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Como as grandes cidades afetam a qualidade de vida

Os problemas nas grandes metrópoles vão muito além do aperto no transporte coletivo e das brigas de trânsito. E eles podem afetar a sua cabeça e a qualidade da sua vida sem que você perceba

Por Redação Saúde é Vital
Atualizado em 22 out 2016, 16h25 - Publicado em 7 mar 2013, 22h00
Reportagem: Talita Eredia - Edição: MdeMulher
Reportagem: Talita Eredia - Edição: MdeMulher (/)
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A rotina das grandes cidades afeta a qualidade de vida das pessoas
Foto: Getty Images

Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) foi a fundo para saber que tipo de pane as grandes cidades provocam no cérebro de quem habita esse cenário. Batizado de São Paulo Megacity, o estudo foi feito com mais de 5 mil moradores da região metropolitana da capital paulista. Os resultados revelam: quase 30% dos participantes apresentam transtornos psicológicos.

O trabalho, vencedor do Prêmio SAÚDE 2012 na categoria Saúde Mental e Emocional, é parte de um grande levantamento feito em 24 países. E, na opinião da psiquiatra Laura Helena Silveira Guerra de Andrade, responsável pelo projeto por aqui, ele serve de modelo – e de alerta – para outros aglomerados com mais de 10 milhões de habitantes, incluindo cidades brasileiras que se aproximam dessa dimensão. “Constatamos que, nelas, as mulheres têm mais distúrbios de ansiedade e humor, enquanto homens ficam propensos a problemas de controle de impulso e abuso de drogas”, resume a médica.

A vulnerabilidade feminina tem explicação sobretudo em dois fatores. Um deles, aponta Wang Yuan Pang, psiquiatra integrante do SP Megacity, está na oscilação hormonal. O outro, no excesso de responsabilidade.

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O perrengue com as contas no fim do mês engrossa a lista de responsáveis pela fragilidade mental. “Quando o desemprego é alto, sem renda para o sustento familiar, o risco de compensar a angústia no álcool e nas substâncias ilícitas se amplia”, explica Pang. “Além disso, muita gente vive em áreas de privação, com infraestrutura precária e graves problemas de marginalização, o que também contribui para esse quadro”, acrescenta.

A criminalidade tem peso importante nessa equação, uma vez que mais de 54% das pessoas ouvidas relataram já ter presenciado algum incidente violento. “Vivenciar essas situações abre precedente para disparar diversos transtornos, e não só o estresse pós-traumático”, diz Laura Helena. O medo crônico de assalto, por exemplo, esgota o sistema de defesa psíquica, provocando quadros de ansiedade. “A vítima passa a preferir espaços fechados, restringindo sua rotina”, completa seu colega Wang Yuan Pang.

Do questionário, surge outro dado: somente 8,7% das pessoas com alguma perturbação recebem tratamento. “Além de agravar os sintomas, isso pode deteriorar a saúde como um todo”, alerta Mario Eduardo Costa Pereira, professor de psicopatologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista. “Aumentam a insônia e a pressão arterial, a pessoa come demais ou muito pouco e até reduz sua produtividade”, ele exemplifica.

Laura Helena acredita que o SP Megacity abre a oportunidade de desmitificar a doença mental e melhorar o acesso aos serviços especializados. Para isso, ela aposta no treinamento das equipes de saúde que fazem visitas domiciliares para que identifiquem e encaminhem os casos de risco. Enquanto isso não acontece, alguns sinais indicam que está na hora de procurar ajuda. “É importante a auto-observação de palpitações, suor excessivo em momentos de tensão, pensamentos ruins que não saem da cabeça e frequente falta de atenção”, enumera a psicóloga Dirce Perissinotti, do Programa de Atendimento às Vítimas de Violência e Estresse da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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É de Dirce também uma receita de equilíbrio quando o barulho da cidade grande falar mais alto em sua mente. “Respirações abdominais são ótimas. Além disso, tente atividades diferentes, abra-se para o novo!”

Transtornos de ansiedade – 19,9%

Campeões de diagnósticos, eles envolvem o temor pelo que está por vir. Os maiores índices foram de fobias específicas (10,6%): medo de objetos, animais ou determinadas situações. Em seguida, vêm a fobia social, que impede a interação com outras pessoas, e o transtorno obsessivo-compulsivo, o famoso TOC, que inclui manias exacerbadas. Foram identificados ainda casos de medo de multidão, síndrome do pânico e estresse pós-traumático.

Transtornos de humor – 11%

Mais de 85% dos casos são de depressão profunda, que pode até afastar o sujeito de suas funções diárias. Em segundo lugar aparece a bipolaridade, aquelas mudanças cíclicas de humor. Apesar do número baixo (1,5%), ela é responsável pela maioria dos casos graves nessa categoria – as que levam em conta as tentativas de suicídio. A distimia, que não impede a pessoa de realizar atividades, mas tem seus episódios de tristeza, também foi mencionada.

Controle de impulso – 4,3%

Apesar de o índice parecer pequeno, é o mais observado no dia a dia. É o ataque de raiva, o bate-boca agressivo, a briga de trânsito, a quebra de objetos para aliviar a tensão. O mais frequente é justamente a desordem explosiva intermitente (3,1%), nome dado a esse descontrole emocional. Atrás, surgem o déficit de atenção por hiperatividade e o distúrbio oposicional desafiador, mais comum na adolescência e caracterizado por excessiva atitude negativa e teimosia.

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Abuso de substâncias – 3,6%

É considerado o pior dos distúrbios. Muitas vezes está associado a outras encrencas, que devem ser tratadas junto com a dependência. Na maior parte dos casos, há o envolvimento com álcool e 94% dos casos são graves. Depois, o uso de drogas ilícitas (93,2% são críticos). Em comum está a busca de alívio dos sintomas mentais. E, claro, esses quadros se tornam uma patologia quando o usuário não consegue mais viver sem o consumo das substâncias.

A Pauliceia
 
O perfil dos que sofrem distúrbios psíquicos nos 39 municípios da Grande São Paulo
    
· A faixa etária mais atingida tem entre 35 e 49 anos.
· Mais de 80% dos problemas relacionados a controle de impulso são classificados como severos.
· O número de pessoas com transtornos por aqui é o mais alto entre os países participantes (29,6%), à frente até dos Estados Unidos (26,2%)
· 10% dos casos são sérios, e a maior parte desenvolve mais de três transtornos.
· A agorafobia, ou medo de multidões, é grave em 57% das pessoas com sintomas.

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