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Mamar para ficar esperto

Pesquisa brasileira associa o aleitamento materno a um maior QI e a um melhor nível de escolaridade lá na vida adulta

Por Débora Fiorini (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 10h27 - Publicado em 16 set 2015, 10h03
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Que o leite materno faz bem você já sabe. É um daqueles exemplos de quão inteligente é a natureza, capaz de suprir, de mãe pra filho, tudo de que o bebê precisa para crescer e aparecer. Inclusive intelectualmente. Já existem estudos apontando que a amamentação nutre a capacidade cognitiva da criançada. E, agora, surgem fortes indícios de que esse efeito tem repercussão até em longo prazo. Um levantamento realizado no Brasil identificou uma relação direta entre o aleitamento na infância e um maior desenvolvimento intelectual na fase adulta.

Coordenada pela Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, a pesquisa publicada no renomado periódico científico The Lancet se valeu de informações colhidas em três décadas. Ela constatou o seguinte: pessoas que foram amamentadas durante no mínimo um ano tinham até quatro pontos a mais nas avaliações de QI (o quociente de inteligência) em comparação com os indivíduos que mamaram por menos de um mês.

A descoberta é fruto de uma investigação iniciada em 1982, quando recém-nascidos de Pelotas, no interior gaúcho, foram cadastrados em um banco de dados. De lá pra cá, os 3 493 participantes (de todas as classes sociais) passaram por vários exames e questionários. Entre 2012 e 2013, os pesquisadores cruzaram os achados e notaram que, além da diferença no QI, as pessoas que mamaram por mais tempo também frequentaram a escola por um maior período e possuíam melhor renda em relação a quem foi amamentado por menos de 30 dias.
Então, a pergunta que surge de cara é: o que o leite da mãe tem de especial para garantir até mais esperteza à sua prole? Uma possível explicação recai sobre um tipo de gordura que ele carrega, os ácidos graxos de cadeia longa, como o DHA. “Eles participam da constituição dos neurônios, o que permite oferecer os meios adequados ao desenvolvimento do intelecto”, diz o epidemiologista Bernardo Lessa Horta, um dos autores do trabalho de Pelotas. Não dá para dizer que são exclusivamente eles que deixam a turma com um QI elevado, mas… “Podemos afirmar que o DHA tem grande importância na formação das funções cognitivas”, reforça a pediatra Rosa Vieira Marques, professora da Universidade do Estado do Pará.

E olha que essa gordura não é boa apenas para a cuca. Ela também compõe o nosso sistema visual, especificamente a retina, tecido no fundo dos olhos crucial à captação das imagens. E a pediatra Valdenise Calil, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que o DHA ainda está ligado a um sistema imunológico, digamos, mais sábio. Indiretamente, esses efeitos acabam influenciando os resultados encontrados na pesquisa gaúcha. Afinal, um jovem que enxerga bem e adoece pouco consegue aproveitar melhor o aprendizado em sala de aula e suas oportunidades no futuro.

Embora o DHA e outros ácidos graxos tenham um quê de protagonismo, o pediatra José Luiz Setúbal, do Hospital Infantil Sabará, na capital paulista, lembra que o leite materno é um manancial de outros compostos essenciais – proteínas, carboidratos, sais minerais, vitaminas… Esse conjunto da obra é o que deve render pontos ao bem-estar físico e mental da garotada. E, claro, também depende que a mãe cuide da sua saúde.

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Mas vem cá: podemos mesmo dizer que a amamentação abre as portas da inteligência? Considerando quão complexo é esse conceito, o médico Bernardo Lessa Horta prefere resumir assim: “A inteligência é o produto final de todo um processo que, entre outras coisas, é influenciado pelo aleitamento”. Aliás, não é só o leite em si. A própria interação entre mãe e bebê durante esse momento incentiva o desenvolvimento cognitivo. “O cérebro cresce muito nos primeiros seis meses de vida e os estímulos afetivos favorecem as conexões entre os neurônios”, esclarece Valdenise. Parece que as mamães podem até dar uma forcinha extra para as notas dos filhos lá adiante.

E quem não pode amamentar?

Existem mulheres que, por uma disfunção hormonal ou na glândula mamária, não conseguem produzir leite na quantidade necessária. Nesses casos, as mães podem recorrer aos bancos de leite espalhados pelo país – no site https://www.redeblh.fiocruz.br há uma lista com os postos de atendimento. O pediatra José Luiz Setúbal avisa, no entanto, que a atual oferta desses estabelecimentos não dá conta de toda a demanda. Para ele, as fórmulas infantis são alternativas seguras e eficazes. Ainda assim, tenha em mente que elas não possuem a mesma qualidade do leite materno.

 

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