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Amamentação e maternidade em tempos de coronavírus

Médica explica por que o aleitamento pode ser mantido na pandemia de Covid-19 e reflete sobre as dificuldades encaradas pelas mulheres nesse período

Por Kelly Oliveira, pediatra*
Atualizado em 24 ago 2020, 18h04 - Publicado em 24 ago 2020, 14h15
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  • O novo coronavírus nos colocou em uma nova realidade que, até então, não podia ser imaginada. Com ela, vieram inúmeras dúvidas, inseguranças, desafios e dificuldades, inclusive em relação ao aleitamento materno.

    Por isso, através desse texto – que dedico a todas as mães aí do outro lado da tela –, meu papel como pediatra e consultora internacional de amamentação, certificada pelo International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE), é descomplicar a amamentação em tempos de pandemia. Vamos lá?

    Por que amamentar é tão importante?

    Esse ato vai muito além de simplesmente alimentar o bebê. Seus benefícios serão refletidos pela vida inteira – são tantos que não seria possível listá-los em um só texto!

    Amamentar ajuda, por exemplo, no desenvolvimento adequado da criança e na prevenção de inúmeras doenças (atuais e futuras). Além disso, ameniza possíveis riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Dessa forma, a amamentação deve ser incentivada mesmo durante a pandemia.

    Mas há uma dúvida muito recorrente: será que a mãe com suspeita de Covid-19 ou com a doença confirmada pode amamentar?

    Estudos recentes revelam que o vírus não é transmitido para o bebê através do leite (caso a mãe esteja infectada). Portanto, com os devidos cuidados para a prevenção, a amamentação não só pode, como deve ser mantida.

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    O Ministério da Saúde aponta que, em todos os contextos socioeconômicos, o aleitamento materno melhora as chances de sobrevivência e, como não existem evidências científicas que indiquem a transmissão do vírus por meio da amamentação, não há razão para evitar ou interrompê-la.

    Quais cuidados devem ser tomados?

    Se a mãe apresenta ou não Covid-19, eles devem ser os mesmos, ou seja: lavagem das mãos antes de entrar em contato com o bebê e o uso de máscara cirúrgica durante os cuidados com a criança e a amamentação (o acessório deve ser descartado após o uso).

    Deve-se manter uma higienização adequada e restrição de visitas até para proteger contra infecções por outros vírus, como o influenza.

    Vale reforçar: mesmo em casos de infecção pelo Sars-CoV-2, o Ministério da Saúde recomenda que, se for o desejo da mãe, a amamentação deve ser mantida.

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    Se a mãe com Covid-19 não estiver bem para amamentar, o que pode ser feito?

    Se houver a impossibilidade de amamentar devido à gravidade da doença ou por outras complicações que impeçam os cuidados com o bebê ou a amamentação direta, as mulheres devem, sempre que possível, ser incentivadas e apoiadas a retirar o leite materno e fornecê-lo com segurança ao filho.

    Os contratempos na assistência da mãe que amamenta

    A teoria é muito fácil, mas a prática é outra coisa. Com a pandemia e o isolamento social, as dificuldades maternas redobraram. Se antes já existia a falta de rede de apoio para muitas mães, agora que as visitas foram restringidas essa realidade se intensificou.

    Muitas mulheres, levadas ao seu limite de cansaço, privação de sono e ansiedade causados pela situação atual, podem até ter a produção de leite afetada.

    Imagina só precisar lidar com o home office (várias empresas ainda estão nessa modalidade), a amamentação, os cuidados com o bebê (que demandam muito tempo e energia), o manejo da casa e ainda cuidar de si mesma…

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    E tudo isso com a rede de apoio reduzida, afinal, visitas podem representar um risco para a saúde da mãe e do seu filho. Para completar, creches e escolas estão fechadas.

    Se essa mulher, já esgotada, tiver problemas para amamentar e quiser a ajuda de um pediatra ou consultor, ainda se depara com a insegurança de sair de casa, mesmo com toda a cautela possível.

    Como conseguir ajuda nesse momento tão delicado?

    Apesar de todos os desafios que a pandemia apresenta, é possível conseguir auxílio, ainda que de forma online, por meio da telemedicina, por exemplo. Você não está sozinha!

    Através desse tipo de atendimento, o médico pode realizar uma consulta à distância, oferecendo as orientações necessárias para a sua dificuldade.
    Ainda há acesso a informações gratuitas pela internet, com muitas dicas relacionadas à amamentação. Mas é importante procurar fontes confiáveis.

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    Vários médicos e profissionais da saúde não deixaram de realizar o atendimento presencial, pois são serviços considerados essenciais. Basta tomar todos as precauções que esse momento exige.

    Eu imagino que não está sendo fácil. Quero estender meu carinho, apoio e abraço a vocês, e espero que consigam encontrar a coragem, a resiliência e o suporte necessários para enfrentarem tantos desafios que o “ser mãe” nos impõe – a amamentação é apenas um deles.

    Nesse Agosto Dourado, mês dedicado exclusivamente à amamentação e à conscientização da importância desse ato em todos os seus aspectos, gostaria de parabenizar todas as mães que estão nessa luta, sendo perseverantes e encontrando forças dentro de si para continuar.

    *Kelly Oliveira é pediatra e consultora internacional de amamentação certificada pelo IBLCE (International Board of Lactation Consultant Examiners), e criadora Canal do Youtube “Pediatria Descomplicada com Dra. Kelly”

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