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Câncer de colo do útero: pouco mudou em 25 anos

Dificuldade de acesso aos exames e baixa adesão à vacina contra o HPV - distribuída no SUS – faz com que tenhamos avançado pouco na prevenção desse tumor

Por Gustavo Cardoso Guimarães, cirurgião oncológico, e Andréa Paiva Gadêlha Guimarães, oncologista clínica*
23 jan 2024, 11h46
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  • Um quarto de século pode parecer bastante tempo. Mas, no combate ao câncer de colo do útero, o relógio parece que pouco andou: terminamos 2023 com um contexto pouco diferente daquele de 1998, quando foi lançada pelo Ministério da Saúde a campanha nacional de combate a este que era – e continua sendo – o câncer ginecológico mais incidente nas brasileiras.

    Na ocasião, o ministro da Saúde, José Serra, na presença da primeira-dama Ruth Cardoso, anunciou que, até o dia 19 de setembro daquele ano, seriam realizados 4 milhões de exames de papanicolau gratuitamente em mulheres entre 35 e 49 anos que nunca haviam passado pelo procedimento.

    A proposta, considerando o conhecimento da época em políticas de prevenção secundária (que foca no diagnóstico precoce), visava diagnosticar as lesões pré-cancerígenas o mais rapidamente possível.

    +Leia também: Câncer: ao menos um quarto dos casos seria evitado com hábitos saudáveis

    Em 1998, o câncer de colo do útero foi diagnosticado em cerca de 21 mil brasileiras. Para 2024, apesar do crescimento populacional, são previstos 17 mil novos casos desta doença.

    Olhando apenas para estes números, parece que temos uma ótima notícia. Porém, na prática, pouco avançamos em como evitar este que é o mais evitável de todos os tipos de tumor.

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    Essa afirmação é possível porque sabemos qual é o vilão e como ele pode ser eliminado. O papilomavírus humano (HPV) gera lesões potencialmente cancerígenas e é responsável por 99,7% dos casos de câncer de colo de útero, além de influenciar em outros tumores de órgãos genitais.

    Não existe uma relação tão estreita entre um agente causador e um câncer como a do HPV e os tumores malignos de colo de útero. Nem a do cigarro com câncer de pulmão chega perto.

    Se duas décadas e meia atrás havia a falta de acesso ao exame de papanicolau (um gargalo que persiste), vemos também uma baixa adesão à vacina contra HPV no Brasil. Criada em 2006, na Austrália, essa vacina integra o programa de imunização de mais de 50 países.

    No Brasil, é distribuída gratuitamente pelo Sistema Público de Saúde (SUS) desde 2014 (para meninas) e 2017 (meninos). O melhor resultado foi obtido, justamente, em 2014, quando foram aplicadas quase 8 milhões de doses nas meninas brasileiras.

    O número caiu para abaixo de 6 milhões de doses no ano seguinte e, entre 2016 e 2022, não superou nem a marca de 2 milhões. Entre os meninos, o número de doses aplicadas também vem caindo desde quando eles tiveram acesso a elas pelo SUS, em 2017.

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    Com isso, estamos distantes da meta almejada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2020, a entidade declarou que seria necessário reduzir a incidência do câncer de colo de útero para abaixo de quatro casos por 100 mil mulheres por ano, em todos os países, até 2030.

    No Brasil, os números estão três vezes acima disso. Para termos um país sem câncer de colo do útero, devemos fortalecer as campanhas de conscientização, aumentar o acesso aos exames preventivos e fazer subir as taxas de adesão à vacina contra HPV.

    Unindo vozes, com gestão pública de qualidade, conseguiremos desfrutar melhor do tempo e avançar verdadeiramente.

    *Gustavo Cardoso Guimarães é cirurgião oncológico, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e diretor dos departamentos cirúrgicos oncológico da BP – A Beneficência Portuguesa de SP. Andréa Gadêlha Guimarães é oncologista clínica, coordenadora de advocacy do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) e líder da Oncologia do Centro de Referência de Tumores Ginecológicos do A.C.Camargo Cancer Center.

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