A visão é o sentido que o ser humano mais utiliza para interagir com as pessoas, o ambiente e tudo ao seu redor. Ela permite realizar tanto as atividades cotidianas quanto as complexas e afeta diretamente tarefas comuns como andar, comer, trabalhar, divertir-se e praticar atividade física. Cuidar dos olhos, portanto, tem tudo a ver com o bem-estar. Eles são um patrimônio individual que precisa ser zelado desde o nascimento.
A catarata — a perda de transparência do cristalino, a lente natural atrás da íris — está entre as principais causas de deficiência visual no mundo. Contudo, essa condição tem solução com uma cirurgia que remove a opacidade intraocular e restaura a nitidez das imagens, proporcionando melhor qualidade de vida. Com o procedimento, é possível, em certos casos, também ficar mais independente dos óculos.
De acordo o documento As Condições da Saúde Ocular no Brasil, publicado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) em 2019, a prevalência da cegueira por diferentes causas na população brasileira é estimada em 1 577 016 de pessoas. E, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a catarata é responsável por 47,8% dos casos de cegueira no mundo.
O principal motivo por trás da catarata é o envelhecimento. Dados do CBO mostram que a prevalência é de 17,6% antes dos 65 anos, de 47,1% entre 65 e 74 anos e mais de 73% quando se passa dos 75. A doença também pode ser congênita, quando um bebê nasce com ela, ou decorrente de males crônicos (diabetes, inflamações oculares…), maus hábitos (tabagismo e alcoolismo), trauma ocular, exposição prolongada à radiação ultravioleta sem proteção e uso de certos medicamentos (especialmente os corticoides).
Na imensa maioria das vezes, não é possível diagnosticar a catarata a olho nu. Para tal, o oftalmologista utiliza um microscópio adaptado ao exame clínico no consultório. No seu início, a alteração no cristalino piora a qualidade da visão e, com o tempo, reduz a capacidade de enxergar. E essa mudança nem sempre é facilmente percebida pelo próprio indivíduo, que se adapta ou pensa que a baixa de visão é normal.
Por essa razão, é importante ficar atento a sintomas como sensação de vista embaçada, variação contínua do grau dos óculos, dificuldade de realizar tarefas triviais (dirigir, ler, entre outras), formação de círculos ao redor das luzes à noite (halos) e percepção de que as cores andam desbotadas. A perda da qualidade de visão eleva ainda o risco de depressão, de acidentes por quedas e de uso de medicamentos errados.
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O tratamento para a catarata sempre foi cirúrgico e consiste na troca do cristalino natural por lentes artificiais. Mas a técnica evoluiu extraordinariamente nos últimos anos. Hoje em dia a tecnologia disponível aumentou sobremaneira a segurança do procedimento, e as lentes intraoculares são fabricadas com materiais com biocompatibilidade e qualidade ótica excelentes, proporcionando ótima visão e menor dependência de óculos no pós-operatório.
A cirurgia de catarata deve ser feita em um centro especializado sob sedação com anestesia local (ou geral em poucas situações) e o paciente recebe alta no mesmo dia. Como qualquer cirurgia, apresenta peculiaridades e riscos, que devem ser individualizados e adequadamente esclarecidos pelo oftalmologista durante o pré-operatório.
A recuperação da visão é um fator individual no pós-cirúrgico. Algumas pessoas levam um tempinho para voltar a ver melhor. Se sofrem de outro problema ocular, além da catarata, isso é relevante. Certas condições precisam ser tratadas simultaneamente, como alterações na retina ou na córnea, glaucoma e hemorragia vítrea (na parte gelatinosa do olho).
A catarata é tratada em definitivo e inexiste limite de idade para a cirurgia. Em situações específicas, a operação é indicada precocemente quando, por exemplo, o indivíduo tem o cristalino como causa de aumento da pressão intraocular. Vale enfatizar a necessidade de procurar um oftalmologista habilitado na técnica — muitos são vinculados à Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR).
Com o envelhecimento da população, cresce o número de diagnósticos de catarata. Assim, mesmo na pandemia da Covid-19, é imprescindível a consulta de rotina ao oftalmologista, o que também permite o diagnóstico de outras disfunções oculares. Não raro, em um exame oftalmológico, o especialista encontra sinais de distúrbios em outros órgãos e sinais de diabetes, hipertensão, doenças neurológicas e hepáticas etc.
Portanto, o exame ocular é parte importante da preocupação integral com a saúde. E cabe ressaltar que a maioria dos problemas nos olhos é passível de prevenção e controle, tendo diagnóstico precoce e tratamento adequado com oftalmologista. Pessoas com baixa visão ficam mais sujeitas a pioras emocionais e cognitivas, perdendo autonomia e qualidade de vida. Não é preciso chegar a esse ponto.
* Bruno Machado Fontes é oftalmologista das clínicas EyeCenter Unique (empresa do grupo Opty) e presidente da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa