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Precisamos ampliar a diversidade entre os doadores de medula óssea

Médica explica por que doadores pretos e pardos são especialmente importantes no Brasil

Por Carmen Vergueiro, hematologista*
Atualizado em 31 out 2022, 13h28 - Publicado em 30 out 2022, 09h19
doação de medula óssea
Para se tornar um doador de medula óssea, o candidato deve primeiramente procurar um hemocentro do seu estado. (Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)
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No último dia 17 de setembro, celebramos o Dia Mundial do Doador de Medula Óssea, data criada com o objetivo de conscientizar sobre a importância da doação. É também uma boa oportunidade de reflexão sobre os desafios enfrentados pelos pacientes que aguardam a sua vez na fila para realização do transplante, indicado no caso de diversas doenças que afetam as células do sangue, como leucemia, linfomas, mieloma múltiplo, aplasia de medula e outras deficiências¹.

A medula óssea é o lugar onde são produzidos os componentes do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas. Em doenças como as leucemias e linfomas, um dos tratamentos indicados consiste na substituição da medula óssea doente, por células normais de medula óssea, que ajudarão a reconstituir uma medula saudável.

Mas, para que esse procedimento seja bem-sucedido, uma das chaves é a compatibilidade genética entre o doador e o paciente.

As chances de um indivíduo encontrar um doador ideal no núcleo familiar, sendo entre irmãos com mesmo pai e mesma mãe, é de 25%. Entretanto, quando não existe a possibilidade de doador na família, é necessário encontrar um não aparentado, o que faz com que as chances de compatibilidade caiam para 1 em 100 mil, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

+ LEIA TAMBÉM: Leucemia: o que é, causas, sintomas, diagnóstico e tratamento

No Brasil, existem mais de 5,5 milhões de doadores cadastrados no REDOME (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea), coordenado pelo INCA. No entanto, mais de 650 pacientes aguardam na fila por um doador sem parentesco familiar.

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O cenário nos mostra que, quanto mais doadores cadastrados, maior a chance de que a compatibilidade entre doadores e pacientes seja identificada.

No Brasil, a situação é agravada pela nossa imensa diversidade genética. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Nacional do Câncer (INCA), mostrou que, para indivíduos com ancestrais africanos, a chance de achar amostras compatíveis é até 75% menor comparado a pacientes com outro componente genético.

Isso é explicado pela grande variabilidade do DNA de indivíduos de origem africana, superior ao resto do mundo. Além disso, dos mais de 5 milhões de cadastrados no REDOME, apenas 397 mil voluntários que se autodeclararam pretos, comparado a 1,7 milhões de pessoas autodeclaradas pardas e 2,9 milhões de brancas, o que dificulta ainda mais a identificação de um doador compatível.

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Para mudar esse cenário, é muito importante termos mais pessoas pretas e pardas como doadoras voluntárias de medula.

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Para se tornar um doador, o candidato deve procurar um hemocentro do seu estado, ter entre 18 e 35 anos de idade e estar em boas condições de saúde.

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A partir daí, é solicitado o preenchimento de um termo de consentimento livre e esclarecido, e uma ficha com informações pessoais. Após esse processo, é retirada uma pequena quantidade de sangue (10 ml) do candidato a doador, para análise de compatibilidade e inclusão no banco de dados do REDOME. Caso haja um paciente compatível, outros procedimentos são realizados para viabilizar a doação.

Em um país como o Brasil, em que autodeclarados pretos e pardos respondem por mais de 56% da população, aumentar o número de doadores significa também contemplar toda a diversidade genética brasileira, e trazer novas perspectivas aos pacientes que aguardam um doador compatível para seguir o seu tratamento.

*Carmen Vergueiro é hematologista e coordenadora da Associação da Medula Óssea do Estado de São Paulo (AMEO).

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