Psicoterapia na era digital
No novo normal, ferramentas digitais são aliadas indispensáveis para o tratamento dos transtornos mentais
A saúde mental dos brasileiros sempre foi uma preocupação constante. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), antes da pandemia da Covid-19 já éramos o país mais ansioso do mundo e também apresentávamos a maior incidência de depressão da América Latina, impactando cerca de 12 milhões de pessoas.
Agora a situação se agravou: estudo feito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) indica um aumento de 90% nos casos de transtorno depressivo. Já o número de pessoas com crises de ansiedade e sintomas de estresse agudo praticamente dobrou entre março e abril de 2020.
Esses números só revelam quanto precisamos estar atentos ao nosso estado psicológico, que adoece tanto quanto o corpo. Além disso, superar os desafios deixados na mente durante essa crise ainda vai levar um bom tempo, mas a tecnologia está ao nosso lado para auxiliar.
Posso afirmar que a psicologia tem uma relação antiga com a tecnologia: começou ainda por volta de 1960, quando o primeiro computador terapeuta apareceu. O aparelho, apelidado de Eliza e criado pelo cientista alemão Joseph Weizenbaum, foi ensinado a responder de maneira semelhante a uma técnica popularizada pelo psicólogo americano Carl Rogers (a chamada reflexão rogeriana, que consiste em tentar repetir para o paciente aquilo que ele acabou de lhe falar). A ideia era mostrar que, muitas vezes, precisamos apenas nos ouvir para escolher mudar.
No novo normal, não podemos deixar de falar da telemedicina e da telessaúde. Sua incorporação no país significou a diferença entre assistência e desespero para milhões de pessoas que precisaram de cuidados em saúde mental. E não estou falando apenas de consultas psiquiátricas, que antes disso só podiam ser realizadas presencialmente, mas também de atendimentos psicoterápicos. Agora, vemos o nosso legislativo discutindo fortemente a oficialização da modalidade, o que é uma excelente notícia para os brasileiros.
Hoje já contamos inclusive com aplicativos que conectam pacientes com uma rede de psicólogos e oferecem suporte a um problema pontual para que não se transforme em uma desordem psíquica. Dessa maneira, o programa lembra o paciente da consulta agendada, pede avaliação da consulta, marca o horário das medicações, além de medir a evolução do tratamento.
Outras tecnologias estão sendo potencializadas para ajudar no controle de diversas doenças mentais. Temos inúmeras soluções de inteligência artificial, como o chatbot que auxilia a pessoa a fazer uma autoavaliação e serve para uma emergência quando seu terapeuta não está disponível.
A tecnologia se tornou uma porta de entrada para vários brasileiros que tinham algum preconceito com as terapias convencionais e conseguem acessar esses outros meios a partir de uma conexão com internet. Sem sua aplicação em nosso dia a dia, seria impossível expandir as consultas com o mesmo padrão de qualidade.
Dessa maneira, o cuidado com a saúde mental se mantém mesmo longe dos consultórios. Essas ferramentas são grandes aliadas em diversos tratamentos e estão disponíveis para que os profissionais deem um diagnóstico mais rápido e preciso, além de oferecer o melhor tratamento. Os robôs não vão substituir os terapeutas, mas serão indispensáveis para garantir e ampliar o tratamento dos transtornos mentais.
* Paulo Vaz é CEO da eCare Group