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Entenda como a psicoterapia pode curar o estresse pós-traumático

Pesquisa brasileira mapeia pela primeira vez as consequências do estresse pós-traumático no cérebro. E revela também como as conversas com o psicólogo desatam os nós dentro da cabeça causados por esse transtorno

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 27 out 2016, 19h12 - Publicado em 10 Maio 2012, 22h00
Reportagem: Theo Ruprecht - Edição: MdeMulher
Reportagem: Theo Ruprecht - Edição: MdeMulher (/)
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Foto: Getty Images

No dia 12 de maio de 2006, uma facção criminosa deu início a atentados em São Paulo que terminaram com a morte de mais de 100 pessoas. Durante a onda de terror, delegacias foram atacadas e membros da Polícia Militar ficaram expostos a situações de risco extremo, que acabaram afetando a mente de muitos deles, até mesmo meses após os ataques. “Era comum encontrarmos entre esses indivíduos sintomas como recordações frequentes do ocorrido e um estado de alerta exagerado e contínuo”, lembra-se o capitão Leandro Gomes Santana, psicólogo da PM. Em outras palavras, boa parte dos patrulheiros sofria com estresse pós-traumático.

Pouco antes disso tudo, o psicólogo Julio Peres, da Universidade Federal de São Paulo, pensava em maneiras de estudar o impacto desse distúrbio no interior do crânio. Com os acontecimentos, firmou uma parceria com a PM e dividiu 36 voluntários da corporação em três turmas. Os primeiros eram mais resistentes e, por isso, estavam livres do problema. Outros apresentavam o quadro e foram separados para participar de sessões de psicoterapia. E os últimos, embora também acometidos, não passariam por cuidados psicológicos nessa primeira etapa.

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Inicialmente, todos se submeteram a um exame de ressonância magnética, que gera uma fotografia da massa cinzenta. Só que, durante a avaliação, os policiais ouviam gravações daqueles momentos dramáticos justamente para reavivar a memória.

Em seguida, cada um dos selecionados para tratamento começou a se encontrar com terapeutas. Após um mês, os 36 participantes voltaram a ser examinados por meio da ressonância. “Constatamos que o cérebro dos policiais tratados, diferentemente da primeira fase da pesquisa, estava muito parecido com o dos indivíduos naturalmente mais resilientes”, esclarece Peres. “Já os com estresse pós-traumático, mas que não fizeram sessões de terapia, tinham certas estruturas até mais afetadas do que nos primeiros testes”, completa.

Os resultados deixam claro dois pontos. Um deles é que a psicoterapia está longe de ser reles coadjuvante na recuperação ou um tratamento secundário. Afinal, ela deixa a cabeça de uma pessoa que vivia traumatizada tão segura e livre de pensamentos negativos frequentes quanto a mente de um sujeito que já estava em paz. “A segunda conclusão é que, sem seu auxílio, o trauma pode até se agravar”, avisa Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente da International Stress Management Association (Isma-BR), em Porto Alegre.

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Por mais que o tempo geralmente ajude a superar lembranças doídas, conviver mais de um mês com pesadelos constantes, irritabilidade e pânico não é normal – nem saudável. “O estresse pós-traumático aumenta o risco de doenças cardiovasculares e compromete a imunidade”, ressalta William Berger, psiquiatra da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro.

Existem casos em que o estresse pós-traumático dá as caras isoladamente. “Mas, em 80% das vezes, há um distúrbio psiquiátrico associado. O principal é a depressão”, ensina Berger. E o curioso é que um pode dar o pontapé inicial para o outro. Ou seja, ao mesmo tempo que o deprimido está mais sujeito a sofrer demais com um evento desagradável, o traumatizado possui uma probabilidade alta de cair na tristeza sem fim.

Medo pelos outros

Essa espécie de ferida aberta na psique muitas vezes não está ligada a uma catástrofe que ameaçou o indivíduo em si. “Alguns dos policiais envolvidos em nosso estudo desenvolveram o tal estresse pós-traumático porque viram um parceiro em risco”, relata Julio Peres. Ou seja, presenciar um assalto ou até mesmo perder um amigo querido de repente, em situação envolvendo violência ou não, também pode desencadear essa chateação.

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Mente revelada por imagens

Se dá para perceber alterações no encéfalo de quem está com um distúrbio psiquiátrico, será que não seria possível detectar certas doenças mentais por meio de exames como a ressonância magnética? “Bem no futuro, quando a tecnologia for mais precisa e o conhecimento sobre as estruturas cerebrais avançar, sim. Hoje, isso resultaria em erros”, acredita William Berger. “Seria perigoso, porque poderia terminar em preconceito. Uma pessoa saudável correria o risco de, por causa de uma imagem, ser tachada de uma série de coisas e privada de outras”, argumenta Julio Peres.
 
A evolução fotografada
 
A ressonância magnética do cérebro de um dos policiais traumatizados antes e depois da psicoterapia
 
1. Emoções no comando

A mancha vermelha indica uma superativação da amígdala, área responsável pelas respostas de estresse. Já o córtex pré-frontal, onde mora a razão, quase não está sendo usado, como se percebe pelo tracinho azul. É o retrato do nervosismo exacerbado.

2. Cuca fresca

Após os encontros com psicólogos, a amígdala não trabalha além da conta mesmo depois dos estímulos para relembrar os ataques criminosos. E o córtex pré-frontal fica a mil, sugerindo o processamento racional da informação. Indício de que o estresse pós-traumático foi superado.

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