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Esse é o blog de Patricia Julianelli, jornalista especialista em nutrição, esporte e qualidade de vida, além de apaixonada por comida e corrida de rua. Ela é autora do livro "Boca Livre - Comida e Boa Forma com Prazer e sem Neura" e apresentadora do quadro "Saúde em Movimento", da rádio CBN
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Adoçante ou açúcar: qual devo usar?

Minha resposta seria: qualquer um dos dois. Desde que pouco, bem pouco

Por Patricia Julianelli
26 dez 2023, 14h01
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  • Ovo faz mal para o coração. Ovo é aliado da saúde. Leite é inflamatório. Leite é anti-inflamatório. Arroz branco é o vilão. Arroz é o melhor amigo do feijão. Fruta causa cirrose. Fruta é benção da natureza. Termogênicos aceleram o metabolismo. Termogênicos estão proibidos. Café com manteiga queima gordura. Café com manteiga só é ruim mesmo.

    Na nutrição, se dermos atenção a estudos pouco conclusivos e à mídia caça-clique, é todo dia um plot twist diferente. Impossível não se sentir perdido.

    Uma das reviravoltas mais recentes teve como alvo os adoçantes. No centro da polêmica, o aspartame, aquele que está no mercado desde os anos 1970, que aparece em tudo quanto é produto – refrigerante, iogurte, suco, sorvete, etc – e era considerado um dos mais testados e seguros do mercado.

    Até que, em julho de 2023, a IARC, agência da OMS que pesquisa o câncer, classificou o aspartame como “possivelmente cancerígeno em humanos”. A própria IARC admitiu que, para chegar a essa conclusão, levou em conta três estudos com “evidência limitada”. Mas aí o estrago já havia sido feito…

    + Leia também: Terrorismo nutricional: não seja a próxima vítima!

    Vamos aos fatos. Você chegou a ficar sabendo que, na mesma categoria do adoçante, a IARC havia incluído vegetais em conserva e chá verde? Pois é.

    Aqui eu faço um adendo: no caso dos adoçantes, os estudos não conseguem estabelecer uma relação de causa e efeito.

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    E explico: quem disse que as pessoas que consumiam muito adoçante não consumiam também outros produtos nocivos? Quem disse que o aspartame em si aumenta o risco de tumores e não o fato de boa parte dos seus consumidores terem obesidade?

    Meses antes da polêmica com o aspartame, outro alerta havia causado tumulto: “A OMS sugere que os adoçantes não sejam usados como forma de controlar o peso”. Mas, gente, quem achava que os adoçantes, isoladamente, seriam uma estratégia de emagrecimento?

    Só que a OMS ainda sugeriu uma associação entre adoçantes e maior incidência de doenças do coração e diabetes tipo 2. De novo: quem disse que é o adoçante e não a obesidade que causa essa maior predisposição?

    + Leia também: A parcialidade nas notícias sobre a segurança do aspartame

    De forma geral, os adoçantes são considerados seguros por profissionais e associações médicas. Com exceção do ciclamato – nesse, vale ficar especialmente de olho –, não somos capazes de ultrapassar as doses máximas estipuladas.

    Dito tudo isso, ser seguro em relação ao câncer não significa que o adoçante não possa dar uma bela bagunçada no organismo.

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    Você sabia que os adoçantes – mesmos os naturais – são capazes de alterar nossa microbiota intestinal?

    Aqui, falamos de trilhões de micro-organismos que habitam o trato intestinal. E são fundamentais para a digestão e a síntese de vitaminas, para o sistema imunológico e para a produção de serotonina, o neurotransmissor do bem-estar.

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    Controvérsias envolvendo os adoçantes vira e mexe aparecem na mídia (Foto: Fabio Castelo/SAÚDE é Vital)

    Para desempenhar bem todas essas funções, nossa microbiota depende do equilíbrio entre as “bactérias do bem e as do mal” que vivem por lá. E é justamente esse equilíbrio que os adoçantes ameaçam.

    Vários estudos têm sinalizado isso, sendo o da revista Cell o mais notório. Publicada em agosto de 2022, a pesquisa “padrão ouro” contou com 120 voluntários e chegou a duas conclusões: stévia, sucralose, aspartame e sacrarina alteram nossa microbiota intestinal.

    Sim, o natural e hypado Stévia. E ainda: sacarina e sucralose podem afetar também a sensibilidade à insulina.

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    Fica cada vez mais evidente que caloria zero não equivale a risco zero. Outros estudos, esses em animais, trazem associações entre adoçantes e infertilidade, ansiedade, problemas nos ovários, nos rins e até um comprometimento do sistema imunológico.

    São estudos pouco conclusivos e com uma série de limitações. Mas, confesso, aqui nessa cabecinha já acende uma luz amarela. Às vezes, tenho a impressão de que os ratinhos de laboratório somos nós, e que só vamos entender os efeitos de certas substâncias no nosso corpo daqui a algumas décadas.

    + Leia também: O que explica o aumento da obesidade entre jovens no Brasil?

    A essa altura do texto, você pode estar se perguntando: “Tá, mas afinal, qual deles é o menos pior: açúcar ou adoçante?” Minha resposta: não sabemos ainda. Na dúvida: evite ambos. Se for usar, use pouco.

    Os efeitos do excesso de açúcar no corpo a gente já conhece. São muitos e podem ser devastadores. Os do adoçante, estamos começando a entender. Por isso, o ideal seria reduzir o consumo dos dois.

    Para isso, não basta adoçar menos o café e o suco. Já ajuda, mas está longe de ser suficiente. Isso porque açúcar e adoçantes estão em centenas de produtos industrializados. E, no caso do adoçante, ainda existe uma pegadinha.

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    Sabe aquela lupinha que aparece na parte da frente das embalagens e que informa se o produto tem alto teor de açúcar, gordura ou sódio? Pois bem: a regra não vale para os adoçantes. O teor pode ser altíssimo, mas você só descobre ao ler com atenção a lista de ingredientes.

    Não é preciso banir nenhum alimento da vida. Não abra mão do que te faz feliz, mas também não abra mão da informação.

    Pesquise, questione, avalie e, então, decida. Só assim a gente sai do papel de cobaia e assume o protagonismo da saúde.

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