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Clareamento dental: o que você precisa saber

Quer deixar os dentes brancos? Especialista esclarece as diferenças entre as técnicas disponíveis e os cuidados para tirar proveito sem riscos

Por Dr. Camillo Anauate Netto*
Atualizado em 20 set 2019, 11h00 - Publicado em 10 mar 2017, 11h04

As pesquisas do mercado de beleza são unânimes: o brasileiro é um dos povos mais vaidosos do mundo. No ranking de cirurgias plásticas realizadas anualmente, o país disputa a liderança com os Estados Unidos há alguns anos, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética. Mais de um milhão de procedimentos desse tipo são realizados anualmente no Brasil. A análise dos dados sobre a venda de cosméticos corrobora a conclusão de que a vaidade é uma das principais preocupações da nossa população. O Brasil é o quarto maior mercado consumidor desse segmento no mundo, de acordo com a Associação Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.

Tanto apreço pela imagem não poderia deixar de incluir a boca e os dentes. Apesar de não haver ainda pesquisas formais sobre o assunto, os cirurgiões-dentistas evidenciam aumento considerável na procura pelo clareamento dental. Fato é que um sorriso harmônico, com dentes alinhados e brancos, se tornou a meta de muita gente, mudando radicalmente a prioridade anterior, que era restrita à saúde oral.

Vale ressaltar, no entanto, que, por mais simples que pareça o clareamento, o procedimento não é exclusivamente estético e requer muito critério. A orientação de um cirurgião-dentista é imprescindível. Somente um profissional saberá orientar com segurança a concentração ideal do produto, a frequência, a maneira correta de aplicar o gel e o grau de branqueamento possível.

Com a idade, os dentes escurecem e isso ocorre porque o esmalte se desgasta, tornando a dentina (tecido que está por baixo e que determina a coloração dental) mais visível. A dentina vai se tornando mais densa, o que deixa os dentes mais escuros. O consumo constante de açaí, café e outros alimentos e bebidas que possuem em sua composição grandes quantidades de corantes, naturais ou artificiais, interferem na pigmentação, assim como fatores genéticos e má higiene. Além disso, o uso de tabaco e até de alguns medicamentos influencia a tonalidade.

O processo de clareamento dos dentes ocorre por meio de produtos químicos como o peróxido de carbamida e o peróxido de hidrogênio. Atualmente existem dois tipos de clareamento e ambos devem ser feitos com a supervisão de um cirurgião-dentista: o clareamento de consultório e o clareamento caseiro.

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No consultório, a manipulação é feita exclusivamente pelo profissional, que utiliza produtos com peróxido de hidrogênio, três vezes mais potente que o peróxido de carbamida utilizado na técnica caseira, com ou sem a ativação de luz ou laser. A diferença aparece em uma ou duas seções, que duram em torno de uma hora. Nesses casos, a gengiva deve ser isolada, pois o material utilizado pode causar irritações nas mucosas orais.

Já no clareamento caseiro, o cirurgião-dentista confecciona uma moldeira personalizada para o paciente, fornece o gel com a concentração ideal para o caso e monitora semanalmente sua evolução. O manejo e a utilização são realizados em casa até mesmo durante o sono. O resultado surge entre três e quatro semanas. Diferentes concentrações do peróxido de carbamida, mais utilizadas na técnica caseira, vão de 10% a 22%.

No entanto, nem sempre o tom desejado é alcançado e isso acontece porque o esmalte do dente é translúcido, mas a dentina tem o seu próprio matiz, que normalmente varia do amarelo ao laranja. Ou seja: quanto mais fino for o esmalte, mais se percebe o matiz da dentina. Durante o processo de clareamento, a cor do dente não é alterada, mas sim a saturação, o “croma” dessa cor para mais ou menos saturado. Há pacientes nos quais não há significativa alteração no grau de saturação. Daí que, antes de iniciar o clareamento dental, é preciso estar ciente dessa possibilidade.

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Como todo procedimento, o clareamento também possui contraindicações. O indivíduo com dentes muito restaurados (já que o gel não age sobre a resina), não obterá a ação efetiva do clareador, assim como pessoas com próteses e implantes. O procedimento também não é indicado para quem está passando por um tratamento médico sistêmico e debilitante. Além disso, não se deve fazer o clareamento em pessoas com menos de 18 anos e gestantes. Nos casos de quem possui manchas causadas pelo uso do antibiótico tetraciclina, hipoplasiadentinária, fluorose dentária, técnicas combinadas poderão ser aplicadas a critério do cirurgião-dentista.

A sensibilidade dentária também representa um risco, que ocorre devido à agressividade do produto utilizado durante o clareamento. Normalmente essa sensibilidade dura entre 15 dias e um mês. No clareamento caseiro, que possui um gel mais fraco, os casos de sensibilidade são menos frequentes. Para evitar esse desconforto, o cirurgião-dentista pode aplicar, antes e após o procedimento, um gel dessensibilizante que auxilia na remineralização do esmalte.

O perigo do uso indiscriminado                                                            

Desde fevereiro de 2015 existe uma resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que determina controle na comercialização de clareadores dentais. Com isso, a prescrição emitida pelo cirurgião-dentista, legalmente habilitado e inscrito no conselho profissional, deve ser exigida durante a compra desses produtos.

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Infelizmente essa regra nem sempre é seguida e kits de clareamento podem ser encontrados à venda, principalmente na internet. O problema é que esses produtos quase sempre são anunciados por pessoas leigas no assunto, que não fornecem a procedência nem a composição do clareador, colocando a saúde dos usuários em risco.

O uso indiscriminado e sem orientação de um cirurgião-dentista pode causar até mesmo danos irreversíveis. Os problemas vão desde inflamação nas gengivas e sangramento, até ulceração, necrose da polpa (morte do nervo dental) e fraturas no dente.

Vale ressaltar que a resolução não tem como foco proibir o uso desses produtos pela população, mas esclarecer que os géis clareadores são destinados ao tratamento odontológico, cuja indicação terapêutica necessita de avaliação e acompanhamento do cirurgião-dentista. Sem a supervisão de um profissional competente, a população estará sujeita aos riscos da automedicação.

Dr. Camillo Anauate Netto é cirurgião-dentista e secretário da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)

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