Ao chegar a um hospital, o que se busca é o alívio da dor e um diagnóstico. Nem sempre se nota o entorno: as cores das paredes, a iluminação, as áreas verdes e a decoração. Esses detalhes, porém, fazem diferença para o paciente. E é por isso que despertam a atenção de especialistas, que vêm avaliando como os aspectos arquitetônicos influenciam na recuperação dos doentes. A arquitetura em saúde tem dado cada vez mais importância à humanização no atendimento. O novo olhar para a estrutura física vem sendo adotado no mundo todo e deixa de ter um foco apenas em melhorias tecnológicas.
Hoje se prioriza uma nova perspectiva, a do paciente. Nesse contexto, os “ambientes de cura” ganham um design que passa a favorecer o envolvimento de quem está sendo atendido, da família e da equipe de profissionais. A ideia é melhorar a experiência do doente e jamais intimidá-lo no ambiente hospitalar.
Como acontece na prática? Com a alteração sutil na cor e na textura da parede, trocando o branco por tons mais estimulantes. Com o uso de móveis ergonômicos e salas de exame mais confortáveis, dotadas de música relaxante ou imagens que inspiram tranquilidade. Com a criação de áreas verdes e seguras, jardins externos ou internos que proporcionam espaço para pacientes e familiares caminharem, descansarem e recarregarem as energias.
A iluminação é outro fator que impacta no aconchego. Quanto mais luz natural, mais se tem interação com o mundo externo, algo crucial para aqueles que passam dias ou até meses hospitalizados. Se houver uma janela no quarto direcionada para um jardim, tanto melhor. Essas minúcias trazem um ganho psicológico que, muitas vezes, se reflete em benefícios biológicos.
O conceito de acolhimento também chega às UTIs. Em algumas instituições, o acompanhante já pode permanecer com o paciente, o que impõe ajustes no design das acomodações para que o espaço abrigue a família e os amigos, tão essenciais na recuperação.
Cada vez mais populares, os espaços destinados a música, artesanato, exibição de filmes e brinquedoteca criam uma atmosfera serena e divertida e, hoje, fazem parte da terapia ocupacional, principalmente em tratamentos longos, como os do câncer.
O novo desenho da arquitetura em saúde conduz a uma atitude de cuidado constante e humanizado, em que o doente não se sente mais um, mas alguém acolhido desde a chegada. Para isso, as próprias salas de espera do hospital se tornam menores, divididas em múltiplos espaços, a fim de dar privacidade e evitar a sensação de um ambiente lotado e opressor. Falamos de um conceito inovador, de uma tendência mundial que ainda tem um longo caminho no Brasil. Os pacientes agradecem.
*Antonio Carlos Rodrigues é arquiteto, expert em design hospitalar e diretor da acr arquitetura, em São Paulo.