9 mitos e verdades sobre os dentes do siso
Especialista esclarece as principais questões que rondam o terceiro molar e o procedimento para extrai-lo
A Teoria da Evolução proposta por Charles Darwin (1809-1882) permite entender como nós e outras espécies mudamos com o passar do tempo. No caso do corpo humano, podemos observar esse fenômeno por meio de alguns órgãos e estruturas que já tiveram utilidade no passado, mas que hoje perderam sua razão de ser. Chamados de órgãos vestigiais, eles foram desaparecendo ou se retraindo com o avançar dos anos. Fazem parte desse grupo o cóccix (no limiar da coluna vertebral), o apêndice (no intestino) e, na arcada dentária, o terceiro molar, mais conhecido como dente do siso.
O terceiro molar é uma herança dos nossos ancestrais mais primitivos, que o usavam para triturar os alimentos que, além de serem consumidos crus, eram mais duros. Com os métodos de cocção e um padrão de alimentação mais pastoso, a utilização desse dente foi se reduzindo.
Ao avaliarmos as mandíbulas de homens pré-históricos, notamos que elas eram muito maiores. Inclusive havia um quarto molar, já extinto com a evolução da nossa espécie.
Com o passar dos séculos, nossa arcada dentária diminuiu de tamanho e, consequentemente, há menos espaço para esses dentes na boca. Além disso, nosso cérebro cresceu, exigindo mais espaço na caixa craniana e fazendo com que o maxilar se tornasse incapaz de acomodar os antigos 32 dentes.
O dente do siso ficou, assim, obsoleto e sem espaço.
Por serem os últimos a nascer, normalmente entre os 16 e os 20 anos de idade, ganharam o apelido de “dentes do juízo”. Passando por essa longa história evolutiva, os dentes do siso continuam na boca do povo hoje como tema de questionamentos, dúvidas e aflições. Afinal, se perderam sua função biológica, por que ainda despontam na arcada dentária? Será que a solução é extrai-lo de vez? Isso se aplica a todo mundo? É hora de esclarecer o que é mito e o que é verdade nessa história.
1. Algumas pessoas nascem sem o dente do siso → Verdade.
De fato, há quem não desenvolva os terceiros molares. Isso ocorre porque alguns indivíduos nascem sem o germe (base) que dá origem a esse dente.
2. O dente do siso pode “entortar” os demais dentes → Mito
Um dente não tem o potencial de empurrar os outros. O que desalinha os dentes é a forma como se usa a boca e também o pouco espaço entre os dentes para acomodá-los na arcada.
3. O dente do siso está exposto às cáries mesmo antes de nascer → Mito
O dente só passa a estar sujeito a cáries quando inicia o seu processo de erupção, que, por menor que seja, acaba expondo parte dele. Como a gengiva em volta do dente fica na forma de capuz, retendo alimentos no local, ela pode inflamar, provocando dor e desconforto. Nesses casos, muitas vezes é necessário um recorte gengival para eliminar esse tecido e permitir que o dente nasça normalmente. Nos casos em que não há espaço suficiente, o dente deve ser extraído. Dependendo do tempo que este capuz permanece no local e da retenção de alimentos sob o mesmo, as cáries podem surgir.
4. O dente do siso é maior do que os outros dentes do fundo → Mito
Não existe um padrão para os dentes do siso. Podem ser pequenos ou grandes, ter diversas raízes e até o formato da coroa (parte externa do dente) variado. Há casos em que são menores que os outros dentes ou têm uma forma anômala.
5. O repouso é necessário após a retirada do dente → Verdade
A extração do dente do siso é um procedimento cirúrgico. Por isso, o repouso é necessário. O tempo dependerá do nível de complexidade da cirurgia. Há dentes do siso que são facilmente removidos, sem deixar uma ferida cirúrgica muito extensa, o que cobra um período de repouso menor. Já nos casos em que são necessários procedimentos mais invasivos, o tempo de recuperação tende a ser maior.
6. É preciso esperar os dentes nascerem para retirá-los → Mito
Os sisos podem ser extraídos mesmo quando não estão visíveis na gengiva. Por meio de radiografias é possível saber se o posicionamento está problemático e, portanto, identificar se a extração é necessária. Além disso, existe uma membrana que recobre o dente que ainda não nasceu e algumas vezes ela pode sofrer uma degeneração. Por essa razão há a indicação cirúrgica de dentes inclusos ou retidos.
Aliás, o melhor momento para extração dos terceiros molares é justamente quando as raízes não estão totalmente formadas. Isso varia entre os 15 e 17 anos de vida. Não só facilita a realização do procedimento como minimiza riscos. Depois dos 30 anos, o osso se torna mais duro e as raízes totalmente formadas tornam a cirurgia de remoção mais complexa.
7. Quando um dente do siso é extraído, os demais também precisam ser retirados → Mito
A retirada de um dente não implica a eliminação dos demais. A recomendação é que, se ocorrer a extração do dente superior esquerdo, o inferior do mesmo lado também seja retirado, por causa da chamada extrusão dentária, quando o dente “desce” para buscar seu antagonista.
8. A pessoa pode escovar os dentes normalmente após a cirurgia → Mito
Como um procedimento cirúrgico foi realizado, a escovação, principalmente no local da cirurgia, deve ser feita de maneira cautelosa. No entanto, no restante da boca pode ocorrer normalmente.
9. O dente do siso pode conter células-tronco → Verdade
Os dentes do siso, assim como os outros dentes, têm suas polpas ricas em células-tronco. Entretanto, a coleta dessas células precisa ser realizada em clínicas especializadas e no momento da extração.
* Dr. José Roberto Barone é cirurgião-dentista e presidente da Câmara Técnica de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)