Já parou para refletir o que pode machucar mais um idoso? Se uma palavra dita com aspereza ou um tapa? E quando uma dessas atitudes parte de alguém próximo, como um familiar? Será que é menos doloroso do que se fosse um estranho, como um cuidador ou profissional de saúde?
Afinal, será possível estabelecer um parâmetro entre essas situações que seja capaz de diferi-las ao ponto de que uma delas seja considerada um ato de agressão e a outra não?
Devemos ter em mente que a agressão nem sempre é física. Pode ser verbal, sexual, psicológica, emocional ou financeira. Pode ocorrer por meio do abandono, da falta de respeito, da negligência ou do comprometimento da dignidade. Essas são, aliás, algumas das atitudes elencadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que caracterizam diferentes formas de violência contra a pessoa idosa. Elas podem acontecer em qualquer local e ser desencadeadas por qualquer um, seja no contexto familiar seja no de uma instituição de longa permanência ou de um hospital.
Já não procede mais aquela visão de que os abusos aconteciam quando o idoso era institucionalizado, ou seja, conduzido a uma “casa de repouso”. Atualmente essa realidade extrapolou os muros e alcançou os lares. Infelizmente, muitas vezes os algozes são pessoas conhecidas do idoso ou, pior, com vínculo de sangue.
O que fazer numa circunstância como essa, em que a confiança é quebrada? Na prática da geriatria devemos estar atentos durante a consulta ou qualquer procedimento assistencial a sinais que indiquem agressão física ou psíquica.
Além disso, há algumas medidas que podem ser tomadas para prevenir que casos do tipo ocorram. Elas incluem a realização de campanhas sobre o tema junto à população e profissionais ligados aos cuidados com o envelhecimento, suporte ao cuidador para que haja manejo do estresse (algo comum nessa ocupação) e melhora da formação dos indivíduos que prestam assistência a pacientes com demência (uma situação ainda mais desafiadora).
Outra importante iniciativa é promover uma aproximação de crianças ainda em idade escolar com os idosos por meio de programas intergeracionais. A troca de experiências e a vivência com os mais velhos permitem que os pequenos encarem o envelhecimento com mais amor, respeito e dignidade. Costumo dizer que é preciso educar para envelhecer bem. E isso se aplica inclusive no sentido de criarmos condições para o idoso se sentir protegido, física e psicologicamente.
A OMS estima que aproximadamente uma em cada seis pessoas com 60 anos ou mais sofreu algum tipo de abuso no ano de 2017. Inclusive, já considera esse um problema de saúde pública. No Disque 100, serviço direcionado a receber denúncias, foram registrados no último ano mais de 33 mil casos no país.
Com o aumento da população idosa, a mesma OMS prevê que cresça o número de episódios de abusos. Calcula-se que, até 2050, haverá 2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, ante 900 milhões registradas em 2015. No Brasil, no último ano, foram contabilizadas 30 milhões de pessoas com mais de 60 e esse número só cresce em nosso país, devendo superar o número de crianças e adolescentes até 2031.
Estamos no Junho Violeta, mês em que ocorre a conscientização contra a violência à pessoa idosa, instituída pela Organização das Nações Unidas em 2016. Que tal refletir sobre isso? Como você tem tratado a velhice?
Não negligencie a vida de alguém que pode estar precisando de socorro e não ter instrumentos ou forças para pedir ajuda. Muitas vezes, o idoso não fala sobre sua situação por medo de retaliação e, assim, não tem coragem de denunciar eventuais maus tratos. Portanto, caso você testemunhe um ato de agressão, acione o Disque 100 e/ou procure uma delegacia do idoso e denuncie!