A epilepsia é uma doença neurológica crônica caracterizada pela ocorrência de crises epilépticas recorrentes – o que leva a consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais.
Estima-se que ela acometa de 1 a 3% da população mundial, e que nos países em desenvolvimento esta cifra possa chegar a 2%. No Brasil, acredita-se que entre 1,8 e 3,6 milhões de pessoas convivam com a epilepsia.
A causa da doença é variável, podendo ser congênita ou adquirida. Em alguns casos, a origem é desconhecida.
As crises epilépticas ocorrem devido a uma descarga elétrica excessiva de um grupo de células nervosas (os neurônios), localizado em uma dada região do cérebro. Esses episódios são inicialmente classificados como focais ou generalizados.
As crises focais são aquelas que se originam em uma região limitada de um hemisfério cerebral. Elas podem gerar (ou não) alteração da consciência ou alerta.
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As crises generalizadas são aquelas que se originam em algum ponto do cérebro e rapidamente se difundem, atingindo os dois hemisférios cerebrais ao mesmo tempo.
O que acontece durante a crise
As manifestações clínicas das crises epilépticas são variáveis, porque dependem da região onde essa descarga se localiza e se propaga.
Assim, elas podem se apresentar de diferentes maneiras: podem ser rápidas ou prolongadas; com ou sem alteração da consciência; com sintomas motores, sensitivos ou sensoriais; únicas ou em salvas; exclusivamente em vigília ou durante o sono; precedidas ou não por aura (sensação referida pelo paciente).
Como a epilepsia é tratada
O tratamento da epilepsia é feito basicamente com medicamentos, os fármacos anticrises.
A escolha do remédio adequado depende de muitos fatores, que envolvem características das crises epilépticas e também do paciente.
Novos fármacos têm sido lançados recentemente, levando à necessidade de constantes atualizações. Eles são baseados na modificação de moléculas já existente ou são realmente novas moléculas.
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Alguns apresentam melhor desempenho em termos de eficácia e/ou tolerabilidade.
Diante disso, a Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, a SBNI, deverá rever esse tema em setembro de 2023, em seu 230 Congresso.
Com o controle das crises, espera-se que a pessoa com epilepsia tenha uma vida com o mínimo possível de restrições.
No entanto, devido ao risco de vida oferecido, algumas atividades devem ser evitadas, especialmente no início do tratamento. De forma geral, esportes radicais como voo, paraquedismo, asa delta, alpinismo, mergulho, surfe e esportes motorizados podem ser contraindicados.
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A natação é liberada, especialmente se as crises epilépticas estiverem controladas, e de preferência sob supervisão individual.
Quando as crises epilépticas não puderem ser controladas com dois fármacos em doses máximas, a epilepsia é considerada refratária.
Adultos e crianças com epilepsia refratária devem ser encaminhados a centros especializados em epilepsia para avaliar a possibilidade de outras terapias, incluindo o tratamento cirúrgico.
*Maria Luiza Manreza é médica supervisora do Serviço de Neurologia Infantil do Hospital das Clínicas de São Paulo e Presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil.