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O que o gengibre pode fazer pelo nosso cérebro

Pesquisadora explica os potenciais benefícios do alimento para a memória e diante de problemas como Alzheimer, Parkinson e AVC

Por Tailise Souza, PhD em biologia molecular*
Atualizado em 25 ago 2019, 14h47 - Publicado em 25 ago 2019, 14h47
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  • A ciência do envelhecimento tem avançado rapidamente e feito importantes descobertas sobretudo na área das doenças neurodegenerativas. Hoje já entendemos melhor os mecanismos por trás de problemas como Parkinson e Alzheimer, o que facilita a busca por compostos farmacológicos úteis à prevenção e ao tratamento. Nesse contexto, o gengibre, uma raiz utilizada há séculos pela medicina tradicional oriental, vem atraindo a atenção de pesquisadores e especialistas por apresentar potencial terapêutico frente a doenças neurológicas associadas ao avançar da idade.

    Em uma revisão de estudos publicada em 2018 no periódico Pharmacology and Therapeutics, os cientistas destacam propriedades do gengibre capazes de combater males como o Parkinson e Alzheimer, bem como a perspectiva de o alimento melhorar a memória e reduzir a severidade dos danos causados por um acidente vascular cerebral (AVC).

    De onde vem o efeito?

    Antes de visualizar de que modo o gengibre pode repercutir no cérebro, precisamos entender os fenômenos que dão origem às doenças neurodegenerativas. O Alzheimer é caracterizado pela formação de placas beta-amiloide, que destroem progressivamente os neurônios, e pela redução do neurotransmissor acetilcolina. O nome é complicado, mas basta dizer que neurotransmissores são substâncias responsáveis pelo transporte de informação em nosso cérebro. A acetilcolina está particularmente relacionada ao aprendizado e à memória.

    Pois experimentos de laboratório, em células e animais, demonstram que o extrato de gengibre diminui o acúmulo das tais placas beta-amiloide e minimizam a atividade de uma enzima que degrada a acetilcolina. O resultado: melhora nas funções cognitivas e redução da perda de células nervosas.

    Na doença de Parkinson, por sua vez, há uma degradação dos neurônios que liberam outro neurotransmissor, a dopamina. Ela está diretamente envolvida com as funções motoras: sua insuficiência pode levar, portanto, a tremores, dificuldades ao caminhar etc. Estudos em modelo animal apontam que o gengibre também atua na redução da destruição desses neurônios, preservando e otimizando a capacidade motora das cobaias com Parkinson.

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    No caso do AVC isquêmico, o problema ocorre com a obstrução de uma artéria no cérebro que interrompe o fornecimento de sangue para um grupo de neurônios. Isso desencadeia danos oxidativos nesse órgão e a morte de células. Nos experimentos, o tratamento com extrato de gengibre combate o estresse oxidativo e diminui os danos aos neurônios. Na prática, isso atenua déficits físicos e comportamentais originários do AVC.

    À parte os efeitos positivos diante de doenças neurológicas, existem indícios de que o gengibre pode melhorar a memória de pessoas saudáveis. Em pesquisa feita com mulheres, o consumo do extrato da raiz trouxe ganhos cognitivos: as voluntárias que consumiram gengibre apresentaram desempenho superior em testes de memória espacial e numérica, tempo de reação e reconhecimento de palavras.

    Pensando em obter esses benefícios, o conselho por ora é usar a raiz como tempero ou na forma de chá — lembrando que o gengibre não substitui nenhum tratamento prescrito pelo médico. Nos dias mais frios, a infusão feita com a raiz dá aquela sensação de aconchego e ainda turbina a memória. Na temporada de calor, um smoothie com lascas de gengibre é refrescante e revigorante.

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    Uma recomendação importante é conversar com o profissional de saúde antes de usá-lo no dia a dia. Alguns compostos encontrados na raiz podem potencializar a ação de medicamentos que atuam na coagulação sanguínea, por exemplo. É com orientação e sem exageros que tiramos o melhor proveito desse alimento reverenciado há tanto tempo.

    *Tailise Souza é PhD em biologia molecular pela Universidade de Warwick, no Reino Unido, e pesquisadora na área de envelhecimento

     

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