Clique e Assine VEJA SAÚDE por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Teste do pezinho: 40 anos detectando doenças congênitas no Brasil

Mais preciso e completo, o exame continua indispensável para garantir às crianças um futuro saudável

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 5 dez 2017, 11h08 - Publicado em 28 out 2016, 08h00
teste
Seu filho passou pelo teste do pezinho? (Foto Istock/ Ilustrações Bruno Nunes/iStock)
Continua após publicidade

Vinte dias depois do nascimento de Benício, seu segundo filho, Regiane Nunes, de Osasco, recebeu uma notícia inesperada. O teste do pezinho, feito ainda na maternidade, acusava uma alteração e a dona de casa deveria procurar quanto antes a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais, a Apae. “Descobrimos logo cedo que Benício tinha fenilcetonúria e, por isso, precisaria controlar a dieta e tomar uma fórmula especial para o resto da vida”, conta a mãe do menino, que, sete anos depois, está muito bem de saúde e gosta mais de brincar do que de estudar. A rapidez no diagnóstico foi crucial para impedir que o distúrbio de nome complicado prejudicasse o desenvolvimento do garoto.

“Portadores dessa condição acumulam grandes doses de fenilalanina, substância que, em excesso, afeta os neurônios e gera outras repercussões pelo organismo”, explica o médico Zan Mustacchi, presidente do Departamento de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria. Embora o tratamento seja relativamente simples, a eficácia completa depende que ele seja iniciado ainda nos primeiros meses de vida. E essa agilidade na conduta, por sua vez, requer detecção precoce, de preferência poucos dias depois de o bebê vir ao mundo. É aí que entra o teste do pezinho, procedimento trazido pela Apae de São Paulo ao país em 1976 e que, de lá pra cá, tem permitido salvar (ou melhorar) a vida de milhares de crianças como Benício.

A técnica veio dos Estados Unidos e inovou pela seguinte sacada: coletar o sangue do recém-nascido com um furinho no calcanhar e acomodá-lo em um papel-filtro que, mais duradouro, poderia ser enviado até pelos Correios para análise. Um médico exerceu papel fundamental na introdução do método por aqui, Benjamin José Schmidt (1931-2009). “Ele foi o primeiro profissional brasileiro a defender, junto à Apae, um exame que detectasse rapidamente desordens genéticas importantes”, conta Mustacchi.

Referência na triagem neonatal, o teste do pezinho se tornou obrigatório por lei em todo o território nacional em 1992. Hoje, o SUS fornece gratuitamente a versão que flagra seis doenças, caso da fenilcetonúria. “A implementação é um marco na saúde pública do país, que se destaca internacionalmente pela alta abrangência do método”, diz João Baccara, coordenador de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde.

O teste do pezinho é feito em alguns minutos, mas sua importância pode durar uma vida toda. “Algumas das doenças diagnosticadas precocemente podem levar à morte ou provocar danos neurológicos irreversíveis se não forem tratadas a tempo”, afirma a hematologista Vitória Régia Pinheiro, coordenadora do Centro Integrado de Pesquisas Onco-Hematológicas na Infância da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para a maioria dessas condições, é crítico que a assistência comece antes do primeiro mês do bebê.

Leia mais: Bebês prematuros se beneficiam pra valer do contato com a mãe

Continua após a publicidade

A fim de garantir a precisão do exame, os profissionais aguardam 48 horas após o parto para colher as amostras. “É depois desse período que o organismo passa a funcionar completamente sozinho”, justifica a bioquímica Sônia Hadachi, supervisora do Laboratório de Triagem Neonatal da Apae de São Paulo, instituição que permanece referência no assunto. Os especialistas consideram o intervalo entre o segundo e o quinto dia de vida a janela ideal para realizar a prova, que, vale esclarecer, serve como triagem. Ou seja, se há alguma alteração, a coleta é refeita e novos exames podem ser solicitados para fechar o diagnóstico. Em caso de uma alteração confirmada, o laboratório ou hospital deve convocar a família, que, a partir daí, receberá orientações, bem como o acompanhamento e o tratamento pertinente à criança.

Os próximos passos

A inclusão mais recente de novos transtornos na versão gratuita do teste ocorreu em 2013, quando se passou a investigar também a hiperplasia adrenal congênita e a deficiência de biotinidase. A tecnologia atual permite que outras dezenas de mazelas genéticas sejam rastreadas, desde que se pague por isso – a modalidade mais completa do exame, só disponível no modelo particular, caça 48 problemas. “É que o programa público privilegia as doenças mais prevalentes na população”, explica a endocrinologista Tania Bachega, da Universidade de São Paulo (USP).

Leia mais: Crianças com febre: saiba quando recorrer a remédios

Mais importante que ampliar o rol de distúrbios do procedimento é assegurar que ele chegue a 100% das maternidades do país. Embora o governo tenha instituído o programa nacional de triagem neonatal em 2001, estima-se que 16% das crianças ainda não passam pela prova ao nascer. “Os próximos esforços devem contemplar maior rapidez na coleta e a conscientização tanto da população quanto dos profissionais de saúde”, avalia Tania. A causa é nobre e o destino de muitos brasileirinhos por vir já agradece.

Continua após a publicidade

Detecção mais certeira em doença grave

Um em cada 10 mil bebês nasce com hiperplasia adrenal congênita, mal que bagunça a produção de alguns hormônios e, na sua forma mais grave, pode causar morte em até 15 dias depois do parto. Felizmente, há tratamento, só que ele tem de começar cedo. O problema é que o teste do pezinho apresentava um alto índice de resultados falsos positivos – ou seja, o laudo sugere a doença, mas a criança não é portadora. De olho nisso, um grupo liderado pela professora Tania Bachega, da USP, conseguiu refinar os parâmetros da triagem e propor um novo método para confirmar o diagnóstico. Assim, a taxa de falsos positivos caiu de 1% para 0,2%. Pelo pioneirismo, o trabalho ganhou um dos troféus do Prêmio SAÚDE 2015.

Um exame, quatro versões
Conheça os tipos de teste do pezinho disponíveis hoje

BÁSICO: É gratuito, fornecido pelo SUS e obrigatório por lei. Identifica seis distúrbios genéticos, como anemia falciforme e fenilcetonúria.

MAIS: Acrescenta quatro doenças à lista, caso da toxoplasmose congênita. A exemplo dos próximos, só está disponível na rede particular.

Continua após a publicidade

SUPER: Utiliza uma tecnologia mais avançada para investigar a presença de 48 condições. É considerada a versão mais completa hoje.

SCID/AGAMA: Mais recente, procura síndromes que abalam a imunidade. Pode ser associado aos outros ou requisitado isoladamente.

O teste em números

2 489 894 bebês brasileiros foram submetidos à triagem neonatal em 2015. Isso corresponde a 83,57% das crianças nascidas vivas no país. Desse contingente, 3 592 pequenos foram diagnosticados com uma das seis doenças rastreadas pelo teste do pezinho básico, oferecido pelo SUS.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 14,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.