Por que você não deve pular mais o café da manhã
Médico conta como um bom desjejum faz toda a diferença para termos uma alimentação balanceada e ganharmos saúde
O número de pessoas que deixa de tomar o café da manhã aumentou progressivamente nas últimas décadas. É um hábito que se tornou comum entre crianças, adolescentes e adultos.
Virou costume da sociedade brasileira quebrar o jejum de forma rápida e leve, normalmente com café com leite e pão na chapa com manteiga entre os adultos… e um leite com achocolatado para as crianças.
Não à toa, um número crescente de garotos e garotas chega à escola de estômago vazio, com dinheiro no bolso para comprar algum salgado só na hora do intervalo. Para boa parte dos brasileiros, o almoço é a primeira refeição substancial do dia.
Por que começamos o dia de estômago vazio? Muitas vezes por falta de tempo para preparar algo melhor ou por falta de apetite ao sair da cama. Existem pessoas que querem emagrecer e pulam a refeição como forma de cortar calorias. E outras que apenas desconhecem a importância dessa refeição.
Em primeiro lugar, tomar café da manhã é uma questão de bom senso. Você faria uma longa viagem de carro sem abastecer antes? Por ocasião do desjejum, o estômago está em melhores condições de digerir os alimentos do que na segunda ou na terceira refeição do dia. Após horas de jejum, o corpo necessita ser reabastecido com água e alimentos que forneçam energia, vitaminas e minerais para o desempenho de suas funções vitais.
Pesquisadores das áreas de nutrição e epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, estudaram o impacto do consumo do café da manhã em mais de 29 mil homens americanos. Conclusão: tomar o desjejum reduziu o risco de desenvolver diabetes tipo 2.
Outros estudos com adultos revelam que o consumo da primeira refeição do dia aprimora o metabolismo das gorduras, reduzindo o colesterol LDL (o “ruim”) e a taxa de triglicérides no sangue. Se o desjejum contar com alimentos ricos em fibras, como o pão integral ou a aveia, podemos observar melhora da função da insulina e menor aumento da glicemia após a refeição. Ou seja, proteção extra contra o diabetes.
Alimentar-se pela manhã também promove saciedade, o que leva ao melhor controle do apetite e, consequentemente, a um controle do peso mais adequado ao longo dos anos.
Na Espanha, cientistas estudaram durante seis anos 4 mil trabalhadores de meia idade. Usando tecnologia de ultrassom para identificar eventuais acúmulos de gordura nas artérias ou sinais iniciais de placas de gordura nos vasos sanguíneos, eles perceberam que as pessoas que consomem menos de 5% das calorias diárias recomendadas no desjejum têm em média duas vezes mais gordura nas artérias do que as que tomam um café da manhã com maior conteúdo calórico.
As crianças também sentem os benefícios, especialmente os cognitivos. Um desjejum com cereais integrais, capaz de fornecer um suprimento estável de glicose ao cérebro, ajuda a manter a performance mental durante uma manhã de aulas, sem contar que tende a melhorar as notas nas provas realizadas antes do almoço.
Frequentemente, quem não começa o dia com um bom café da manhã o termina com um jantar pesado e tarde, gerando um círculo vicioso. Um jantar farto é completamente antifisiológico, ou seja, desrespeita as necessidades energéticas do organismo. É pela manhã que precisamos de mais energia, e não antes de dormir. Além disso, o estômago esgotado pela hora–extra noturna não acorda disposto para receber alimentos logo cedo.
Para quebrar esse ritmo e incorporar o hábito da refeição matinal na sua vida, torne o momento do desjejum atrativo e prazeroso. Mude os alimentos, teste combinações diferentes. Coma menos à noite e deite uma hora mais cedo para acordar com disposição e tempo livre. Comece o dia bebendo um ou dois copos de água. Sente-se à mesa para um desjejum saudável e nutritivo. Você vai experimentar uma injeção de energia, com melhora da capacidade intelectual e uma boa dose de bem-estar.
* Dr. Luiz Fernando Sella é médico especialista em Medicina de Estilo de Vida, mestre em Saúde Pública pela Universidade Loma Linda (EUA) e diretor do Rituaali Clínica & Spa (RJ).