Acromegalia: caminhos até o diagnóstico
A doença rara que causa o gigantismo é desconhecida por boa parte da população, o que atrapalha o acesso ao tratamento adequado
A acromegalia, também conhecida como gigantismo, é uma condição de saúde crônica e rara, desconhecida por muitos.
Ela surge devido à produção excessiva do hormônio de crescimento (GH). Geralmente, é causada por um tumor benigno conhecido como adenoma, que fica na hipófise — glândula na base do cérebro.
Essa glândula desempenha um papel fundamental ao controlar a secreção de diversos hormônios de outras glândulas, como a tireoide, adrenal e as gônadas (ovários e testículos), por isso é muitas vezes referida como a “glândula mestra”.
No caso da acromegalia, o excesso de GH faz com que o fígado produza um hormônio chamado IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1) em quantidades elevadas.
A junção do excesso desses dois hormônios afeta o crescimento de tecidos e ossos em adultos e desencadeia uma série de sintomas característicos da doença, em especial o crescimento excessivo de partes do corpo.
A doença é tratável, mas, no cenário atual da doença, enfrentamos um desafio crucial: a dificuldade no diagnóstico precoce. Essa condição muitas vezes passa despercebida, o que resulta em um atraso significativo na identificação e no tratamento adequado.
No Brasil, o tempo médio de diagnóstico de acromegalia ainda é alarmante, levando em média de 5 a 10 anos para ser concluído. Essa demora tem sérias implicações, uma vez que a extensão das complicações e o risco de mortalidade estão diretamente relacionados ao tempo de exposição contínua ao excesso de GH no organismo.
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Sintomas da acromegalia
O principal sinal da acromegalia é o crescimento exagerado das extremidades, o que justifica o nome da doença. Ocorre o aumento das mãos e pés, levando à necessidade de trocar anéis e sapatos por tamanhos maiores.
Além disso, a língua, nariz e orelhas também podem aumentar de tamanho. O coração e o fígado podem ser afetados, assim como as articulações e ossos, resultando em deformidades e dores nessas regiões. O suor excessivo também é um dos sintomas comuns.
Vale ressaltar que o diagnóstico geralmente ocorre entre os 40 e 50 anos e os pacientes têm maior risco de desenvolver diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca.
Em aproximadamente 1% dos casos, esse tumor se desenvolve na infância ou adolescência, causando o gigantismo. Quando o adenoma é grande, pode ocorrer redução do campo visual, dores de cabeça e déficits na produção de outros hormônios pela hipófise.
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Diagnóstico
O processo começa com a suspeita clínica, que normalmente surge a partir dos sinais e sintomas mencionados anteriormente.
Em alguns casos, os sinais da doença podem não ser tão evidentes, mas é importante que os médicos fiquem atentos a situações como o diagnóstico precoce de diabetes e/ou hipertensão em indivíduos jovens e sem histórico familiar.
A partir da suspeita, o primeiro exame solicitado é a dosagem de IGF-1 no sangue, que pode ser complementada pelo teste de supressão de GH com glicose oral.
Após a confirmação laboratorial, é indicada uma ressonância magnética da sela turca, visando identificar e caracterizar precisamente o adenoma.
Tratamento da acromegalia
Felizmente, existem tratamentos eficazes para controlar a acromegalia e minimizar seus efeitos sobre o organismo.
Entre eles, a abordagem cirúrgica, com remoção do tumor por meio de uma intervenção minimamente invasiva. Essa abordagem visa preservar a função normal da hipófise e aliviar os sintomas da doença.
Além disso, medicamentos disponíveis ajudam a regular os níveis de GH no organismo. Essa opção pode ser utilizada quando a cirurgia não é possível ou para controlar a doença após o procedimento.
Quando a intervenção não atinge os resultados desejados, pode ser necessário recorrer a outras alternativas, como a radioterapia.
É fundamental ressaltar que o tratamento da acromegalia exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo endocrinologistas, neurocirurgiões, radioterapeutas e outros profissionais da saúde.
O acompanhamento e controle adequados são essenciais para garantir uma qualidade de vida melhor. Para isso, é preciso reconhecer os sintomas e buscar ajuda médica especializada.
*Manoel Martins, endocrinologista, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC