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Endometriose profunda causa dor mais forte e maior risco de infertilidade

Doença prejudica a saúde física e mental da mulher, abalando sua qualidade de vida. Quando diagnóstico demora, a cirurgia pode se tornar a única solução

Por Mauricio Abrão, ginecologista*
3 mar 2023, 15h26
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  • Março é o mês de conscientização da endometriose, doença caracterizada pelo implante de um tecido semelhante ao que reveste a cavidade do útero, fora do útero.

    O problema afeta uma em cada 10 mulheres no Brasil, sendo 7 milhões de casos por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre as consequências do quadro estão dor e dificuldade para engravidar.

    Um estudo brasileiro, publicado na revista científica Reproductive Sciences, constatou que a endometriose profunda, conhecida por provocar lesões com mais de 5 milímetros de profundidade e nódulos de vários tamanhos, tem sido associada a sintomas de dor ainda mais intensa e um risco maior de infertilidade.

    A contribuição do artigo para a medicina foi tanta que ele até recebeu uma menção por ter sido o mais lido no último ano.

    A análise contou com a participação de 1 116 mulheres, que responderam a um questionário sobre seus sintomas e a infertilidade, sendo um dos maiores estudos mundiais já realizados sobre o tema.

    Posteriormente, elas foram submetidas à laparoscopia para tratamento da doença em dois centros de referência entre os anos de 2009 e 2019.

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    + Leia também: Novas luzes sobre a endometriose

    Os achados apontaram que, para 76,5% das participantes, o sintoma mais frequente da endometriose profunda foi a dismenorreia (ou seja, cólica aguda durante a menstruação).

    Em seguida, 44,2% se queixaram da dispareunia de profundidade, que é a dor profunda durante a relação sexual, e 36,6% reclamaram da dor pélvica, que não tem relação com o período menstrual.

    A endometriose profunda pode ocorrer em locais distantes, como o pulmão, mas ocorre principalmente em ligamentos, em vários órgãos da cavidade abdominal e intestinos.

    Tanto que a região posterior ao útero (retrocervical) aparece em primeiro lugar no ranking das áreas mais acometidas pela doença, com 75,3%. Foram seguidos por focos no peritônio (64,6%), uma membrana que reveste a cavidade abdominal, e no retossigmoide (47,7%), parte do intestino que tem o cólon e o início do reto.

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    Outro ponto do estudo é a questão da infertilidade, que esteve presente em 41,9% das mulheres investigadas.

    O problema pode ocorrer por conta de alterações hormonais e/ou imunológicas ou ainda quando a doença acomete as tubas uterinas, responsáveis por levar o óvulo ao útero.

    A endometriose é uma enfermidade crônica e ainda é considerada pela OMS como um problema de saúde pública por conta das dores que impactam na rotina pessoal e profissional, deixando a portadora da doença mal fisicamente e mentalmente.

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    Sentir dor não é normal

    Por isso, a pessoa não pode postergar a consulta. Para ter ideia, hoje, o diagnóstico leva muito tempo, entre sete a 12 anos.

    Essa identificação tardia pode levar a doença a se espalhar e causar aderências, que só são corrigidas com cirurgias, seja para a remoção de órgãos ou parte deles, como útero, ovário, bexiga e intestino.

    Por outro lado, existem vários tratamentos, que vão depender dos sintomas e estágio da doença – entre as opções estão uso de hormônios e analgésicos ou anti-inflamatórios. Mas a laparoscopia e a cirurgia robótica são as únicas formas de remover os focos da doença.

    É importante ainda contar com uma abordagem integrativa, que inclua apoio psicológico, dieta anti-inflamatória, a prática de atividade física e mesmo métodos complementares, como a acupuntura.

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    Quando a endometriose é bem tratada e acompanhada, a portadora tem uma excelente qualidade de vida, chegando, inclusive, a voltar a ter grandes chances de engravidar.

    *Mauricio Abrão é ginecologista, professor de Ginecologia da Universidade de São Paulo, coordenador do setor de Ginecologia Avançada da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, e o primeiro médico de fora dos Estados Unidos a assumir a posição global da Associação Americana de Ginecologia Laparoscópica (AAGL), a maior Sociedade Médica mundial de Cirurgia Ginecológica

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