A leitora Cintia Figueiredo nos perguntou por e-mail: o que são pólipos no útero? Eles reduzem as chances de engravidar? Conversamos com dois ginecologistas para responder estas dúvidas. Sem mais delongas, vamos às respostas.
Pólipos uterinos são uma espécie de carne esponjosa que surge no interior do órgão, que é dividido em setores. “O útero lembra uma pera: é formado pela cavidade endometrial ou corpo uterino, que é a parte mais ‘gordinha’, e o colo do útero, que seria o cabinho da fruta”, explica o ginecologista Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês e do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
O pólipo pode ser endometrial, quando acomete o corpo uterino, ou endocervical, se é detectado no colo do útero. Por motivos que não são totalmente compreendidos, as células locais começam a se proliferar mais do que o normal, o que dá origem a essa estrutura diferente, formada por um tecido fibrótico (mais endurecido).
Esse crescimento atípico não apresenta doenças ou traz grandes complicações. Porém, pode gerar sangramentos fora de hora, alterações no fluxo menstrual e dificuldade para engravidar. Nesse cenário, é comum o médico indicar a retirada cirúrgica dos pólipos.
A relação entre pólipos e infertilidade
Para que a gravidez aconteça, o óvulo fertilizado precisa “grudar” no endométrio, a camada que reveste o útero. “Qualquer alteração ali complica essa implementação”, conta a ginecologista Juliana Sperandio, médica da Clínica Alira.
Primeiro, porque pode atrapalhar o trajeto do espermatozoide até a trompa, onde ele encontra o óvulo. “Depois, o pólipo dificulta a própria fixação e a sobrevivência do embrião no endométrio”, destaca Pupo. “Ou seja, há tanto o risco de infertilidade quanto de abortamento”, completa o ginecologista.
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Por isso, quando a mulher é considerada infértil — com menos de 35 anos e dificuldade de engravidar mesmo após um ano de tentativas — e descobre um pólipo, a recomendação é a cirurgia.
“Se não houver outra causa conhecida para a infertilidade, a remoção resolve entre 40 e 80% dos casos”, destaca Juliana.
De onde vem (e para onde vão) os pólipos
Embora essa ainda seja uma dúvida da medicina, existem algumas conjecturas. “Eles podem estar ligados a quadros inflamatórios na região ou mais sistêmicos. Ou, ainda, decorrerem de uma infecção bacteriana”, comenta Pupo.
Sabe-se também que certos hormônios femininos influenciam no processo. “Mulheres com maior quantidade de estrogênio em circulação, como as com obesidade e síndrome do ovário policístico, estão mais suscetíveis aos pólipos”, diz Juliana.
Até por isso é mais comum que eles surjam durante e após a menopausa, depois de anos e anos de exposição ao estrogênio. A boa notícia é que a maioria dos pólipos são benignos, mas todos devem ser acompanhados pelo médico, em especial nessa fase da vida.
“As evidências mostram que entre 0,2 a 3% dos pólipos possuem células que poderiam evoluir para um câncer de colo ou corpo uterino. Mas isso está mais associado à idade avançada, tamanho maior que 1,5cm e fatores de risco como a síndrome metabólica”, explica Juliana.
Diagnóstico e tratamento
O pólipo é flagrado no ultrassom transvaginal. A partir daí, o médico decide a abordagem de acordo com os impactos na vida da paciente e sua idade.
“Se é apenas um achado de exame em uma jovem, que não está trazendo nenhuma repercussão, podemos acompanhar e eventualmente propor um tratamento hormonal com DIU ou anticoncepcional para controlar o crescimento”, aponta Juliana.
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Mas, como dissemos, se a mulher estiver na menopausa, com infertilidade e outros fatores de risco, em geral é preciso fazer uma operação. Trata-se de um procedimento simples e pouco invasivo, chamado de histeroscopia cirúrgica.
Nele, o médico introduz pelo canal vaginal um cano fino, com uma câmera na ponta, que visualiza com detalhes a cavidade uterina e localiza o pólipo. “Outro equipamento acoplado resseca e remove mecanicamente o tecido”, detalha Pupo.
O pólipo retirado é enviado para biópsia e a paciente recebe alta geralmente no mesmo dia. Depois do tratamento, é preciso seguir as consultas periódicas ao ginecologista, porque novas formações podem surgir com o tempo.