As doenças inflamatórias intestinais (DIIs), são condições autoimunes que afetam hoje, no Brasil, quase 250 mil pessoas. Classificam-se em doença de Crohn e colite ulcerativa. Elas costumam exigir o uso de medicamentos pelo resto da vida do paciente, mas a alimentação também é relevante no controle das DII.
Os cuidados com a dieta podem minimizar sintomas — como dores, diarreia, prisão de ventre, sangramentos, falta de apetite, vômitos etc. —, melhorar a resposta a medicamentos alvo e o prognóstico de cirurgias, reduzir o uso de corticoides, diminuir o risco de obesidade e, especialmente, manter a doença em remissão.
Não sabemos a causa específica das DIIs. Existe uma predisposição genética, mas é inegável que o estilo de vida dos últimos 100 anos e as mudanças nos hábitos alimentares também têm uma contribuição forte, sendo este um possível mecanismo de prevenção das DII.
A má alimentação, por outro lado, é associada ao pior prognóstico dessas doenças, que têm taxas de incidência de cirurgia de, em média, 30%.
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Dieta para pacientes com DIIs
Enquanto os medicamentos fazem o seu trabalho, ajustes no cardápio são bem-vindos.
A dieta deve priorizar carnes magras de vários cortes, aves, peixes, vegetais de todo tipo, ovos, leite, iogurtes e queijos, frutas, sementes, grãos e um aporte adequado de água. Tudo livre de corantes, aromatizantes, espessantes ou antioxidantes.
Alimentos ultraprocessados com muitos aditivos químicos devem passar longe do dia a dia destes pacientes. Eles são pró-inflamatórios nas DIIs.
O modelo ideal seria o estilo de vida da dieta mediterrânea, mas nem sempre os pacientes toleram todos os alimentos propostos. É aí que entra o nutricionista com expertise em DII. Quando o paciente recebe a orientação de um profissional que não é realmente especializado, tende a fazer exclusões de alimentos que não têm relação com os seus sintomas.
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Os mitos alimentares propagados nas redes sociais e entre grupos de pacientes levam a um terror nutricional que pode afetar até a saúde mental do indivíduo.
Exclusões de lácteos, lactose, glúten ou adoção de dietas low carb, FODMAP, sem orientação de um nutricionista especializado podem levar à desnutrição, que já é inerente ao processo inflamatório das DII.
Quando esse quadro se ativa em forma máxima, pode diminuir a resposta a certos tratamentos e trazer outras complicações, como o maior tempo de internações e a antecipação de cirurgias que poderiam até ser evitadas.
Vale alertar ainda que não há suplementação mágica e universal para todos os doentes. A individualidade do caso precisa ser analisada para permitir que a pessoa mantenha sua autonomia alimentar e a vida social o mais próximo do normal possível.
O medicamento é a principal arma de controle das DII, mas quem “ajusta a mira” é a alimentação.
*Verenna Melo, nutricionista especialista em DII, membro do European Crohn´s and Colitis Organisation (Ecco) e paciente com Doença de Chron