Dezembro laranja: câncer de pele na mira
No mês de conscientização sobre a doença, dois especialistas explicam por que precisamos nos esforçar pela prevenção e detecção precoce
O câncer de pele é o tipo de tumor mais comum no Brasil e em todo o mundo. Mais frequentemente, atinge a população adulta de pele clara, olhos claros, ruivos, além de pessoas com histórico familiar da doença ou predisposição genética.
Correm maior risco de desenvolver o problema indivíduos com alta exposição solar sem proteção adequada, quem se submete a câmaras de bronzeamento artificial (atividade proibida no país) e pacientes imunossuprimidos e transplantados.
Os tipos mais prevalentes de câncer de pele são o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular, e ambos tendem a aparecer em áreas mais expostas ao sol.
O primeiro costuma surgir como uma mancha avermelhada, que se descama e, com o tempo, se transforma numa ferida que não cicatriza e pode sangrar. Com a progressão, pode tornar-se um nódulo de coloração rósea, avermelhada ou mesmo enegrecida nas bordas, que podem parecer translúcidas ou com tons perolados.
O segundo tipo mencionado também pode aparecer como mancha avermelhada, apresentando ou não descamação, mas acaba sofrendo um processo de ulceração e sangramento. Também pode haver manchas ásperas, com crostas endurecidas, inclusive em áreas de exposição solar. E ele ainda pode se manifestar sobre uma ferida crônica ou em uma cicatriza antiga de queimadura.
+ Leia também: Câncer de pele: também é preciso proteger o couro cabeludo
Há ainda um terceiro tipo de câncer de pele, o melanoma, menos comum, mas bem mais agressivo. Representa cerca de 3% dos tumores cutâneos, e, embora afete mais adultos de pele clara, também acomete a população negra, mais frequentemente nas palmas das mãos e nas plantas dos pés. Geralmente aparece como uma mancha escura com diferentes tons, podendo crescer e evoluir como uma ferida e até sangrar.
A regra do ABCDE ajuda a diagnosticar alterações na pele que podem sinalizar a presença de um câncer:
- A de assimetria (uma das metades da pinta ou lesão é diferente da outra);
- B de bordas irregulares;
- C de cores variáveis (na mesma lesão há porções enegrecidas, azuladas, avermelhadas ou acastanhadas);
- D de diâmetro maior que 6 milímetros;
- E de evolução (mudanças nas características originais no tamanho, cor ou formato da pinta pré-existente).
Em geral, o câncer de pele tem bom prognóstico quando detectado em fase inicial. O diagnóstico é feito principalmente pela observação clínica e por meio de exames complementares como a dermatoscopia, seguida de biópsia e exame anatomopatológico.
O diagnóstico precoce aumenta a chance de utilizarmos tratamentos mais simples e menos invasivos. Porém, em fases avançadas, precisamos lançar mão de estratégias como cirurgias dermatológicas ou oncológicas mais complexas, radioterapia, quimioterapia, terapia-alvo ou imunoterapia.
A imunoterapia representa hoje a forma mais eficaz de combater tumores de pele que progrediram − esses medicamentos removem os freios do sistema imunológico, permitindo seu ataque às células cancerosas.
Na terapia-alvo, o conhecimento de alterações moleculares específicas de cada tumor tem nos auxiliado na escolha das drogas mais aptas a interferir nos alvos tumorais.
Essas tendências e novos conceitos no tratamento têm inspirado os núcleos de Dermatologia e de Oncologia Cutânea e Sarcomas do Hospital Sírio-Libanês (SP), que já se balizam hoje pela medicina personalizada e de precisão.
Quando necessário, podemos realizar até um perfil genético do paciente e das características moleculares do tumor para escolher a terapia mais adequada. Junto ao tratamento multidisciplinar e ao acolhimento humanizado, isso permite alcançar melhores taxas de cura e qualidade de vida.
Mas a principal mensagem hoje se destina à prevenção e ao diagnóstico precoce. O cuidado com a pele deve ser constante. Devemos manter um olhar atento para mudanças em pintas ou o aparecimento de manchas e lesões e, ainda mais no verão, usar protetor solar e nos resguardar do sol nas atividades ao ar livre.
* Reinado Tovo Filho é dermatologista, coordenador da Residência Médica de Dermatologia e coordenador do Núcleo de Dermatologia do Hospital Sírio-Libanês; Fábio Ferreira é cirurgião oncológico e coordenador do Núcleo de Oncologia Cutânea e Sarcomas do Hospital Sírio-Libanês