Os avanços no tratamento do câncer de próstata
Urologista resume os progressos no controle da doença, que sempre se beneficia do diagnóstico precoce
Todos os anos, campanhas de conscientização são realizadas sobre a importância da prevenção e da detecção do câncer de próstata, o tipo de tumor com maior incidência em homens, excetuando-se o câncer de pele não melanoma, e a segunda causa de morte por câncer no sexo masculino. A ideia é evitar ou minimizar os impactos da doença, incentivando os homens a se cuidarem e procurarem o médico.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimam mais de 65 mil novos casos do problema somente para este ano. E cerca de 25% desses homens perdem a vida para a doença, o que equivale a 16 mil mortes por ano ou a uma morte a cada 35 minutos.
O câncer de próstata pode ser uma enfermidade grave, mas cerca de 90% dos casos conseguem ser curados desde que a detecção seja realizada precocemente. Pacientes diagnosticados com a doença na fase inicial e tumores com características de pouca agressividade podem ser orientados a fazer um acompanhamento evolutivo do quadro sem a necessidade de tratamentos mais invasivos.
É o que chamamos de espera vigilante ou vigilância ativa, um protocolo que deve ser rigorosamente seguido com exames periódicos para saber se a doença está progredindo ou não de forma desfavorável. A adoção da vigilância ativa na população indicada poupa os pacientes de sequelas que poderiam ocorrer com a cirurgia ou a radioterapia.
Quando o grau de agressividade é maior ou a doença está mais avançada, porém, partimos para tratamentos mais radicais, como a remoção cirúrgica da glândula, a quimioterapia, a hormonioterapia e a radioterapia.
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Nesse contexto, novas formas de tratamento têm surgido nos últimos anos. É o caso das terapias focais e da imunoterapia, que ampliam a possibilidade de tratar os pacientes de forma mais efetiva e individualizada.
Cirurgia e radioterapia continuam sendo os recursos mais utilizados e eficazes para homens com câncer sem sinais de disseminação. E a remoção cirúrgica da glândula passou por um grande avanço com a introdução das técnicas menos invasivas como a laparoscopia e a prostatectomia radical robótica.
Esses procedimentos resultam em uma hospitalização mais curta e numa recuperação clínica mais rápida, com menos complicações pós-operatórias e sequelas como incontinência urinária e disfunção erétil.
A radioterapia também passou por inovações com a introdução de softwares computadorizados que permitem que os feixes de radiação sejam direcionados com maior precisão, reduzindo a agressão para os órgãos adjacentes à próstata (bexiga, intestino…). Assim, podemos lançar mão de doses mais elevadas naquele alvo, o que se reflete em melhores resultados.
Com a intenção de reduzir as complicações relacionadas aos procedimentos mais agressivos, o tratamento focal dos tumores com crioterapia, ultrassom de alta intensidade (HiFu), ablação a laser, braquiterapia e outras formas de energia também tem sido cada vez mais empregado no controle de tumores.
E devemos notar os avanços no arsenal terapêutico destinado àqueles casos em que o câncer extrapolou os limites da glândula, gerando metástase e acometendo os ossos e outros órgãos. A quimioterapia com a medicação docetaxel e novas drogas orais como a abiraterona e a enzalutamida mostraram-se eficazes em retardar a progressão da doença e melhoraram a expectativa e a qualidade de vida dos pacientes.
Num horizonte próximo, visualizamos a terapia multimodal, a imunoterapia e novos recursos da medicina de precisão, que tornarão a abordagem do câncer de próstata ainda mais personalizada e apta a respeitar as preferências do paciente.
* Geraldo Faria é presidente da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo e membro titular das associações americana e europeia de urologia