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Estudos sobre câncer ignoram a comunidade LGBTQIAPN+

Invisibilidade decorre do fato de que a maioria das pesquisas não aborda a identidade de gênero e a orientação sexual dos participantes

Por Maria Julia Calas, mastologista, e Sabrina Chagas, oncologista, ambas da Oncologia D’Or*
Atualizado em 3 abr 2024, 16h09 - Publicado em 3 abr 2024, 10h25
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Falta de olhar para pessoas da comunidade LGBTQIAP+ em estudos pode comprometer o tratamento do câncer. (Montagem: Veja Saúde/Veja Saúde)
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Há tempos, existe uma corrida entre os pesquisadores para diversificar as abordagens terapêuticas e ampliar a gama de medicamentos contra o câncer. Apesar desses avanços, uma população inteira é ignorada pela comunidade de estudiosos de oncologia: a LGBTQIAPN+.

A literatura médica peca pela escassez de estudos sobre o câncer nessa comunidade. E quais as consequências dessa invisibilidade? São muitas. 

A falta de informações resulta no desconhecimento dos riscos de câncer específicos dessa população, na dificuldade de criação de estratégias de prevenção e na inadequação das diretrizes do tratamento. É importante lembrar que as terapias frequentemente variam segundo o grupo de pessoas e a inexistência de dados pode limitar a eficácia dos protocolos de tratamentos.

Como grande parte dos registros médicos não informa a orientação sexual e a identidade de gênero da população, há carência de dados sobre incidência e mortalidade da comunidade LGBTQIAPN+, como aponta o recém-publicado relatório Cancer Facts and Figures, produzido pela Sociedade Americana de Oncologia. 

No Brasil, como em outras partes do mundo, essa comunidade representa uma fatia importante da população. Aqui, 12% dos adultos se declaram assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. São 19 milhões de pessoas, das quais 3 milhões se identificam como transgêneros e de gênero não binário. 

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+Leia também: Pequenos heróis, grandes desafios: o combate ao câncer infantil no Brasil

Segundo aquele relatório da Sociedade Americana de Oncologia, as pessoas das comunidades LGBTQIAPN+ têm maior probabilidade de serem tabagistas e consumirem álcool em excesso, que são fatores de risco  já conhecidos que aumentam a vulnerabilidade ao câncer. 

Também há certos tipos de câncer que ocorrem de forma desproporcional nessa população. Entre eles estão os causados por doenças sexualmente transmissíveis, como o HPV, que é um fator de risco para os tumores no ânus e no colo do útero, por exemplo. 

Um estudo norte-americano apontou maior incidência de câncer colorretal em áreas com grande densidade de homens bissexuais e lésbicas e de câncer de pulmão em regiões com alta taxa populacional de homens gays e mulheres bissexuais.

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Já o uso de hormônios para a afirmação de gênero tem o potencial de elevar o risco de cânceres hormônio-dependentes, como o de mama, na população transgênero. Na falta de diretrizes, um estudo brasileiro apresentou propostas de rastreio do câncer de mama nesses indivíduos. 

Os homens trans com tecido mamário natal ou residual devem seguir as diretrizes para mulheres cisgênero. Já o rastreamento mamográfico da população transgênero feminina precisa ser feito após cinco anos de uso hormonal. Ainda não há consenso sobre a idade de início e o término dessa triagem.

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Outra questão que ultrapassa fronteiras é a falta de preparo dos profissionais para prestar cuidados a essa comunidade, que já enfrenta barreiras sociais, culturais e econômicas para ter acesso aos serviços de saúde. O receio da discriminação leva boa parte desses indivíduos a evitar os exames preventivos, resultando no diagnóstico tardio, no tratamento da doença em fase avançada e, em muitos casos, na morte prematura.

Aprofundar o olhar para a comunidade LGBTQIAPN+ é fundamental para que esses pacientes deixem de ser invisíveis para os sistemas de saúde, façam o rastreio e, quando necessário, o tratamento contra o câncer.  Autores de um estudo norte-americano sugerem que as equipes clínicas melhorem os cuidados com essa população. 

Entre as ações recomendadas estão a criação de um ambiente acolhedor, a coleta de dados sobre a orientação sexual e a identidade de gênero para propiciar cuidados individualizados e o uso de linguagem inclusiva para compreensão das relações familiares e rede de apoio dos pacientes.

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*Maria Julia Calas, mastologista da Oncologia D’Or e presidente da Sociedade de Mastologia do Rio de Janeiro, e Sabrina Chagas, oncologista da Oncologia D’Or e vice-presidente do Instituto Nosso Papo Rosa.

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