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Quando se trata da segurança dos alimentos, tudo tem limite!

Engenheira agrônoma conta como a legislação, os estudos e a fiscalização ajudam a garantir a segurança do que é produzido com defensivos agrícolas no país

Por Andreza Martinez, engenheira agrônoma*
4 ago 2021, 10h34
ilustração de milho gigante sendo analisado por cientistas
Produtores precisam obedecer regras da Anvisa quanto ao uso de agrotóxicos. Agência também fiscaliza alimentos em pontos de venda.  (Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)
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Durante a pandemia da Covid-19, as preocupações com a saúde ganharam uma nova dimensão. Ações como lavar as mãos com frequência, usar álcool em gel e tirar os sapatos antes de entrar em casa passaram a fazer parte da rotina e, certamente, salvaram muitas vidas. Mas, sem tratamento efetivo, o que nos trouxe alívio mesmo foi a chegada das vacinas.

Os agricultores conhecem bem essa realidade. Doenças e pragas são ameaças constantes no campo. Sem controle, podem destruir lavouras, comprometer a produção e o fornecimento de alimentos para a população. Para ter ideia do tamanho do problema, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) afirma que o mundo perde entre 20 e 40% de todo o alimento que produz por causa do ataque de pragas e doenças agrícolas.

Por isso, da mesma forma que recorremos a vacinas e medicamentos para prevenir e curar doenças, os produtores rurais precisam dos defensivos agrícolas para proteger suas lavouras. É o que garante comida em quantidade e a preços acessíveis.

Ainda assim, há quem questione essa prática. Entre as alegações de quem é contra o uso de agrotóxicos, está a possibilidade de que esses produtos deixem resíduos nos alimentos e prejudiquem a saúde da população.

Pensando objetivamente, praticamente tudo que usamos no nosso dia a dia deixa resquícios. O sabão de lavar roupa, o combustível do carro e os remédios que tomamos para tratar doenças, por exemplo, não desaparecem magicamente do ambiente.

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No caso dos agrotóxicos, a ciência criou parâmetros para avaliar as consequências da exposição humana a esses resíduos e estabeleceu limites seguros para a saúde das pessoas. No Brasil, quem determina os limites é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão faz parte do sistema regulatório federal e avalia cada defensivo agrícola antes de conceder o registro para uso no campo.

As análises da Anvisa seguem metodologias internacionais cientificamente reconhecidas. Entre elas, os protocolos determinados pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Quando aprova um defensivo, a agência determina um Limite Máximo de Resíduo (LMR), expresso em miligramas do agrotóxico por quilo do alimento (mg/Kg), que pode restar no produto após a aplicação do agrotóxico. O LMR é um parâmetro agronômico, obtido em estudos de campo que simulam o uso correto do produto pelo agricultor.

Esse valor é um dos componentes empregados no cálculo da IDA (Ingestão Diária Aceitável), o limite de segurança para a saúde humana. Medida em miligramas de agrotóxico por quilo de peso da pessoa que consome o alimento tratado, a IDA é determinada a partir da maior dose administrada em cobaias de laboratório que não causou alterações metabólicas. Essa dose é, depois, dividida por 100, ou seja, representa apenas 1% da porção que não causou nenhum problema.

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Extrapolando os dados de animais para humanos, se estabelece a quantidade máxima de agrotóxico que podemos ingerir por dia, durante toda a vida, sem causar qualquer dano à saúde. Vale ressaltar que o uso de animais em ensaios toxicológicos exigidos para os agrotóxicos vem sendo reduzido ano a ano, com o maior desenvolvimento de testes in vitro (em células).

Também é preciso monitorar e fiscalizar se as regras estão sendo cumpridas. No Brasil, existem sistemas com essa finalidade voltados ao campo e aos pontos de venda. Desde 2001, por exemplo, a Anvisa coordena o PARA (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos), que analisa alimentos frescos coletados nos mercados.

Na última década, os resultados do programa apontam índices muito baixos e decrescentes de produtos com resíduos acima do permitido. Em 2011, foram 2,3% das amostras; em 2015, 1,11%; e, no último relatório, apresentado em 2019, de 4 616 amostras de alimentos testados para a presença de 270 ingredientes ativos de defensivos agrícolas, apenas 0,89% apresentava risco agudo para os consumidores brasileiros.

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Devido à pandemia, o PARA teve dificuldades para realizar a coleta de amostras em 2020 e a Anvisa ainda não divulgou os resultados dos últimos dois anos. Mas, de acordo com o histórico do programa, o consumidor brasileiro pode ficar tranquilo. Os alimentos produzidos e vendidos no país são seguros.

* Andreza Martinez é engenheira agrônoma, mestre em Entomologia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e diretora da divisão de defensivos químicos da CropLife Brasil

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