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O que o coronavírus tem a ver com trombose

Uma das complicações da Covid-19 é a obstrução de vasos sanguíneos em diferentes locais do corpo. Médico esclarece por que isso acontece

Por Dr. Edmo Atique Gabriel, cirurgião cardíaco*
Atualizado em 23 dez 2020, 13h04 - Publicado em 6 ago 2020, 14h41
coronavírus trombose
Covid-19 pode elevar risco de trombose, infarto e AVC.  (Foto: Getty Images/SAÚDE é Vital)
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Para entender a relação entre a Covid-19 e os entupimentos nos vasos, precisamos visualizar primeiro alguns elementos, estruturas e funções da circulação sanguínea. Nosso sangue é constituído de dois componentes básicos, o plasma e os glóbulos vermelhos e brancos. O plasma representa a parte líquida em si e os glóbulos são as células que compõem a parte mais viscosa. O equilíbrio entre o volume de plasma e a quantidade dessas células é condição fundamental para a sua fluidez e o deslocamento pelos vasos.

O sistema circulatório por onde trafega o sangue também pode ser dividido em dois compartimentos, o macro e o microvascular. Como os nomes sugerem, o primeiro se refere a veias e artérias de maior calibre, facilmente vistas em exames de imagem ou cirurgias. O segundo se refere a vasos minúsculos, alguns só identificados por microscópio, como os capilares. Tanto os maiores como os menores são cruciais para o sangue chegar aonde tem de chegar.

O tecido que reveste internamente qualquer vaso sanguíneo, de ambos os compartimentos, é conhecido como endotélio. Em extensão, ele é o maior órgão do corpo humano. Uma série de fatores pode levar ao desequilíbrio nos componentes do sangue ou mesmo a uma lesão no endotélio, num processo capaz de culminar no entupimento do vaso sanguíneo. Esse é o mecanismo de base para tromboses, infartos e alguns tipos de AVC.

Entre os fatores perigosos para as veias e as artérias, estão alimentação desregrada, sedentarismo, tabagismo e outros comportamentos inadequados e inclusive infecções bacterianas e virais. Em tempos de Covid-19, além da agressão do vírus em si, muitas pessoas se viram afetadas pela incorporação de hábitos não saudáveis e os desafios emocionais tornaram-se mais frequentes. Isso agrava quadros pré-existentes e amplia o risco de desordens cardiovasculares.

A necessidade de permanecer mais tempo em casa vem favorecendo o maior consumo de calorias provenientes de alimentos ricos em açúcar e gordura, refrigerantes e bebidas alcoólicas. O distanciamento social, por sua vez, vem dificultando a prática de atividade física e, em alguns lares, há quem tenha até mais tempo e vontade de fumar.

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As incertezas que permeiam a pandemia têm levado muitas pessoas a desenvolver quadros de pânico, angústia, depressão, ansiedade e insônia. Na rotina dos consultórios cardiológicos, aumentou significativamente o número de pacientes com essas desordens emocionais e suas diferentes repercussões cardiovasculares, que incluem hipertensão, arritmias e até tromboses.

O coronavírus e a trombose

A trombose se refere à formação de um coágulo (ou trombo) que, em algum lugar do sistema circulatório, leva à obstrução do vaso sanguíneo. Ela ocorre em função de alterações na capacidade de o sangue se coagular. Uma das coisas que aumentam o risco de o sangue coagular além da conta e formar trombos é uma infecção com potencial sistêmico como a Covid-19.

Quando uma pessoa se contamina com o coronavírus e desenvolve sintomas, o primeiro órgão afetado costuma ser o pulmão. O vírus ingressa no corpo pela respiração e chega até lá pelas vias aéreas. Nos pulmões de alguns pacientes, ocorre um processo inflamatório intenso (a tempestade inflamatória) que, com o passar das horas ou dos dias, tende a afetar outras regiões do corpo.

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Esse fenômeno é caracterizado pela liberação de uma grande quantidade de substâncias inflamatórias na corrente sanguínea. E muitas delas contribuem para os desequilíbrios que levam à trombose: lesão no endotélio ou coagulação disseminada dentro do vaso. Esses dois mecanismos ocorrem praticamente de forma sobreposta, elevando a gravidade do quadro e a necessidade de diagnóstico e medidas terapêuticas precoces, como a utilização de remédios anticoagulantes.

Nas pessoas de maior risco para Covid-19, os sintomas agudos do contato com o vírus são febre, dor de cabeça, alteração de olfato e paladar e falta de ar. Após os dez primeiros dias da infecção, nota-se que essas pessoas podem apresentar maior suscetibilidade ou sinais clínicos de trombose pelo corpo. Isso significa que tais pacientes correm maior risco de ter quadros graves envolvendo obstruções em vasos do coração, do pulmão ou mesmo do cérebro. Daí a importância de não demorar a procurar atenção médica.

Da mesma forma, pessoas com doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, entre outras que apresentam maior propensão a problemas de coagulação, também devem redobrar os cuidados de prevenção e manter contato com o médico caso haja suspeita de Covid-19. Quanto antes flagrarmos uma trombose, melhores as perspectivas de solução.

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* Dr. Edmo Atique Gabriel é cardiologista e cirurgião cardiovascular, professor livre-docente, conselheiro de residência médica do Ministério da Educação e autor do blog Coração Moderno

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