Câncer de pele: também é preciso proteger o couro cabeludo
Médicos alertam para a necessidade de resguardar uma área frequentemente negligenciada quando a gente se expõe ao sol
O aumento da temperatura pelo país e a aproximação do verão nos lembram da necessidade de prevenir os tumores com maior incidência no Brasil. Afinal, sabemos que a radiação solar está intimamente relacionada ao aparecimento do câncer de pele.
Proteger a pele e fazer o autoexame são atitudes fundamentais para se blindar da doença, mas há uma região do corpo muitas vezes esquecida nessa história, o couro cabeludo. Ora, ele também faz parte da nossa pele e está sujeito a tumores, que podem aparecer em formas e tamanhos diferentes.
O câncer de pele no couro cabeludo é perigoso se não for diagnosticado e tratado quanto antes. Isso porque, sobretudo para alguns tipos de tumor, há maior risco de ele se espalhar para outros locais, como o cérebro. É o que chamamos de metástase cerebral.
O câncer de pele com pior prognóstico nesse sentido é o melanoma, derivado das células pigmentares. Segundo um estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, melanomas no couro cabeludo e no pescoço, por uma variedade de razões, podem ser mais agressivos do que aqueles que aparecem em outros lugares.
Os pesquisadores americanos analisaram 50 mil casos da doença e descobriram que os pacientes com câncer de pele nessas regiões têm o dobro de chances de falecer. São pessoas mais propensas a ter um câncer que se dissemina para o cérebro do que aquelas com melanoma nos braços, pernas ou tronco, por exemplo.
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Dependendo do tipo de tumor, os sintomas e a apresentação podem ser distintos. Os cânceres de pele não melanoma, geralmente menos agressivos, costumam se apresentar com lesões que não cicatrizam e parecem incomuns ou doem, sangram e formam crosta por mais de quatro semanas. Já o melanoma é caracterizado por uma lesão que muda de forma, cor, tamanho, sangra ou desenvolve uma borda irregular.
Embora qualquer pessoa possa ter câncer de pele, indivíduos com tom de pele claro, que se queimam mais facilmente após exposição ao sol, e tenham histórico familiar do problema são mais suscetíveis. No couro cabeludo, quem tem cabelos mais finos ou ralos e, principalmente, os calvos também correm maior risco (justamente pela menor barreira física aos raios solares).
Então o que fazer para se resguardar? Aplicar um protetor solar em spray ajuda a alcançar a área e proteger o couro cabeludo. E bonés e chapéus são excelentes formas de barrar a exposição ao sol. Caso a pessoa seja calva, pode utilizar o mesmo filtro solar em creme que passa no rosto, lembrando que o produto deve ter FPS mínimo de 30 e PPD de 10 e ser reaplicado a cada duas horas.
Outra medida que faz diferença é o autoexame da pele, que ajuda a acelerar o diagnóstico pelo médico. A ideia é observar o tecido cutâneo, até com o apoio de um espelho, e verificar manchas e lesões pela regra do ABCDE:
A: manchas e pintas assimétricas
B: com bordas irregulares
C: cores desiguais
D: diâmetro maior que 6 milímetros
E: a evolução da mancha, pinta ou lesão, que pode crescer em ritmo rápido
No couro cabeludo, a detecção dessas alterações é mais difícil de ser feita individualmente, mas dá para pedir ajuda ao companheiro(a), familiar ou amigo. Bastam alguns minutos, uma vez por mês, de preferência com luz natural, para realizar essa inspeção. E, claro, seguir com as visitas ao dermatologista de tempos em tempos.
* Patrícia Mafra é dermatologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD);
Gabriel Batistella é neuro-oncologista, membro da Sociedade Latino-Americana de Neuro-Oncologia e médico assistente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)