Novembro é o mês destinado à conscientização sobre o câncer de próstata, doença que, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), deve acometer só neste ano mais de 65 mil homens. Isso corresponde a quase 30% de todos os tumores. Além da incidência significativa e do impacto nos pacientes e nas famílias, o problema esteve por trás de cerca de 15,5 mil óbitos em 2018 (praticamente 14% dos óbitos decorrentes de câncer). Tirando o câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata é o mais comum entre os homens.
O câncer de próstata geralmente aparece em homens acima dos 40 anos de idade, sendo que as alterações patológicas na glândula costumam ocorrer em torno dos 50 anos. Além do câncer de próstata em si, outra doença afeta a próstata com mais frequência com o avançar da idade, a hiperplasia benigna. Esta causa um crescimento e espessamento da glândula, que, atingindo um grande volume, acaba por comprimir a uretra e impedir a passagem da urina. Daí que a micção fica mais difícil e dolorosa, e, em alguns casos, há retenção urinária propriamente dita.
A hiperplasia benigna é diferente do câncer de próstata. Este faz com que a glândula tenha alterações em forma, tamanho e textura. E há risco de a doença se espalhar, comprometendo a qualidade e a expectativa de vida. Se identificado e tratado em fase inicial, há grandes chances de cura. Do contrário, o tumor pode avançar e se disseminar, provocando as metástases, principalmente nos linfonodos (gânglios linfáticos) e nos ossos, e com menor intensidade no fígado e em outros órgãos.
Como em toda doença, a melhor forma de combate está na prevenção. Para tanto, devemos estar atentos a fatores de risco e realizar os exames periódicos. É importante passar pelo médico se você já tem mais de 50 anos; possui histórico do problema na família, com parentes apresentando a doença antes dos 60 anos; está acima do peso ou tem obesidade; e se expõe a componentes químicos presentes infelizmente em nosso dia a dia, como derivados de benzeno, fuligem, dioxinas, produtos do petróleo etc.
Os principais sinais e sintomas de que há algo errado na próstata são:
- Demora involuntária para começar a urinar
- Dor e dificuldade ao urinar
- Interrupção total do fluxo de urina, o que pode provocar inchaço na região da bexiga e refluxo do líquido
- Infecções urinárias
- Dor nas costas e dor óssea, em caso de câncer de próstata mais avançado
As principais formas de diagnosticar precocemente o câncer (ou outros problemas) na próstata se dão pela dosagem do PSA — exame de sangue que verifica a quantidade do antígeno prostático específico — e pelo toque retal, em que o médico checa a presença de nódulos, endurecimentos e outras alterações no tecido. Se necessário, o profissional pode pedir uma biópsia da glândula a fim de confirmar o diagnóstico.
O tratamento do câncer de próstata varia de acordo com o estágio de descoberta e pode envolver cirurgias (com a remoção parcial ou total da glândula), medicamentos, terapia hormonal, radioterapia e quimioterapia.
E como a fisioterapia pode ajudar nesses casos? Bem, primeiramente temos que esclarecer quais as implicações que os tratamentos trazem aos pacientes, caso da incontinência urinária e da disfunção erétil. Na incontinência urinária, o homem passa a ter perda de urina por alterações na bexiga, que não consegue armazená-la e a qualquer pressão ou contração involuntária a deixa escapar, ou pelo déficit do esfíncter, que se manifesta quando há pressão no abdômen e a urina escapa (a chamada incontinência de esforço).
Já a disfunção erétil surge pelo comprometimento de nervos no local devido ao próprio tratamento. O retorno da ereção, sem o uso de medicação, pode variar de três meses a um ano. A variação depende muito da idade e do tipo de tratamento utilizado — quanto mais jovem o paciente e menos invasiva a terapia, mais rápida será a recuperação.
Nesse contexto, a atuação do fisioterapeuta será desenvolvida logo após o tratamento médico. É de suma importância que o profissional observe o mecanismo patológico, a extensão do comprometimento e o tempo pós-operatório. E que ele oriente e conscientize o paciente sobre a proposta das sessões, do trabalho sobre a área afetada, de como funciona o assoalho pélvico…
O tratamento fisioterápico deve ser iniciado quanto antes, pois acelera a recuperação daqueles eventos adversos, como o próprio descontrole sobre a micção. A fisioterapia lançará mãos de técnicas de cinesioterapia, biofeedback e eletroterapia. Através da cinesioterapia será trabalhada, de forma ativa, a musculatura do assoalho pélvico, com o intuito de aumentar a eficácia do esfíncter externo da uretra, que suportará o aumento da pressão intra-abdominal, evitando o escape da urina.
O biofeedback também atuará na musculatura do assoalho pélvico, a fim de fortalecê-la e treiná-la, aumentando a resistência e a coordenação, para a regulação do controle urinário. Essa técnica, que utiliza um eletrodo intrarretal, mostra ao fisioterapeuta a proporção da contração e do relaxamento muscular do paciente, de forma individualizada, além de ser capaz de identificar fenômenos relacionados às disfunções musculares.
Por fim, mas não menos importante, a eletroterapia agirá, de forma mais passiva, na estimulação da musculatura do assoalho pélvico, agora fortificando e dando tônus muscular. A prática é feita através de eletrodos que podem ser transcutâneos ou intrarretais.
Sim, a fisioterapia pode melhorar muito a reabilitação e a qualidade de vida de quem enfrentou ou enfrenta o câncer de próstata. Aproveitemos este Novembro Azul para trabalhar a prevenção e a conscientização sobre a doença. Fique atento ao seu corpo!
* Márcio Renzo é fisioterapeuta e capitão do Corpo de Bombeiros de São Paulo