O cenário da pesquisa clínica no Brasil fez avanços significativos ao longo das últimas décadas. Vivemos hoje em um país que possui relevâncias demográfica, econômica e de diversidade populacional necessárias para ascender cientificamente, além de possuir o sexto maior mercado farmacêutico no mundo.
Contudo, ainda ocupamos a 20ª posição no ranking mundial de pesquisa clínica. É possível transformar esse cenário. A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), responsável por esse levantamento, reconhece que o país pode subir dez posições na lista, o que coloca luz nas inúmeras oportunidades de expansão e investimento que podemos impulsionar.
Os benefícios são inúmeros: muito além do desenvolvimento de novos medicamentos e tecnologias em saúde, os pacientes são beneficiados diretamente ao olharmos para necessidades ainda não atendidas, desenvolvermos a classe médica do país, além de fomentarmos o crescimento econômico, gerando uma participação mais ativa da sociedade no campo da saúde e do bem-estar.
Por fim, o incentivo à pesquisa clínica nacional ainda serve de influência positiva para o desenvolvimento científico de outros países e regiões.
Pesquisa clínica no Brasil: história em transformação
A jornada começa com marcos significativos nas décadas de 1980 e 1990. Tivemos o estabelecimento da primeira resolução sobre o assunto em 1988 e a criação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa Clínica (CONEP) em 1996, duas medidas que normatizaram e regulamentaram o campo.
Esses marcos, por consequência, auxiliaram no crescimento da participação do país em estudos multicêntricos internacionais. Esses eventos, juntamente a regulamentações subsequentes, lançaram as bases para o campo no Brasil.
E a história não para por aí. Estamos testemunhando um cenário com muitas novidades: a sanção presidencial do Projeto de Lei de Pesquisa Clínica (PL 6007/2023), somada à relevância do mercado farmacêutico brasileiro, pode nos colocar como uma referência mundial nessa área.
Na prática, essa medida é fundamental por firmar uma regulamentação definitiva, que trará de forma clara as diretrizes para a realização de pesquisas no país, trazendo um sistema jurídico e regulatório seguro, que mantém a ética e protege o paciente.
Esse arcabouço tende a aumentar o número de estudos realizados em todas as regiões do país, levando junto o acesso a medicamentos inovadores e aquecendo também os negócios estratégicos que fomentam a saúde e a medicina no país.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppSe antes discutíamos cenários com dados como os que alegavam uma queda na participação do Brasil em pesquisa clínica, agora colocamos os pés firmes em um cenário para que números novos – e mais otimistas – possam aparecer.
Na farmacêutica onde atuou como diretor médico, a ABBVie, ampliamos os investimentos e recursos humanos para fomentar pesquisas localmente, avançando 35% no número de programas globais sendo implementados no Brasil (2022 vs 2023).
O cenário que agora adentramos propicia, inclusive, o crescimento desta taxa, sempre com o foco de garantir a segurança dos pacientes e o desenvolvimento dos centros de pesquisa clínica brasileiros, além de gerar dados locais que colaboram com a evolução de políticas públicas em benefício das pessoas.
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Apesar da crescente proeminência do Brasil nas arenas globais de saúde e ciência, persiste a percepção de que investimentos em saúde, novos medicamentos e soluções terapêuticas são distantes da realidade da população.
Mas a pandemia de Covid-19 ofereceu a possibilidade de acompanharmos a capacidade inovadora da medicina, à medida que cientistas, instituições e órgãos regulatórios desenvolveram e aprovaram rapidamente vacinas. Essa mudança de paradigma em direção à inovação deve ser sustentada além da pandemia.
Como médico e executivo da indústria farmacêutica, acredito firmemente que vivemos em um país que é repleto de potencial, com grandes especialistas, universidades de ponta e de reconhecimento internacional. Com toda essa rede, o objetivo deve ser sempre que, em conjunto, trabalhemos para desenvolver medicamentos de primeira classe que transformem a forma como as doenças são tratadas.
O investimento em pesquisa e desenvolvimento colabora para ampliar nosso conhecimento sobre as doenças e como tratá-las, mas não só. Também oferece acesso a medicamentos e transforma estruturas médicas. Estou certo de que colocar o Brasil na liderança do desenvolvimento mundial de pesquisa vai impactar positivamente a vida daqueles que mais precisam, os pacientes, além de valorizar o ambiente científico e o desenvolvimento econômico do país.
*Fernando Mos, médico especialista em nefrologia, imunogenética e imunologia clínica, e diretor Médico da AbbVie no Brasil