista*
22 set 2023, 18h07
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Infecção hospitalar é um exemplo de evento adverso em medicina (Ilustração: Ricardo Gualberto @ricardoninenine/SAÚDE é Vital)
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Não é difícil entender o que é um evento adverso em medicina: uma infecção hospitalar é um bom exemplo. O paciente é internado para realizar uma cirurgia, mas, no decorrer do período, contrai uma infecção que nada tem a ver com o motivo que o levou a ser hospitalizado.

Eventos adversos, portanto, podem ser definidos como situações que provocam complicações indesejadas durante a assistência médica ou hospitalar.

Hoje, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), eles ocupam o ranking das dez maiores razões de morte e incapacidade, com quatro em cada dez pacientes lesados de alguma forma e cerca de 2,6 milhões de óbitos por ano.

No Brasil, estão entre as cinco principais causas de falecimento, segundo o último Anuário de Segurança Assistencial Hospitalar.

+ Leia também: Septicemia: o que é, as causas e os sintomas

Dados do Proqualis, programa voltado a produção e disseminação de informações e tecnologias para a segurança dos pacientes, em cima da realidade europeia, apontam que entre 46 e 70% dos eventos adversos poderiam ser evitados.

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Falamos de ocorrências imprevistas, evitáveis ou inevitáveis. Podemos considerá-las evitáveis quando há uma ação não intencional, como infecção por falta de higiene das mãos, prescrição de doses erradas de medicamentos ou falhas de comunicação das equipes de atendimento.

Já os eventos não evitáveis são decorrentes do uso de medicações ou de procedimentos necessários para o tratamento da doença em si, mas capazes de gerar danos à saúde, como complicações resultantes de uma cirurgia.

Em cardiologia, o sangramento provocado pela administração de terapia antitrombótica — vital para socorrer um infartado, por exemplo — pode acometer até 5% desses pacientes, que, por sua vez, têm 5% mais chances de morrer em função da hemorragia, e não mais devido ao infarto.

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É um efeito colateral do procedimento para salvar o paciente. Estima-se que de 6 a 12% dos eventos adversos estão relacionados ao uso de medicamentos utilizados em situações de emergência.

+ Leia também: A cirurgia digital e a integração homem-máquina na medicina

É importante dizer que eventos adversos não são necessariamente erros médicos, mas a recíproca é verdadeira: desde que gere algum dolo, o erro médico sempre configura um evento adverso.

Segundo a Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos, os erros médicos são a terceira maior causa de morte naquele país, depois das doenças cardiovasculares e do câncer.

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Ciente desse cenário, a OMS criou há quase duas décadas a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, que propõe medidas para mitigar o problema.

Algumas delas, direcionadas ao corpo clínico, chegam a ser óbvias, como lavar bem as mãos. Outras miram a manipulação mais cuidadosa dos remédios a fim de evitar trocas, doses incorretas, interações medicamentosas, etc.

É crucial traçar e aplicar estratégias gerais e locais para diminuir intercorrências que prejudiquem os pacientes. Só assim fazemos valer nosso juramento pelas palavras de Hipócrates: “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém”.

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*João Fernando Monteiro Ferreira é cardiologista, professor da Faculdade de Medicina do ABC e ex-presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

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