A evolução na medicina vem criando verdadeiros marcos históricos, com impactos sociais profundos. E os avanços no universo da contracepção fazem parte disso: eles vêm revolucionando a vida das mulheres em todo o mundo não só por sua contribuição para a saúde feminina, mas também por desafiarem a desigualdade de gênero e proporcionarem liberdade de escolha.
Essa transformação começou há 61 anos com a chegada da primeira pílula ao mercado. Foi um divisor de águas: mais do que um método contraceptivo, ela se tornou um símbolo da revolução feminina. Cerca de 30 anos depois, a chegada do DIU hormonal representou outro marco para a vida delas.
Os DIUS, contraceptivos reversíveis de longa ação (LARCs), apresentaram um novo cenário quanto ao planejamento familiar, permitindo uma escolha mais adequada às necessidades e aos desejos das mulheres, especialmente para as que não queriam engravidar no curto prazo.
Hoje, considerados mais modernos e seguros que os métodos de curta ação, como a pílula, eles apresentam eficácia superior a 99%, por um período de três a dez anos, e não dependem da mulher se lembrar de tomá-los para fazer efeito. Além disso, são reversíveis: ao parar de usá-los, é possível engravidar tão rápido quanto mulheres que não utilizaram nenhum método.
O lançamento do primeiro dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel na Finlândia, em 1990, e no Brasil, em 2000, foi o resultado de décadas de estudos sobre o impacto de novos hormônios no tratamento de disfunções femininas e no controle da natalidade. Alívio das dores menstruais e climatério, e significativa diminuição ou interrupção do fluxo menstrual, importante para mulheres que sofrem de sangramento uterino anormal, são alguns dos benefícios identificados nessa trajetória.
Para além da saúde, os LARCs passaram a ter um papel fundamental no empoderamento feminino. Ao fornecer uma contracepção eficaz e reduzir o sangramento menstrual, o DIU hormonal tem o potencial de facilitar o aumento da produtividade e da participação das mulheres na sociedade, sobretudo as de baixa renda, mitigando a pobreza e proporcionando menos estigma social e exclusão.
O método trouxe ainda segurança e economia (para as mulheres e o sistema de saúde) durante a pandemia de Covid-19, já que a necessidade de ida à farmácia ou ao próprio médico é reduzida, diferentemente do que acontece com as que usam métodos de curta ação. No Brasil, o DIU hormonal é coberto pelos planos de saúde.
No que depender da medicina, as mulheres terão cada vez mais alternativas que atendam a todos os perfis e necessidades. Não à toa, no último ano foi lançado um DIU hormonal com tamanho menor e menos hormônios, ideal para as que nunca tiveram filhos e não querem parar de menstruar.
Os benefícios que esses avanços vêm trazendo para as mulheres são inquestionáveis, mas promover conscientização continua sendo essencial. Informação e acesso são ferramentas indispensáveis para que elas se sintam cada vez mais livres, empoderadas e donas de si.
* Cecília Caetano é ginecologista portuguesa, diretora global de Saúde da Mulher da Bayer Pharma e uma das principais autoras do artigo Mais que contracepção: o impacto do SIU-LNG na saúde pública ao longo de 30 anos, publicado pela revista científica British Medical Journal