Ele demorou a ser aceito no mundo. Levado de sua terra – a América – para a Europa, o fruto não foi incluído no cardápio logo de cara. Os europeus o temiam por ter sido classificado, pelos sábios da época, como espécie da família da mandrágora, planta tóxica e assídua nos caldeirões das feiticeiras.
Assim, o tomate passou anos e anos como mero ornamento nos caramanchões dos terraços europeus. Foi só no final do século 16 que ele entrou na cozinha, graças a comensais corajosos. Na ocasião, ganhou fama de afrodisíaco, sendo apelidado de “maçã do amor”.
A carreira do vegetal, entretanto, tomou novo fôlego em 1694, quando foi colocado na panela e se transformou em molho pelas mãos do italiano Antonio Latini (1642 – 1692). Sua receita recomendava assar, retirar a pele e acrescentar sal, azeite, pimenta e ervas. Foi assim que ganhou outros países e – o que é melhor – inaugurou sua trajetória como alimento anticâncer.
Ao cozinhar com um fio de óleo, sem saber, o mestre-cuca criou a melhor maneira de aproveitar o licopeno. Acontece que esse potente antioxidante fica dentro das células do fruto e é liberado com o calor. Sem contar que o meio gorduroso facilita sua absorção pelo nosso organismo. Além disso, o molho conta com mais de um tomate, assim a quantidade do ingrediente protetor é naturalmente maior. Bravo, signore Latini!
O licopeno é considerado um sinônimo de longevidade, pois não faltam estudos mostrando que reduz danos ao DNA das células. Os cientistas explicam que, graças à sua estrutura química, o ingrediente é eficiente no combate aos radicais livres, moléculas capazes de induzir o surgimento de tumores. Daí que as pesquisas associam o consumo cotidiano da substância à redução no risco de câncer, especialmente o de próstata e o de mama.
E o mesmo ingrediente defende o endotélio, ou seja, ajuda a manter intacto o tapete de células que recobre nossas artérias, diminuindo a probabilidade de surgirem problemas como o infarto e o acidente vascular cerebral. Ainda na linha da ação cardioprotetora, o tomate nos presenteia com boas doses de ácido fólico, vitamina C e potássio, um trio festejado por blindar os vãos sanguíneos.
Leia também: Molho de tomate faz bem ao coração
Para se valer de tantos predicados, uma sugestão é procurar as versões orgânicas do fruto. É que a hortaliça figura entre as mais contaminadas com agrotóxicos. Inclusive, quanto mais verde dor a sua coloração, maior a concentração desses componentes perigosos.
Se não for possível optar pelos tipos livres de pesticidas, um truque é mergulhar o vegetal em uma solução de água com um punhado de bicabornato de sódio.
Diferentes tipos do vegetal
Italiano: é o mais utilizado para preparar tomate seco, extratos e molhos caseiros devido ao sabor adocicado e pouco ácido. Além de ser bem carnudo, costuma apresentar menos sementes em relação aos seus parentes. Há entre 60 e 80 miligramas de licopeno numa porção de 100 gramas.
Débora: perfeito para o dia a dia, vai bem em saladas. Santa cruz, santa clara e paulista são suas outras denominações. Tem alta carga de licopeno: cerca de 70 miligramas a cada 100 gramas. Pelo equilíbrio entre acidez e doçura, é perfeito para molhos e sucos.
Cereja: Pequenino, aguado e doce, ele costuma enfeitar pratos de saladas e massas. também é boa pedida como tira-gosto, especialmente para quem está de dieta, já que, além de saboroso e nutritivo, soma poucas calorias.
Sweet grape: é o tomate-uva. Assim como o cereja, é bem pequeno, porém é mais adocicado e carnudo que seu primo. Trata-se de um ama alternativa para a lancheira da criançada e também é ótima opção como petisco. Um punhado de 100 gramas reserva cerca de 80 miligramas de licopeno.
Quando for preparar o molho de tomate, atenção redobrada com os outros ingredientes. Não vale errar a mão e encher a receita de sal. E, apesar de o óleo ajudar no aproveitamento do licopeno, o excesso vai somar calorias extras.