O segredo para uma pele mais saudável pode residir nos micro-organismos que moram em nosso intestino. É isso que corrobora um estudo da Universidade da Califórnia publicado no Journal of Investigative Dermatology.
O trabalho americano descobriu que uma dieta rica em açúcar e gordura leva a um desequilíbrio na microbiota intestinal que contribui para doenças inflamatórias da pele, como a psoríase. Ao mesmo tempo, sugere que uma alimentação balanceada e sem excessos ajuda a restaurar a saúde intestinal e a suprimir a inflamação na pele.
Pesquisas anteriores já demonstraram que a dieta ocidental, caracterizada pelo alto teor de açúcar e gordura, pode causar inflamação significativa na pele e crises de psoríase, piora da acne, dermatites e a aceleração do envelhecimento cutâneo. Apesar de contarmos com medicamentos efetivos para essas condições, mudanças simples na alimentação já surtem efeitos significativos em problemas como a psoríase.
A psoríase é uma doença “teimosa” causada por alterações no sistema imunológico. Em resumo, as células de defesa passam a atacar por engano a pele, provocando inflamação, formação de escamas e manchas vermelhas que coçam. Até 30% dos pacientes com psoríase também têm artrite psoriática, um quadro que afeta as articulações e leva a sintomas como inchaço nos dedos das mãos e dos pés, dor nas juntas, fadiga e alterações nas unhas.
A dieta é um dos principais fatores modificáveis que regulam a microbiota intestinal. Sabemos que a perturbação do equilíbrio microbiano (conhecida como disbiose) ocorre no curto prazo e desencadeia processos inflamatórios não restritos ao ambiente intestinal. Os pesquisadores americanos identificaram que esse processo aumenta a suscetibilidade à inflamação da pele, como na psoríase. Uma das situações capazes de romper esse equilíbrio na microbiota é justamente o estilo de dieta ocidental.
Mas, afinal, o dano causado por uma alimentação pouco saudável é reversível? O novo estudo mostrou melhora na inflamação da pele após a mudança para uma dieta mais equilibrada. Isso indica um impacto relativamente rápido na pele, revertendo parcialmente os efeitos pró-inflamatórios da alteração na microbiota intestinal causada pela dieta rica em açúcar e gordura.
Com essas informações em mente, devemos evitar excessos de açúcar e gordura de má qualidade e melhorar a ingestão de fibras pensando na prevenção de muitas doenças e nos benefícios à pele. Assim, além das visitas ao dermatologista, é mais que bem-vindo um cuidado profissional com a alimentação para ajustar o cardápio e sentir os reflexos disso pelo corpo inteiro, inclusive na pele.
* Marcella Garcez é nutróloga, diretora e docente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e pesquisadora do Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo;
Letícia Bortolini é dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e diretora da clínica Enlapy, em Cuiabá (MT)