Os óleos essenciais, líquidos altamente concentrados extraídos de plantas, ganharam a internet por suas mais variadas ações. Mas não pense que, por “serem naturais”, dispensam maiores cuidados.
Esses produtos são extremamente complexos — um só potinho chega a conter até 300 substâncias diferentes. É de se imaginar, portanto, que a sugestão de uso deve ser feita por um profissional, assim como acontece com remédios tradicionais. “Utilizar as fórmulas divulgadas nas redes sociais é muito arriscado. Cada pessoa tem um quadro físico e emocional, e o que faz bem para uma pode não cair bem em outra”, argumenta a aromaterapeuta Andrea Darco, em São Paulo.
Apesar do caráter até místico desses produtos, reforçado por informações desencontradas de grupos da internet, os compostos vêm sendo pesquisados pela comunidade científica há um bom tempo. Em alguns centros médicos, já são até empregados em conjunto com o tratamento convencional. No Hospital Européen Georges-Pompidou, na França, Andrea realiza um trabalho com pacientes de cirurgias torácicas no pré e pós-operatório. A intenção é diminuir ansiedade, estresse e dores.
Já a bióloga Marta Cristina Duarte, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Universidade Estadual de Campinas (CPQBA-Unicamp), estuda as qualidades antimicrobianas dessas misturas voláteis há 17 anos. “A observação começou por causa da resistência das bactérias aos antibióticos já conhecidos”, explica.
No laboratório da especialista, foi criada uma micropartícula que pode ser adicionada às rações de suínos para o controle de doenças bacterianas. A tecnologia, elaborada com óleos essenciais de capim-limão e palmarosa, teve sua patente recentemente concedida nos Estados Unidos e na Europa. É um exemplo de uma aplicação formal — e bem estudada — desses itens.
Na sua casa
É recomendado que as substâncias sejam aproveitadas de duas maneiras: sobre a pele ou em um difusor que espalha seus aromas pelo ambiente. Por serem potentes, devem ser aplicadas no corpo diluídas em uma base gordurosa vegetal, que facilitará a absorção. “Compre um produto de marca confiável, com todos os certificados de pureza”, sugere o naturólogo Guiherme Peniche, da Associação Paulista de Naturologia e pesquisador da Universidade de São Paulo. “E fique de olho nas essências: apesar de cheirosas, elas não possuem propriedades terapêuticas”, arremata.
Mas vá com calma: o uso não está liberado para todo mundo. “Grávidas, crianças com menos de 3 anos, idosos, epiléticos, cardíacos, pessoas com síndromes em geral e que tomam muitos remédios não devem recorrer aos óleos essenciais antes de passarem por uma avaliação criteriosa”, ressalta Andrea. Para não arriscar, convém dialogar com um profissional de saúde antes de experimentar os óleos essenciais para fins terapêuticos. E nunca abandone a terapia convencional antes de se consultar, combinado?
Andrea também chama a atenção para as substâncias fotossensibilizantes (que causam queimaduras ao entrar em contato com raios solares). Óleos essenciais à base de laranja, limão, tangerina e gengibre, por exemplo, podem provocar danos na pele se, após a aplicação, você sair andando ao ar livre.
Abaixo, listamos três óleos essenciais que, além da fama no mundo online, são extensamente estudados por instituições científicas. Antes de investir de vez, saiba que eles não operam milagres e não se esqueça de procurar um profissional. Peniche deixa o alerta: “Não é porque é natural que não faz mal”.
Lavanda
É especialmente indicada para quem tem dificuldade para dormir ou enfrenta quadros de ansiedade. De acordo com uma revisão de conduzida na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, a maioria das pesquisas incluídas nessa análise apontou um impacto positivo no sono de pessoas que utilizaram a lavanda.
O mecanismo responsável por esse efeito pode ser explicado por outro experimento, desta vez da Universidade de Miami, também em solo americano. Os cientistas descobriram que pingar o óleo em banhos de bebês reduz os níveis de cortisol tanto na criança quanto na mãe — com a queda do hormônio do estresse, as noites ficam mais tranquilas.
A princípio, é um óleo seguro. Mas não deixe de conversar com o médico sobre ele, principalmente se você se encaixar em um daqueles perfis que mencionamos antes.
Melaleuca
Ela tem demonstrado bons resultados contra uma condição em particular: a acne. Em um teste realizado pelo Hospital Royal Prince Alfred, na Austrália, pacientes que sofriam com esse problema aplicaram ou uma solução 5% de peróxido de benzoílo, uma das principais terapias contra as espinhas, ou uma loção com a mesma concentração de melaleuca.
Ambos os tratamentos foram eficazes — o alternativo agiu mais lentamente, mas gerou menos efeitos colaterais. Apesar de diversos estudos sugerirem que a substância soma forças contra os agentes infecciosos, faltam evidências de grandes pesquisas clínicas para que, de fato, a palavra final sobre as propriedades antimicrobianas do óleo seja dada.
Ah! E ele também não apresenta contraindicações especiais.
Alecrim
Mais de 60 pessoas se voluntariaram para, supostamente, testar uma nova bebida vitaminada na Universidade Northumbria, na Inglaterra. Chegando lá, dirigiram-se para três salas diferentes: a primeira fora aromatizada com óleo de alecrim; a segunda não tinha cheiro e a terceira exalava lavanda.
Ocorre que a história da água com vitaminas não passava de balela. Os investigadores queriam mesmo era avaliar a memória dos participantes em cada recinto — sem que os indivíduos soubessem disso.
Os resultados de provas preenchidas por esses participantes confirmaram a característica mais estudada do alecrim: a de turbinar o cérebro. A explicação para o fenômeno, segundo os especialistas, recai sobre o composto 1,8-cineol, que aumentaria a disponibilidade do neurotransmissor acetilcolina, importantíssimo para o sistema nervoso central.
Só tome cuidado para não achar que o óleo essencial de alecrim cura demências, ok? Ele pode até ajudar e melhorar seu raciocínio e a relaxar, porém não vai restabelecer a saúde de neurônios abalados.
Contraindicação especial: hipertensos não deveriam utilizá-lo.