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Menos invasiva, cirurgia robótica pode ajudar na pandemia de coronavírus

Esse tipo de operação oferece algumas vantagens nesse momento atual, especialmente no contexto do tratamento contra o câncer

Por Gustavo Guimarães, cirurgião oncológico*
21 jul 2020, 17h58
cirurgia robótica
Cirurgia robótica é menos invasiva e tem recuperação mais rápida  (Ilustração: Rodrigo Damati/SAÚDE é Vital)
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No contexto de transformações impostas pela pandemia do novo coronavírus, está a redução de cirurgias em pacientes com câncer. Mas os tumores não têm a sua evolução freada pela Covid-19. Ao contrário: deve haver um número maior de pessoas sendo operadas nos próximos meses para retirada de tumores maiores e mais agressivos, aumentando a complexidade do procedimento.

Dentre os pilares do tratamento oncológico, a cirurgia é justamente a mais indicada. Estima-se que oito de cada dez pacientes passam por algum tipo de cirurgia de câncer em algum momento. Me refiro desde a uma simples biópsia para investigação do tumor até procedimentos mais extensos e até mesmo paliativos.

Para atender a essa demanda reprimida, os serviços de saúde estão se estruturando com fluxos seguros. Para cada caso, define-se qual é a melhor diretriz de tratamento, com menor risco possível de contaminação. Quando o assunto é cirurgia, o procedimento pode ser convencional (cirurgia aberta) ou laparoscópico (por vídeo, guiado ou não por robótica).

Quando indicada, a cirurgia robótica tem os seus diferenciais ressaltados em cenário de pandemia: menos invasiva, menos sangramento, recuperação mais rápida e menor tempo de internação. Isso significa que o paciente pode voltar antes para o isolamento domiciliar, entre outras vantagens.

Essa tecnologia propicia movimentos precisos, visão em 3D e completa imersão em partes do corpo humano jamais vistas a olho nu. Com isso, hoje é comprovadamente eficaz para diferentes tipos de tumores, sendo que as indicações mais frequentes envolvem homens com câncer de próstata.

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Participei de um estudo que incluiu pacientes com diagnóstico de tumores prostáticos, publicado no Journal of Endourology em novembro de 2019. O trabalho é uma análise retrospectiva com 1 088 indivíduos operados entre maio de 2013 e dezembro de 2017 por meio de duas técnicas de cirurgia robótica. Entre os resultados do estudo, demonstramos que 75% dos homens submetidos à técnica robótica extraperitoneal (que não invade a cavidade abdominal), com ultrapreservação das estruturas, conseguiram recuperar a função erétil em até um ano após o procedimento. O tempo médio de recuperação foi de 9,4 meses.

É notório o impacto da pandemia de Covid-19 no tratamento de pacientes oncológicos em todo o mundo. Pesquisadores da Universidade de Birmingham aplicaram um questionário junto a 359 hospitais de 71 países para descobrir que, globalmente, mais de 28 milhões de cirurgias eletivas foram ou serão canceladas como efeito da pandemia. Dessas, a grande maioria será para tratar tumores benignos. Porém, 2,3 milhões de cirurgias para nódulos malignos estão na conta dos procedimentos adiados por lá.

No Brasil, o impacto também foi sentido. Cerca de 7 entre 10 cirurgias foram adiadas nos três primeiros meses de isolamento social no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). Precisamos estar preparados para saber selecionar os pacientes que se beneficiarão mais das técnicas minimamente invasivas, embora possam apresentar tumores mais avançados.

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Curva de aprendizado do cirurgião

Além de minimamente invasiva e dos benefícios que isso resulta ao paciente, a cirurgia robótica traz um novo cenário para o aprendizado do cirurgião. A curva é acelerada, algo essencial nesse cenário de pandemia. Isso porque o profissional pode realizar treinamentos, com grande intensidade, em simuladores, inclusive em ambiente remoto.

Não há também a necessidade de treinar técnicas cirúrgicas usando animais. No simulador, o paciente é virtual, mas os movimentos são reais e o cirurgião só avança ao módulo seguinte quando mostra destreza e comprova que fará o procedimento com eficácia e segurança para o paciente.

Outra boa notícia é que há, cada vez mais, profissionais dedicados a ensinar a técnica robótica. O mercado apresenta cursos de capacitação e pós-graduação. Além disso, institutos e universidades estão se estruturando para ampliar a oferta de treinamento, seguindo as recomendações das sociedades médicas de especialidades, da Associação Médica Brasileira (AMB) e do Conselho Federal de Medicina (CFM).

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A evolução da cirurgia robótica traz benefícios para a saúde do paciente, para a formação de médicos e também tem impacto positivo na sustentabilidade dos negócios das instituições que adotam a tecnologia. Uma eficiência que se mostra ainda mais valiosa neste cenário pandêmico.

*Gustavo Guimarães é cirurgião oncológico, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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