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A cada 15 minutos, uma pessoa descobre que tem câncer de pulmão no Brasil

Na reta final do Agosto Branco, colunista reflete sobre os desafios no enfrentamento da doença e a importância da conscientização

Por Luciana Holtz de C. Barros, psico-oncologista*
27 ago 2024, 10h31
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Doenças respiratórias provocam irritações e inflamações  (Foto: Freepik/Divulgação)
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Estamos no mês conscientização sobre o câncer de pulmão. E, como já aprendemos com os já famosos Outubro Rosa e Novembro Azul, chegou a hora de valorizarmos o Agosto Branco para chamar a atenção de toda a sociedade para o tipo de câncer que mais mata no Brasil e no mundo.

Para mergulhar no tema, é preciso contextualizar o cenário do câncer no Brasil, que ganhou uma nova lei no final de 2023. Agora temos uma Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer atualizada e modernizada.

No entanto, já se esgotou o prazo de 180 dias para que a política seja, de fato, regulamentada. E não temos estimativa de quando isso vai acontecer. Isso nos mostra o tamanho do desafio que teremos para garantir que a nova lei não se trate de mais uma que não saia do papel em nosso país.

Apesar da frustração, destaco e parabenizo algumas iniciativas em andamento do Ministério da Saúde, como o Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), que foca em agilizar diagnósticos, um dos grandes entraves do cuidado oncológico no país.

+ Leia tambémCâncer de pulmão: 6 novidades no diagnóstico e tratamento

No programa, os cânceres de mama, próstata e colo de útero são prioridades. O que é justificado, afinal estes tumores estão entre os mais incidentes e mortais no Brasil, afetando principalmente a população mais vulnerável. Fica aqui uma sugestão para que o câncer de pulmão também entre nessa lista.

Além disso, existem iniciativas e muitos esforços para a erradicação do câncer de colo uterino e seguimos na batalha para que as mulheres realmente façam mamografias para o diagnóstico precoce do câncer de mama.

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Por sua vez, para o câncer colorretal, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) conta com um grupo de trabalho que discute a criação de uma possível diretriz para atualizar os protocolos de cuidado a esse tumor e no qual esperamos ansiosamente que incluam alguma estratégia de rastreamento.

Mas o câncer de pulmão ainda não conseguiu um lugar de protagonismo nessas iniciativas.

Como comecei dizendo, o câncer de pulmão precisa de mais atenção e engajamento de todos nós. Desde o cidadão ao médico, passando pelas instituições do terceiro setor, sociedades médicas, parlamentares e até os nossos governantes. Estamos perdendo vidas para problemas que já conhecemos e temos a solução e isso não poderia mais estar acontecendo.

+ Leia tambémCâncer de pulmão: é hora de rastreá-lo

Um dos maiores desafios da saúde pública atual

No Brasil, cerca de 13% de todos os casos de câncer são de pulmão, sendo o quarto tipo mais incidente no país. Ao mesmo tempo, ele é responsável por uma em cada cinco mortes por câncer, se consolidando como o tipo que mais mata. No mundo, a cada 18 segundos uma pessoa morre pela doença.

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O cenário, preocupante, não para por aí. Dentro dos 32 mil novos casos anuais (daí a conta dos diagnósticos a cada 15 minutos), segundo estimativas INCA, 88% dos pacientes do SUS começam o tratamento em estágios avançados, quando não há chances de cura.

Isso se deve a vários problemas, e aqui cito alguns: a falta de conhecimento sobre sinais e sintomas do câncer de pulmão pela sociedade e até por médicos; a demora para fechar e realizar exames de diagnóstico; a falta de um programa de rastreamento eficaz; e a falta de acesso a tratamentos rápidos e eficazes.

Por exemplo, segundo uma pesquisa global do Global Lung Cancer Coalition, quatro a cada 10 pessoas não conhecem os sintomas do câncer de pulmão. Até mesmo médicos não estão familiarizados com a doença e frequentemente confundem os primeiros sinais com indícios de outras condições respiratórias, como tuberculose ou asma.

Isso não só atrasa o diagnóstico como pode significar que o paciente irá enfrentar um tratamento mais difícil, custoso e sem chances de cura.

Ainda que fumar seja o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão, sendo responsável por cerca de 80% das mortes relacionadas a essa doença, segundo a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), o número de casos em pessoas mais jovens e que nunca fumaram está aumentando.

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Hoje, a medicina sabe que esses casos estão relacionados com mutações em genes específicos, um conhecimento que influencia essencialmente na escolha do tratamento mais efetivo. Ou seja, basta ter pulmão para correr o risco de ter câncer de pulmão.

Soma-se a isso o fato de que pacientes não têm acesso aos tratamentos que precisam. Nas últimas décadas, a medicina para tratar o câncer de pulmão avançou consideravelmente. Pacientes que não viveriam um ano após o diagnóstico com os protocolos de 20 anos atrás, hoje já conseguem ter uma vida com qualidade por muitos anos.

Mas isso é realidade para poucos. Muitos dos tratamentos mais efetivos ainda não estão disponíveis, principalmente para os que dependem do sistema público. Segundo dados do estudo Meu SUS é diferente do seu SUS, do Instituto Oncoguia, o tratamento do câncer de pulmão no SUS está defasado em, pelo menos, 10 anos.

A pesquisa também mostra que, fora não oferecerem os tratamentos mais eficazes e de última geração, grande parte dos hospitais oncológicos mal conseguem cumprir as Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas (DDTs) para o câncer de pulmão estabelecidas pelo Ministério da Saúde em 2014.

Ou seja, para muitos, o diagnóstico do câncer de pulmão ainda significa medo e fim quando não precisaria ser assim.

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O que falta

Precisamos de campanhas focadas no combate ao tabagismo com uma atenção especial aos novos dispositivos eletrônicos para fumar (vapes). Também se faz necessária a criação de um programa nacional de rastreamento de câncer de pulmão para pessoas de alto risco, prioridade amplamente defendida pela recém lançada Aliança Contra o Câncer de Pulmão, composta por 6 sociedades médicas.

Ainda, precisamos da ampliação da oferta de tratamentos para os pacientes do SUS, independente do estágio em que a doença foi descoberta.

Sem conscientização, capacitação, oferta de rastreamento para quem precisa e início rápido do tratamento não vamos mudar a triste realidade dos diagnósticos tardios em nosso país.

Os primeiros passos já foram dados. Atualmente, tramita um projeto de lei para tornar oficial o mês do Agosto Branco e incluir o câncer de pulmão, de fato, na agenda oficial do governo. Seguimos batalhando para que ele seja aprovado, ao mesmo tempo que queremos ver melhorias acontecendo no cenário do câncer de pulmão.

Esforços não faltam por aqui, mas, caro leitor, também precisamos do seu envolvimento. Bora vestir branco e nos ajudar no controle, combate e cuidado do câncer de pulmão? Contamos com todos!

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*Luciana Holtz de C. Barros, psico-oncologista e especialista em Bioética, fundadora e presidente da Ong Instituto Oncoguia

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