Clique e Assine VEJA SAÚDE por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Diabete: perigo à vista

Uma das complicações mais comuns da glicemia fora de controle, a retinopatia pode até cegar

Por André Biernath
Atualizado em 16 out 2018, 16h34 - Publicado em 29 fev 2016, 13h31
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Pergunta rápida: qual a principal causa de cegueira evitável antes dos 65 anos? Se pensou em glaucoma, catarata ou degeneração macular, errou feio. A resposta correta é… O diabete. É que a falta de controle dos níveis de açúcar no sangue tem entre os seus desdobramentos a retinopatia. Como o nome sugere, ela agride a retina, tecido no fundo do globo ocular que converte a luz do ambiente em sinais elétricos — é assim que eles são lidos pelo cérebro como imagens. Se nada for feito, com o passar dos anos a doença pode escurecer completamente a visão. Mas o que assusta ainda mais é bater os olhos nas estimativas da retinopatia: até 90% dos diabéticos do tipo 1 e 60% daqueles que desenvolvem o tipo 2 vão sofrer com ela.

    Apesar de a condição ser grave, a maioria dos indivíduos com o sangue doce demais parece ignorar a ameaça. E um levantamento realizado recentemente pela Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV) retrata exatamente essa falta de informação. Num questionário online que contou com a participação de 932 diabéticos, 69% desconheciam o problema. Para piorar, 89% disseram não estar a par dos tratamentos que revertem o estrago e 80% afirmaram que não foram diagnosticados com alterações na retina — número que não bate com as projeções dos especialistas. “Nós não esperávamos índices tão ruins”, admite o oftalmologista Jorge Rocha, um dos coordenadores da pesquisa.

    Diante de dados pra lá de alarmantes, a SBRV pretende intensificar a sua campanha “Veja bem, veja para sempre” ao longo de 2016. O objetivo é conscientizar sobre a importância de averiguar a saúde dos olhos com frequência. “Vamos fortalecer o trabalho nas redes sociais, e estamos em contato com os endocrinologistas, que lidam com o diabético de perto, para que também façam parte desse esforço”, noticia Rocha, que integra a diretoria da SBRV.

    Se a retinopatia é flagrada em seus estágios iniciais, é possível reverter eventuais falhas na visão. Para isso, é essencial que o diabético se encontre mais vezes com o oftalmo. Os portadores do tipo 1 devem consultá-lo a cada 12 meses a partir do quinto ano do diagnóstico — é nesse período que a retina começa a apresentar estragos. “Quem tem o tipo 2 precisa visitar esse profissional pelo menos uma vez ao ano desde a detecção do desequilíbrio da glicemia, já que não sabemos quando a doença realmente se iniciou”, orienta a endocrinologista Solange Travassos, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.

    Também é crucial não perder de vista os sintomas característicos da retinopatia. São eles: visão embaçada, dificuldade ao ler e o aparecimento de pequenas manchas pretas ou avermelhadas no campo de visão. “Nesses casos, o médico vai pedir o exame de fundo de olho e, se necessário, recorrer a testes mais apurados para analisar a extensão do quadro”, descreve o oftalmologista Minoru Fujii, do Setor de Retina do Hospital Cema, na capital paulista.

    Continua após a publicidade

    Mas o que fazer quando a retinopatia se instala? “A conduta número 1 para amenizar suas consequências é manter a glicemia dentro dos parâmetros adequados”, responde a endocrinologista Tarissa Petry, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Isso é alcançado com remédios para o diabete e a adoção de um estilo de vida regrado. Porém, a glicose não é a única que prejudica os dutos por onde flui o sangue. Especialmente entre os diabéticos — mas não apenas entre eles —, também é necessário ficar atento ao colesterol e à hipertensão. O excesso de gordura aumenta o risco de encrencas no sistema circulatório e a pressão alta estreita o calibre dos tubos sanguíneos, fatores que limitam o aporte de nutrientes à retina. “O combate à retinopatia ainda inclui emagrecimento, abandono do tabagismo e prática de atividade física”, lista o oftalmologista Rubens Belfort Junior, presidente do Instituto da Visão e professor da Universidade Federal de São Paulo.

    Arsenal de primeira linha

    Se os vasos já apresentam irregularidades, os médicos via de regra lançam mão de tratamentos bem focados. A principal saída é a fotocoagulação, método baseado em aplicações de raio laser nos olhos para queimar as regiões prejudicadas, impedindo que a devastação se espalhe. “Em geral, são várias sessões até conseguirmos destruir as áreas acometidas”, esclarece Fujii. O procedimento é feito em ambulatório, sem necessidade de internação ou anestesias potentes. Por ser barata e simples, essa é a saída terapêutica mais comum hoje em dia.

    Uma alternativa é o implante biodegradável de longa duração. “Ele tem ação anti-inflamatória, o que ajuda a aliviar os danos e recuperar a visão”, conta Rocha. Outro avanço recente são os antiangiogênicos, uma classe medicamentosa que está ganhando cada vez mais destaque. “O remédio é administrado por injeções no globo ocular e bloqueia a formação de vasos. Isso estabiliza a doença e melhora a acuidade visual”, explica a neurologista Fernanda Boulos, chefe do Setor de Neurociências e Retina da Novartis. O laboratório suíço produz o ranibizumabe, um anticorpo monoclonal que pertence à categoria. Ele é indicado para casos complicados, quando o problema já atinge a mácula, o ponto central da retina, e há uma probabilidade significativa de cegueira.

    Continua após a publicidade

    Um trabalho assinado por experts da Rede de Pesquisa Clínica de Retinopatia Diabética, que reúne órgãos americanos e canadenses, comparou o laser e as drogas antiangiogênicas em 305 voluntários com o distúrbio. Após dois anos de acompanhamento, as estratégias mostraram uma efetividade parecida. “A tendência é que as escolhas sejam individualizadas de acordo com o paciente”, observa Fujii. No entanto, a popularização dos antiangiogênicos ainda esbarra no preço salgado. E, até o momento, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não os incluiu na lista de tratamentos de cobertura obrigatória por parte dos planos de saúde — dessa forma, muitos se recusam a custeá-los.

    Nas situações gravíssimas, em que os vasos se romperam e a mácula dá claros sinais de que não está bem, a última cartada dos oftalmologistas é a vitrectomia, uma cirurgia que, digamos, limpa o interior dos olhos. “A operação envolve retirar o vítreo, o fluido que preenche o globo ocular, e, assim, remover o sangue e a gordura que vazaram”, detalha Belfort Junior.
    Agora, independentemente da terapia escolhida, o ideal é que ela não demore para entrar em cena. “Precisamos iniciar o tratamento em questão de dias”, reforça Solange. Infelizmente, essa não é a realidade do Brasil. “A fila para passar por esses procedimentos na rede pública supera seis meses”, lamenta. Isso só reforça a tese de que o manejo correto do diabete e os exames regulares com o oftalmologista são o caminho para evitar que os olhos percam, aos poucos, a doçura de enxergar o mundo.

    De olho na gravidez

    A diabética que está esperando um bebê não deve se esquecer de marcar consultas com o oftalmologista uma vez a cada trimestre da gestação. Dentro dos nove meses, algumas mulheres experimentam alterações na visão. “É que aumenta o nível de substâncias no sangue capazes de elevar o risco de lesões na retina”, avisa Solange Travassos. Se as artérias que irrigam os olhos já estão arrasadas, a deterioração pode evoluir com maior rapidez.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 9,90/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 14,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.