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Diversidade na pesquisa: a responsabilidade da indústria farmacêutica

Executivo comenta papel da indústria como força motriz das mudanças, pois é uma das investidoras que movimenta a pesquisa

Por André Gomes, executivo*
23 ago 2023, 09h48
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  • Existem atualmente mais de 453 mil estudos clínicos registrados em 221 países, conforme dados da plataforma clinicaltrials.gov. O Brasil participa de cerca de 2% dessas pesquisas.

    E, segundo publicação da Interfarma de dezembro de 2021, ocupamos o 20° lugar entre os países que mais realizam estudos. Considerando que somos a 9ª maior economia e a 7ª maior população do mundo, parece existir um desajuste de representação do país nos ensaios clínicos.

    Este tipo de pesquisa é o estágio final, mais custoso e mais demorado do desenvolvimento de uma nova terapia. É nesta etapa que são avaliados segurança e eficácia do tratamento em potencial.

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    Apesar de ser o teste de uma terapia ainda experimental, podemos afirmar que o estudo clínico representa uma oportunidade de tratamento, ainda mais na realidade de países em desenvolvimento como o Brasil, onde o acesso pode ser difícil, e considerando doenças em que temos opções limitadas, ineficazes ou inexistentes.

    Ao participar de um estudo, a pessoa pode, inclusive, ter acesso a tratamentos já aprovados pela nossa agência regulatória, a Anvisa, mas que não estão disponibilizados pelo Sistema de Saúde.

    Estudos sobre câncer de pulmão

    De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados para 2023 um total de 32.560 casos novos de câncer de pulmão (18.020 em homens e 14.540 em mulheres).

    Este câncer ocupa a quarta posição entre os tipos mais frequentes no Brasil e mundialmente é o segundo mais incidente com 2.2 milhões de casos novos. Em termos de mortalidade no Brasil, em 2020, ocorreram 16.009 óbitos em homens e 12.609 em mulheres.

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    Atualmente temos diversos estudos clínicos em andamento para câncer de pulmão no país. Conforme dados do Relatório Anual de Atividades 2022 da Copec/Anvisa, 27 dos 112 estudos clínicos em oncologia submetidos para aprovação em 2022 — ou seja, 24% — envolviam terapias tumores no órgão.

    Por meio destas pesquisas, os pacientes podem ter acesso a tratamentos de ponta, como as imunoterapias, que atualmente só estão disponíveis através do sistema privado de saúde.

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    Ensaio clínico é o estágio final, mais custoso e mais demorado do desenvolvimento de uma nova terapia (Foto: Josué Damacena/IOC/Fiocruz/Divulgação)

    Desigualdade interna

    Conforme podemos observar na plataforma clinicaltrials.gov, há uma concentração muito grande de estudos clínicos nos Estados Unidos e na Europa. A China também vem se destacando bastante.

    Por outro lado, algumas regiões e países como América Latina, África e Índia apresentam um papel menos relevante no cenário mundial devido ao baixo número de ensaios realizados nestas localidades.

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    Da mesma forma que vemos uma disparidade global, aqui no Brasil também observamos este mesmo problema relacionado à distribuição dos trabalhos nas diferentes regiões.

    Leia também: “Estamos criando cientistas astronautas”, diz brasileiro que vai ao espaço

    Conforme relatório da Coordenação de Pesquisa Clínica em Medicamentos e Produtos Biológicos (Copec), as regiões Sul e Sudeste tiveram o maior número de centros clínicos relacionados em pesquisas, 90 (27%) e 169 (50%), respectivamente, em comparação às demais regiões brasileiras.

    O estado de São Paulo liderou com 107 (32%) centros em 2022, seguido pelo Rio Grande do Sul com 40 (12%). Assim, podemos concluir que poucos estudos são realizados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

    Como promover a diversidade na pesquisa clínica

    Atualmente o tema vem ganhando bastante destaque no cenário global. É fundamental definir novas práticas para sermos mais inclusivos, e garantir que a população participante de um estudo e, consequentemente, as informações geradas a partir dele sejam, de fato, representativas da nossa sociedade.

    E isso considerando vários fatores como raça, cultura e características genéticas.

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    Aqui no Brasil, por exemplo, precisamos definir práticas para levar mais a pesquisa ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste ao invés de centralizar a maior parte no Sul e Sudeste.

    Será que concentrando os estudos clínicos no Sul e Sudeste do Brasil estamos, de fato, produzindo dados que representam nossa população em toda a sua diversidade?

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    Papel da indústria

    Nesse ponto, a indústria farmacêutica, enquanto patrocinadora de diversos estudos, é um importante ator para promover práticas que melhorem a diversidade.

    É preciso ampliar ainda mais o alcance em áreas geográficas, principalmente as que apoiam comunidades carentes.

    Esta abordagem, além de garantir dados mais representativos da nossa população, também contribuirá para que se reduzam as lacunas raciais e sociais no acesso a tratamentos inovadores.

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    A Bristol Myers Squibb, farmacêutica americana com diversos estudos clínicos multicêntricos internacionais com a participação do Brasil, já iniciou diversas ações para promover maior diversidade nestes trabalhos.

    Por aqui, já iniciamos ações educativas com foco em colaboradores e público externo, estamos atuando na identificação de centros de pesquisa nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e estabelecemos como meta para este ano incluir centros destas regiões em novos ensaios.

    Em 2020, a Bristol Myers Squibb e a Bristol Myers Squibb Foundation, instituição que promove a equidade em saúde para populações desfavorecidas, comprometeram US$ 300 milhões para promover ações de equidade em saúde até 2025.

    Nos EUA, por exemplo, foi criado um programa para treinar e desenvolver 250 novos médicos/investigadores, racialmente e etnicamente diversos e que demonstram compromisso com o aumento da diversidade, para a condução de estudos clínicos.

    Outro compromisso que já foi atingido e superado nos EUA foi de selecionar, pelo menos, 25% dos centros de pesquisa em regiões com alta diversidade étnica e racial.

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    Outras iniciativas, como o projeto Amor à Pesquisa Contra o Câncer, idealizado pelo Instituto Vencer o Câncer e que tem parceria técnica do LACOG – Latin American Cooperative Oncology Group, são um bom exemplo de ação para promover mais inclusão fora dos grandes centros.

    É importante pontuar que a indústria tem papel importante como força motriz das mudanças, pois é uma das investidoras que movimenta a pesquisa.

    Atingir as regiões sub-representadas e fomentar acesso a novos tratamentos em troca do conhecimento que é produzido a partir das comunidades deve ser parte, portanto, das políticas de responsabilidade social do setor.

    *André Gomes é diretor-associado de Pesquisa Clínica da Bristol Myers Squibb Brasil

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