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HIV/Aids: enfim, o autoteste

Ele será vendido em farmácias e acusa o vírus por meio de um material coletado na boca. Essa nova ferramenta vem somar pontos no combate à epidemia de aids

Por Karolina Bergamo
Atualizado em 20 fev 2017, 12h16 - Publicado em 9 mar 2016, 12h47
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  • “O que os olhos não veem o coração não sente” é um provérbio que não devia ser seguido à risca em matéria de saúde. Até porque todo o corpo vai sentir mais tarde os efeitos de uma doença inicialmente silenciosa. Pense no HIV, que ataca de forma sorrateira o organismo: se escolhemos ignorar sua possível presença, as consequências serão bem mais perturbadoras que a angústia de um eventual resultado positivo. Essa é uma questão, aliás, que ultrapassa o foro pessoal. Segundo a Unaids, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para o combate à aids, aumentar o número de testes e diagnósticos é uma estratégia decisiva para vencer a epidemia, que ainda faz 35 milhões de vítimas pelo planeta.

    “Acontece que, por mais que tenhamos por aqui uma boa rede de testagem, ainda existe muita gente que não faz o exame por tabu ou por medo da resposta”, argumenta o infectologista Ricardo Vasconcelos, do Hospital das Clínicas de São Paulo. E é no intuito de derrubar essas barreiras que foi desenvolvido o autoteste para HIV, que será comercializado em farmácias no primeiro semestre deste ano. Trata-se de um exame rápido que depende de uma amostra de fluido oral.

    A nova técnica permite que o sujeito compre o kit e realize o exame sozinho. Devido à privacidade e ao resultado em 20 minutos, a Organização Pan-Americana de Saúde projeta que o método irá atrair um grande número de pessoas. Algo tremendamente importante, se considerarmos que mais da metade dos infectados pelo mundo não está ciente de que carrega esse vírus capaz de desestruturar o sistema imunológico e deixar o organismo vulnerável a doenças oportunistas.

    Leia também: Os tabus que ainda amarram o teste de HIV

    Para entender melhor por que muita gente ainda foge da testagem, cientistas da Universidade de Londres, na Inglaterra, realizaram uma revisão de estudos sobre as restrições psicológicas à realização dos exames. E constataram que, sim, o medo do desfecho positivo ainda é um dos maiores empecilhos.

    É um erro fugir do diagnóstico. Felizmente, graças aos avanços terapêuticos, hoje em dia estar infectado com o HIV deixou de ser uma sentença de morte. “As pessoas não devem ter receio de se testar, porque o melhor que um soropositivo pode fazer por sua vida é descobrir o quadro precocemente e começar o tratamento”, afirma Vasconcelos. O psicólogo Michael Evangeli, responsável pela revisão inglesa, concorda. “Há evidências de que menos estigma e mais conhecimento sobre o vírus resultam em um número maior de exames”, conclui.

    Delação premiada

    O autoteste está disponível há dois anos nos Estados Unidos e já foi liberado para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele é classificado como um exame de triagem. Ou seja, o resultado positivo não é definitivo – precisa ser confirmado em um posto de saúde ou laboratório de análises clínicas. Já se der negativo, é sinal de que o HIV não está no pedaço. “O teste identifica os anticorpos, e não o vírus em si. Por isso, pode ter uma janela imunológica de até três meses”, avisa o infectologista Ralcyon Teixeira, supervisor do Pronto-Socorro do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo. A tal janela imunológica é o tempo que o organismo precisa para produzir os anticorpos contra o invasor em quantidades suficientes e detectáveis pelo exame. E isso pode variar de 30 a 90 dias, de acordo com o fabricante do kit.

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    Leia também: Brasileira cria teste que detecta vírus da aids em tempo recorde

    “Se esse período for respeitado, o autoteste é seguro”, afirma a biomédica Miriam Franchini, chefe da Coordenação Geral de Laboratório do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Ah, falamos de uma técnica que se vale de fluido oral, certo? Só não se engane: o HIV não fica na saliva, portanto não é transmitido por beijos ou compartilhamento de copos e talheres. No entanto, com a nova opção nas farmácias, a boca tem tudo para virar um baita delator desse inimigo.

    Como o teste é feito

    Os detalhes vêm na bula de cada kit, mas há um passo a passo em comum

    1. Coleta

    Passe o coletor na mucosa entre a gengiva e a bochecha. Tanto na parte de cima como na de baixo.

    2. Reação

    Coloque-o dentro do tubo de ensaio contendo o líquido reagente que acompanha o kit.

    3. Espera

    Uma linha de controle deve aparecer, indicando que o teste está funcionando corretamente.

    4. Resposta

    Se depois de 20 minutos uma segunda linha aparecer, o resultado foi positivo, e deve ser confirmado.

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