Assim como algumas personalidades brasileiras anunciaram recentemente, outros 45 629 brasileiros devem ser diagnosticados com câncer colorretal neste ano, segundo as estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Para ter uma ideia do que isso significa, basta lembrar que esse número é maior do que toda a população de cidades como Jaguariúna, em São Paulo, ou Paraty, no Rio de Janeiro.
Com exceção do câncer de pele não melanoma, os tumores que se desenvolvem no intestino grosso (cólon) ou no reto (a porção final) ocupam a segunda posição entre os mais prevalentes no Brasil. Ficam atrás apenas do câncer de mama nas mulheres, e do de próstata nos homens.
No entanto, o câncer colorretal é uma das doenças oncológicas mais preveníveis – e o principal trunfo para isso é a colonoscopia.
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Esse exame permite identificar e remover pólipos – um crescimento anormal de células da mucosa intestinal de caráter benigno, mas que, com o tempo, podem evoluir para câncer. Essa é a causa da grande maioria dos tumores de intestino. Apenas uma pequena parte dos casos é não polipoide, e geralmente de origem genética.
Pacientes são cada vez mais jovens
Embora afete mais pacientes a partir dos 50 anos, tem aumentado a ocorrência de câncer colorretal entre pessoas jovens, possivelmente em razão das mudanças no estilo de vida, maior consumo de alimentos ultraprocessados e aumento do número de obesos no Brasil e no mundo todo.
Com base em evidências científicas, as diretrizes para prevenção passaram a recomendar a realização da primeira colonoscopia a partir dos 45 anos de idade, e não mais aos 50 anos, como anteriormente. O intervalo para os exames subsequentes será definido de acordo com os achados na colonoscopia e os antecedentes do paciente.
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A regra para início da colonoscopia muda para pessoas com pai ou mãe que tiveram câncer de intestino, especialmente quando jovens. Nesses casos, a recomendação é começar dez anos antes da idade que tinha o familiar quando a doença apareceu.
Ou seja, se o pai/mãe teve o câncer com 45 anos, o filho/filha deve fazer a primeira colonoscopia aos 35 anos. Hoje, também já estão disponíveis exames genéticos que permitem identificar mutações nos genes que predispõem o aparecimento do câncer de intestino.
Como nos sistemas de saúde não há recursos para fazer colonoscopia em toda a população, um caminho alternativo é a pesquisa de sangue oculto nas fezes. O resultado positivo desse exame pode ser consequência do câncer ou de outras alterações no intestino, o que só será confirmado por colonoscopia.
O exame de sangue de CEA (antígeno carcinoembrionário), às vezes solicitado no rol de exames de check-up, também não serve para diagnóstico de câncer colorretal. Afinal, níveis mais elevados de CEA não significam a presença de qualquer tumor. Esse exame é indicado apenas para o seguimento de pacientes durante ou após o tratamento oncológico.
O tratamento
Quando o diagnóstico é precoce, a cirurgia do câncer colorretal – convencional (“aberta”), por via laparoscópica e até robótica – tem maior chance de ser curativa, seguida de quimioterapia e/ou radioterapia.
Nos casos de tumor de reto baixo, um avanço importantíssimo veio com o protocolo de Watch and Wait (significa “observar e aguardar”), estudado e proposto pela cirurgiã brasileira reconhecida internacionalmente Angelita Gama, a quem agradeço pela inspiração e pelos ensinamentos durante minha formação.
Antes do trabalho que ela liderou, já era adotado o tratamento neoadjuvante, que consiste na aplicação de quimio e/ou radioterapia antes da cirurgia para diminuir o tamanho do tumor, permitindo mais preservação do reto e ânus.
Os estudos da professora Angelita comprovaram que muitos pacientes têm o câncer curado já nessa etapa e, portanto, não precisam ser operados. Eles devem apenas ser acompanhados clinicamente e com exames ao longo do tempo para confirmar a cura.
Avanços nos tratamentos são sempre bem-vindos. O ideal, porém, é não precisar deles. Como diz o antigo ditado, prevenir é o melhor remédio.
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Muita gente torce o nariz quando o médico prescreve a colonoscopia, principalmente por causa do preparo para o exame, que não é lá muito agradável. Mas vale a pena encarar.
Fazer colonoscopia na periodicidade recomendada traz a melhor das recompensas: a prevenção do câncer colorretal.
E você ainda pode completar a receita preventiva com uma dieta rica em fibras, pouca carne vermelha (principalmente as muito bem passadas), poucos alimentos embutidos e ultraprocessados, além de boa hidratação e controle do peso.