No passado, a telemedicina era controversa por não existir regras claras sobre seu melhor uso e condução – e, portanto, tinha pouca aceitação. Mas aí surgiu uma doença estranha em forma de uma pneumonia que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerar a situação, em março de 2020, como pandêmica, com recomendação de isolamento social.
De um momento a outro, empresas interromperam seus serviços na tentativa para evitar propagação ainda maior da Covid-19 (era o “novo coronavírus” da época). A saúde sofreu um impacto: hospitais ficaram lotados e as equipes, sobrecarregadas. Com isso, a telemedicina passou a ser uma alternativa para a população ter acesso aos médicos, inclusive para exames e consultas de maneira regular.
Com a aprovação da Lei nº 13.989/2020, surgiram plataformas de teleconsultas e, consequentemente, o segundo desafio: a necessidade de o paciente receber uma receita médica ou um pedido de exames. As plataformas e emissão de receitas precisavam de uma validação segura e foram desenvolvidas para todos os atores, como pacientes, profissionais de saúde e farmácias.
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Isso fez com que as certificações digitais se expandissem para atender a demanda. Houve também a necessidade da regulamentação pelos órgãos de classe, onde seria esclarecida cada modalidade de atendimento virtual, bem como o que não poderia ser feito no âmbito da teleconsulta.
Dessa forma, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e demais órgãos desenharam as resoluções que regulamentaram a telessaúde no Brasil e, ao longo desses anos, as normas foram refinadas de acordo com os avanços da tecnologia.
Segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital, conhecida como Saúde Digital Brasil (SDB), entre 2020 e 2021, mais de 7,5 milhões de atendimentos foram realizados por mais de 52,2 mil médicos via telemedicina no Brasil.
Desses, 87% foram das chamadas primeiras consultas, evitando deslocamentos desnecessários ao permitir identificar, por meio de exames prévios também realizados remotamente, a necessidade de um atendimento em uma unidade hospitalar.
Vale ressaltar também uma pesquisa realizada pela Sinch com cerca de 2 800 pessoas de mais de 40 países, que apontou que 43% dos brasileiros usaram a telemedicina durante a pandemia da Covid-19. Essa é a terceira maior taxa de adesão, ficando atrás apenas da Índia (65%) e dos Estados Unidos (48%).
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O desenvolvimento da vacina trouxe alívio para que a vida pudesse voltar ao normal de maneira gradual. Em paralelo, a telessaúde tornou-se aliada no cuidado em diferentes cenários: idosos com mobilidade reduzida, pacientes em cuidados paliativos e fases terminais por diversas doenças, crianças neurodivergentes, entre outros.
Ainda há um vasto mundo sendo desbravado, com o uso de cabines de atendimento em empresas, atendimentos de pacientes que desejam um cuidado mais imediato, como também as diversas aplicabilidades no setor público – levando cuidado a áreas remotas (como comunidades indígenas) e atendendo pessoas em programas de saúde da família.
Por meio de um olhar mais atento, surgiram dispositivos móveis que aliam tecnologia e segurança, capazes, por exemplo, de permitir que o exame físico seja realizado, inclusive com possibilidade de escutar sons pulmonares e cardíacos. Isso torna a teleconsulta ainda mais completa.
A pandemia gerou sofrimentos e perdas irreparáveis, o que, por outro lado, acelerou a passos largos o desenvolvimento, a regulamentação, a implementação e o aperfeiçoamento da telessaúde para que, cada vez mais, a distância a um atendimento de qualidade seja encurtada de maneira segura e eficaz.
*Daniel S. Morel é oncologista e diretor médico da Tuinda Care