Frio ou calor: o que é melhor para a dor? Essa é uma pergunta frequente no meu dia a dia e a resposta não é tão simples assim.
Da mesma forma que a dor é subjetiva e individual, e cada um a sente de maneiras distintas, a aplicação da termoterapia também varia um pouco conforme o gosto do freguês.
Calma, eu disse “um pouco”. Os profissionais de saúde têm critérios que nos guiam na hora de orientar um alívio eficiente. Vamos conhecer um pouco mais sobre esses parâmetros.
Em primeiro lugar, a termoterapia é uma aliada fenomenal — barata, acessível, gentil e sem grandes complicações. É um analgésico potente.
As formas mais conhecidas são gelo e bolsa de água quente, ambas na variação sólida. Geralmente é a mesma bolsinha que, quando colocada no freezer, é gelo, quando imersa em água quente ou colocada no micro-ondas é calor.
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Qual é o efeito do gelo no alívio da dor? E como aplicar?
O efeito analgésico do frio vem da vasoconstrição — ou seja, a baixa temperatura reduz a circulação no local por meio da contração de pequenos músculos dentro dos vasos sanguíneos que o abastecem e aumenta o fluxo ao seu redor.
Vemos com frequência a aplicação de gelo no local da lesão de um atleta, por exemplo, ainda durante uma partida ou competição. Essa é uma medida analgésica rápida e eficiente. No momento do impacto, há um aumento do fluxo de sangue para o local para lidar com o processo inflamatório que se iniciou ali. O edema, a inflamação e o inchaço são os resultados desse mecanismo.
Junto com isso, vem a dor, não importa se houve uma fratura, estiramento ou rompimento, esse processo irá acontecer nas suas devidas proporções. O gelo restringe a chegada do fluxo sanguíneo e também reduz as atividades neurais que bloqueiam os impulsos nervosos da dor, promovendo uma analgesia local.
Regras básicas para usar gelo no alívio da dor:
- Não coloque gelo puro sobre a pele, pois ele pode queimá-la. Sempre use uma barreira de tecido fino ou plástico;
- Se o gelo não estiver envolvido por nada, proteja a ponta dos dedos e segure-o massageando com movimentos circulares no local desejado, por 3 a 5 minutos;
- Se o gelo estiver em um saco plástico, mantenha-o por 10 minutos. Se estiver em uma camiseta ou toalha, por 15 a 20 minutos.
Por que o calor alivia a dor?
Quando usamos o calor fazemos o contrário: promovemos uma vasodilatação no local, com um aumento no volume de sangue nos tecidos, trazendo mais nutrientes e oxigênio.
A temperatura alta traz mais nutrientes e oxigênio para a região. Promove relaxamento, uma sensação prazerosa e um conforto.
Fisiologicamente, essa abundância do fluxo sanguíneo geralmente estimula a restauração do tecido traumatizado, trazendo uma rápida recuperação, aliviando a tensão local e a dor.
Regras básicas para usar o calor no tratamento da dor:
- Nunca coloque a bolsa de água quente direto na pele: proteja a mesma com uma toalha ou fronha para evitar queimaduras;
- Não se deite em cima da bolsa porque o peso do corpo pode fazer com que ela estoure e cause queimaduras;
- Faça a compressa por 20 a 30 minutos no máximo;
- Monitore a pele e sua tolerância ao calor;
- Se a sensibilidade do local tiver algum comprometimento (para mais ou para menos) o calor pode machucar a pele. Fique de olho.
Se o local dolorido for de difícil aplicação do calor ou do frio, como o cotovelo ou o ombro, existem suportes com velcro específicos para isso. Caso não os tenha, improvise usando um tecido, camiseta ou toalha e amarre a bolsa no local desejado para trazer estabilidade, segurança e conforto.
Existe ainda a possibilidade de combinar as técnicas. Nesse caso, fazemos uma imersão em água fria e depois em água quente, promovendo uma espécie de bombeamento do fluxo sanguíneo que também tem seus benefícios terapêuticos, dependendo do objetivo.
O que diz a ciência
Uma meta-análise (estudo que analisa e quantifica o resultado de outras pesquisas) realizada em 2022, analisa os efeitos das terapias de frio e calor em pacientes com dor muscular de início tardio. Ou seja, a sensação de desconforto e/ou dor que aparece algumas horas após a prática de exercício ou depois de realizar movimentos fora do padrão, aqueles aos quais a pessoa não está acostumada.
Sabe quando você muda o treino, ou vai ajudar aquele amigo a fazer uma mudança, carrega algumas caixas pesadas, ou faz uma trilha mais longa do que de costume ou fica muito em pé por razões inespecíficas? São situações como essa que podem provocar essa dor muscular tardia.
Enfim, o autor da meta-análise diz que, nestes trabalhos analisados, foi comprovado que o calor é eficaz na redução da dor lombar aguda e inespecífica. No entanto, diz que o frio ocupa o primeiro lugar e tem melhor efeito analgésico.
Mas os estudos encontraram um porém: a terapia com gelo não é agradável para quem a usa. Ela causa desconforto na sua aplicação, influenciando o resultado da analgesia. Já o calor traz conforto e é melhor tolerado.
Em suma, a conclusão é de que dentro das primeiras 24 horas após o exercício a compressa quente foi a mais eficaz no alívio da dor.
A terapia com água contrastada ficou em segundo lugar, mais eficiente 48 horas após o exercício. A partir de 48 horas após o exercício, o gelo foi o campeão.
As informações são boas, não são? Reforçam que é importante sempre avaliar e decidir caso a caso.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppComo escolher entre frio e calor?
Se tiver dúvidas siga o seguinte raciocínio:
Machucou, caiu, bateu, inchou? Gelo na hora. Proteja a região afetada com um tecido fino e mantenha o gelo por 20 minutos. Fique de olho para não queimar a pele.
Fez atividade física mais forte ou diferente? Use o calor nas primeiras 24 a 48 horas e gelo após esse período. Se o local está inchado, use o frio.
Está em tratamento, se recuperando de alguma lesão ou sofrendo de dor crônica? Converse sempre com seu terapeuta e decida com o profissional qual é a melhor termoterapia a ser usada.
Outro parâmetro importante é a sua percepção — observe o que de fato alivia sua dor. Ah, e não abuse da termoterapia, use com moderação e de forma que traga alívio.
* Mariana Schamas é cinesiologista, pós-graduada em dor, criadora do método ECAD e aplicativo DOLORI.