A halitose, popularmente conhecida como mau hálito, acomete cerca de 40% da população, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Falamos de uma situação que, mesmo com escovação, enxaguantes bucais, chicletes ou balas, resiste a ir embora. E que compromete bastante a vida de quem sofre com ela, provocando timidez, vergonha, problemas de relacionamento, entre outros desequilíbrios emocionais.
A grande questão que envolve o mau hálito crônico é que ele não só não some como pode piorar se não for tratado corretamente. Sua origem é multifatorial e, em 90% dos casos, está na cavidade bucal. Entre os motivos, estão a má higienização dos dentes (ou de próteses e implantes), gengivite e periodontite, cáries já instaladas, baixa ingestão de água e produção de saliva etc.
Sabemos que dietas restritivas e o uso de alguns medicamentos (caso dos anticoncepcionais) podem deixar o hálito com um cheiro de acetona entre algumas pessoas, assim como há relatos de alterações no período da menstruação, devido às oscilações hormonais.
Há também o bafo relacionado à alimentação, que pode ser temporário e ocorrer após a ingestão de algumas comidas e temperos, como alho e cebola. Quem fica mais de quatro horas em jejum também tende a sentir um odor diferente saindo da boca. E pessoas que bebem pouca água e estão com baixa produção de saliva costumam ter maior formação de saburra, aquela placa esbranquiçada na língua que leva ao mau hálito.
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Há, ainda, uma situação mais incomum, a pseudohalitose. Aqui, a pessoa afirma ter mau hálito, mas isso não é detectado em testes. Uma espécie de ilusão psicológica.
Ao redor de 9% dos casos de halitose estão associados a uma profusão de distúrbios não restritos à boca. Entram na conta problemas respiratórios e na garganta, como sinusite e amigdalite. Disfunções hormonais como diabetes. Doenças do aparelho digestivo, como refluxo e úlcera duodenal. E mesmo o mau funcionamento do fígado.
Na pandemia, o uso da máscara contra a Covid-19 fez mais gente sentir de forma clara o mau hálito, já que os gases expirados ficam presos e em contato com o nariz. Vale ressaltar, contudo, que a pessoa pode estar com halitose e, mesmo de máscara, não sentir nada errado, o que acontece devido à fadiga olfatória, quando o indivíduo se acostuma com o próprio cheiro.
Nada disso significa que se deve deixar a máscara de lado ou tentar esconder o bafo por meio dela. É preciso, na verdade, procurar um dentista capacitado em halitose. Ele vai examinar as queixas e os hábitos do paciente e utilizar aparelhos modernos que auxiliam a detectar e identificar os gases da boca. Tudo isso para fazer o diagnóstico correto.
O tratamento passa por uma orientação na higiene bucal, com creme dental específico, uso de fio dental, escova e limpador de língua para evitar o acúmulo de bactérias e restos alimentares na cavidade bucal. Passa por ajustes na rotina como a quantidade ideal de ingestão de água por dia de acordo com o peso do paciente. E envolve a remoção da saburra lingual, da placa bacteriana, do tártaro, de cáries ou cáseos amigdalianos (formações esbranquiçadas e malcheirosas na garganta).
Dependendo do caso, podemos recorrer a tecnologias como laserterapia e terapia fotodinâmica e partir para uma abordagem multidisciplinar, que contemple, além do dentista, médicos (otorrino, gastroenterologista…), psicólogo, entre outros profissionais.
E é possível prevenir a halitose? A prevenção passa por evitar aquelas causas citadas, mudança de hábitos, uma boa higiene bucal e o check-up médico e odontológico. Lembre-se: ninguém precisa conviver (e sofrer) com o mau hálito.
* Bruna Conde é cirurgiã-dentista, pós-graduada em periodontia, cirurgia plástica periodontal e disfunção temporomandibular. É membro da Associação Brasileira de Halitose (ABHA) e da Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS)