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Como conhecer a genética do coronavírus ajudará a controlar a pandemia

Decifrar as características genéticas e moleculares do vírus permite aprimorar a prevenção e o tratamento da Covid-19

Por José Eduardo Levi, biólogo, e Gustavo Campana, médico*
Atualizado em 14 dez 2020, 19h21 - Publicado em 2 dez 2020, 10h24
coronavírus genética
Sequenciamento do genoma do coronavírus abriu caminho a exames e vacinas. (Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)
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Não é a primeira vez que o mundo vive uma emergência de saúde, em uma escala de pandemia, causada por um vírus de origem animal que afeta seres humanos. Assim como seus antecessores, os vírus da Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars-CoV) em 2003 e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) em 2012, o Sars-CoV-2 também tem uma origem zoonótica e foi descrito inicialmente em um grupo de pacientes com pneumonia relacionado a um mercado que vendia frutos do mar e outros animais vivos em Wuhan, na China.

O contexto impôs uma urgência no desenvolvimento de métodos de diagnóstico precisos e rápidos. Uma das principais metodologias que permitiu o desenvolvimento de exames considerados “padrão-ouro” para a detecção de infectados foi criada a partir do sequenciamento do genoma do vírus. Certamente, os testes moleculares baseados na reação de polimerização em cadeia em tempo real (RT-PCR) são hoje os mais adotados, no mundo todo, no diagnóstico de infecções respiratórias em geral e se cristalizaram como a melhor opção para o enfrentamento da Covid-19.

Conhecer o genoma do vírus é extremamente relevante para o controle da doença: seja para classificar e entender o agente e como ele se comporta epidemiologicamente, seja para criar ou aprimorar exames de diagnóstico, alvos terapêuticos e vacinas. Os vírus são a forma de vida mais simples que existe e sequenciar seu genoma completo possibilita conhecer sua família e espécie, entender se há organismos parecidos e, a partir dessas informações, delinear as modalidades de diagnóstico, tratamento e condução das doenças que eles causam.

O sequenciamento do Sars-CoV-2 mostrou um genoma com cerca de 30 mil nucleotídeos e ao redor de 80% de semelhança ao Sars-CoV-1 e 93% de homologia a outros coronavírus encontrados em morcegos na China. Essas informações ajudam a prevenir futuros episódios de zoonose e gerenciar melhor as questões epidemiológicas.

Rumo aos melhores testes de diagnóstico

No início da pandemia, a área de P&D da Dasa empreendeu uma corrida para desenvolver e validar o teste mais efetivo para o diagnóstico do novo coronavírus, seguindo todas as etapas analíticas a fim de garantir a sensibilidade e a especificidade no uso clínico do método. Os protocolos de validação seguiram regras preconizadas pelo Colégio Americano de Patologia, programa internacional de acreditação.

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Esse esforço pioneiro foi feito em conjunto com o Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, visando atender não apenas a Dasa, mas laboratórios públicos e universitários, criando uma rede que beneficiou todos os brasileiros. Depois de diversos experimentos com o material de referência (originários da Alemanha), inclusive passando pela etapa de extração empregando swab nasal e de orofaringe ao qual foram acrescentados os controles recebidos, e somente após verificada a acurácia e a factibilidade do processo, é que o teste foi disponibilizado comercialmente em fevereiro.

As próximas etapas alimentadas pelos dados do sequenciamento genômico do vírus envolvem buscar alvos terapêuticos, ou seja, identificar contra quais componentes virais serão produzidos os medicamentos para combatê-lo, encontrar as fraquezas virais e entender se há drogas disponíveis no mercado que possam ser usadas para combater o agente infeccioso. Estudos nessa linha seguem em andamento no mundo todo, e os dados das sequenciais virais permitem:

1. Avaliar a variabilidade do vírus em cada um de seus genes e proteínas, sugerindo quais servem melhor como alvo para diagnóstico e produção de vacinas;

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2. Verificar se estão surgindo novas cepas virais, através de mutações, que podem conferir maior capacidade de transmissão e até mesmo mudanças no desenvolvimento da doença;

3. Investigar a possibilidade de reinfecção. Somente através do sequenciamento é possível saber se os casos de infecção pelo Sars-CoV-2 em dois episódios separados no tempo foram causados pelo mesmo vírus (reativação) ou de fato, sendo vírus diferentes, representam uma reinfecção;

4. Através da comparação com coronavírus animais, entender qual animal foi o provável hospedeiro de origem, com óbvias implicações em termos de controle e prevenção de novas zoonoses e pandemias.

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Os pesquisadores seguem em busca de identificar o que está por trás de uma eventual reinfecção, como a suscetibilidade genética contribui para o manejo de cada pessoa e da doença e se há alguma chave de proteção para quem não se infecta. Ainda há muito trabalho pela frente no entendimento genético do Sars-CoV-2, e certamente esse conhecimento, associado ao papel dos fatores de risco já conhecidos, será extremamente útil para derrotar o inimigo.

* José Eduardo Levi é coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da Dasa e Gustavo Campana é diretor médico do grupo

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