Por que nós (e nossos antepassados) sofremos uma dor lancinante sempre que perdemos uma pessoa amada? O neurocientista canadense Steven Pinker passou anos estudando essa questão do luto. Para ele, a tristeza intensa funciona como uma espécie de sentimento intimidador que nos obriga a cuidar bem uns dos outros — ora, se a morte de um ente querido provoca tanto desgosto, nada mais natural do que fazer de tudo para evitar isso. Dito de outra maneira, a principal incumbência desse tipo de melancolia é fortalecer nossos laços sociais, um fator essencial para a sobrevivência da espécie. Pinker escreveu, em seu livro Como a mente funciona, que o luto precisa ser “certeiro e implacável” para cumprir essa função.
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Segundo o psicólogo Ricardo Wainer, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, existem outros fatores que se somam a esse processo. “O ser humano é o único animal que possui uma perspectiva de futuro. Isso faz com que o processo de luto seja mais complexo e o medo da morte, mais acentuado”, explica.
“Um luto bem elaborado não é um luto sem dor. Ela não só faz parte como é necessária nesse momento”, reforça a psicóloga Carolina Halperin, da Wainer Psicologia Cognitiva, em Porto Alegre. Mas como trabalhar de forma adequada essa fase da vida? Uma coisa é certa: tentar rejeitar o sofrimento (ou o choro) não funciona. Aliás, essas tentativas de supressão da dor abrem as portas para transtornos psiquiátricos e mesmo doenças psicossomáticas.
Elaborar bem essa tristeza significa adaptar-se a ela e reaprender a viver sem a pessoa perdida. Sim, isso não acontece de uma hora para outra – cada um tem seu tempo para isso. Uma das teorias mais aceitas hoje em dia, estruturada pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, lista os cinco estágios do luto:
- Negação: fase em que se contraria a realidade.
- Raiva: a revolta toma conta.
- Barganha: momento em que a pessoa enlutada passa a negociar com o meio.
- Depressão: isolamento, melancolia e impotência marcam presença.
- Aceitação: fase na qual o desespero dá lugar à compreensão dos fatos.
É importante vivenciar todas essas etapas — não necessariamente de forma linear — para digerir a ocorrência de forma saudável. A fase mais intensa da angústia pode durar até um ano em adultos e seis meses em crianças (e mesmo assim ser considerada natural). Só tenha em mente que esses números não são uma regra fechada. “A sociedade, cada vez mais imediatista, muitas vezes exige que se supere o problema com rapidez. Isso é errado”, alerta Wainer. “O ideal é que a pessoa possa expressar a dor, o choque e a saudade”, completa Carolina. Ou seja, tente dar apoio em vez de cobrar uma mudança repentina de atitude. Frases como “a vida continua” ou “saia dessa” podem sair pela culatra.
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Agora, por ser uma fase que exige muita energia, a pessoas enlutadas estão mais sujeitas a problemas de saúde. “É um processo permeado por estresse e ansiedade. Além disso, é comum que o sujeito apresente sintomas depressivos. “Isso tem impacto no organismo, como o aumento na produção de cortisol [hormônio do estresse] e uma queda na imunidade. Se o paciente for mais velho, fica ainda mais vulnerável”, diz Wainer.
“Terapias cognitivo-comportamental são as mais indicadas para ajudar nesses casos”, recomenda Carolina. “Por meio da conversa, ajudamos a entender o que a pessoa perdeu,o que está sentindo e como buscar formas de se reestruturar”, esclarece. Nesse sentido, o acolhimento da família e dos amigos é fundamental. “Assim como é importante que a gente, enquanto sociedade, pare de julgar os lutos alheios”, conclui Carolina.