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Por que as dietas da moda falham

Programas de emagrecimento rápido não parecem cumprir o prometido e ainda podem desgovernar a saúde

Por André Biernath
Atualizado em 27 jul 2017, 11h49 - Publicado em 7 nov 2016, 19h16
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  • Em 1973, no auge de seus 100 quilos, o peso-pesado da música popular brasileira Tim Maia resolveu se internar em um spa e entrar em um regime radical. A experiência foi um fracasso: na primeira oportunidade, ele fugiu e correu para a churrascaria. Ao ser questionado por um repórter sobre o ocorrido, o cantor soltou uma frase icônica. “Cortei álcool, gorduras e açúcar. Em duas semanas, perdi 14 dias.” É lógico que Tim precisava emagrecer, assim como 54% da população brasileira que atualmente se encontra acima do peso. Não param de surgir evidências, porém, de que apostar numa dieta pra lá de rigorosa (e, muitas vezes, apoiada em restrições e trocas alimentares malucas) pode ser uma perda de tempo – e de saúde.

    Para entender essa história direito, temos que fazer uma breve viagem ao passado. Há 12 mil anos, nossos ancestrais penavam para obter uma boa refeição. Eles se esforçavam com frequência na caça a um bisão ou a um antílope – e olha que nem todo dia a empreitada era um sucesso. Quando havia fartura de alimentos, nossos antepassados devoravam tudo e estocavam o excedente da comilança em forma de gordura na barriga. Daí, em tempos de escassez, o organismo recorria a essas reservas de energia para se manter. “A seleção natural privilegiou genes que permitiam uma maior chance de sobrevivência naquele ambiente de menor oferta de comida”, diz o endocrinologista Walmir Coutinho, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

    Leia mais: “O Fim das Dietas”, com novo jeito de ver o emagrecimento

    O problema é que o mundo evoluiu e não corremos mais atrás da refeição. Ela já está pronta para consumo, no supermercado ou na praça de alimentação. “Acontece que nós continuamos com a genética do homem das cavernas”, afirma o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Isso significa que o corpo interpreta qualquer exagero à mesa como pretexto para amontoar energia de olho no período de vacas magras – mesmo que tais momentos nem existam mais.

    O grande atrativo das dietas da moda é a promessa de perda de peso rápido. E muitas delas até permitem eliminar 5 quilos em poucas semanas. Só que aí é que vem a má notícia: “Os estudos mostram que esse peso subtraído é basicamente água e massa muscular”, conta a nutricionista Marle Alvarenga, idealizadora do movimento Nutrição Comportamental. A gordura permanece lá. Se levarmos isso em conta, o indivíduo na verdade “engorda” no regime. Ora, com a diminuição de músculos e líquidos, a proporção de tecido adiposo no corpo é ampliada.

    Mas, ok, vamos ser bonzinhos e considerar que houve um enxugamento nas medidas – e o espelho está aí para provar. O dilema é que, após as primeiras semanas, começa o efeito platô. Em outras palavras, o ponteiro da balança se mantém estático, mesmo que o corte de calorias siga firme. E isso acontece porque o próprio organismo conspira contra as tentativas de chapar a barriga. Lembra o mecanismo de sobrevivência de nossos tataravôs pré-históricos? “Durante uma dieta, há uma maior secreção de grelina, hormônio que dá fome, e uma queda nos hormônios por trás da saciedade”, esclarece o médico Amélio Godoy Matos, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Parece que a comida não enche a pança e fica sempre aquela vontade de beliscar algo.

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    Nesse sentido, cientistas do Instituto Nacional de Diabete, Doenças Digestivas e Renais dos Estados Unidos acompanharam os participantes do reality show The Biggest Loser (“O Grande Perdedor”), competição que dá o prêmio a quem perde mais peso em menos tempo. Eles descobriram que o metabolismo dos participantes fica mais lento que o normal, mesmo seis anos depois do fim do programa de TV. Todos passaram a queimar gordura numa velocidade reduzida e voltaram a engordar. “O corpo entra em modo de economia de energia e poupa tudo o que puder para restabelecer o peso original”, resume o endocrinologista Bruno Geloneze, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

    Pois é, o efeito sanfona ainda gera frustração e nervosismo. E esses sentimentos, por si sós, são promotores do ganho (ou da volta) de peso. De acordo com a Associação Americana de Psicologia, 38% dos adultos dizem exagerar nas porções por causa de preocupações e aflições emocionais. “Sob o ponto de vista fisiológico, o estresse altera o ciclo do hormônio cortisol e pode facilitar o ganho de peso, lentificar o metabolismo e modificar a distribuição de gordura pelo corpo”, lista Geloneze. Em última instância, regimes extremos deixam as pessoas tensas, neuróticas e sabotadas pelos próprios hormônios.

    Outro fator que aumenta a ansiedade é o desejo constante pelo corpo de capa de revista – ou de foto de celebridade no Instagram. “Fazemos de tudo para nos enquadrar num padrão magro de beleza, que é visto como símbolo de sucesso em todas as sociedades ocidentais”, analisa o psiquiatra Adriano Segal, diretor da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Infelizmente, o abdômen trincado é para poucos: formas esculturais dependem de grandes privações e, principalmente, de uma genética favorável. Aceitar a própria imagem corporal na busca por uma vida saudável é o primeiro passo para não entrar em parafuso.

    Leia mais: Fracionar a dieta vale a pena?

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    Pra piorar, o ambiente em que vivemos também patrocina a obesidade. As comidas mais acessíveis são inúmeras vezes aquelas com muitas calorias e poucos nutrientes. As escadas são trocadas pelos elevadores. O controle remoto e o celular permitem realizar tudo sem sair do sofá. “As modernidades inverteram a lógica da natureza e nos fazem consumir mais calorias do que gastamos ao longo do dia”, diz a endocrinologista Tarissa Petry, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. É nesse mar de contradições que o mercado das dietas nada de braçada: só nos Estados Unidos, a venda de livros, DVDs, métodos de emagrecimento, aplicativos e afins cresce desde os anos 1980 e movimentou 59,8 bilhões de dólares só em 2014.

    A preocupação excessiva com carboidratos, proteínas, gorduras e calorias típica de dietas exigentes é outro ponto de crítica entre os especialistas. “Valorizar tanto os nutrientes faz as pessoas se esquecerem do caráter social e cultural da comida”, reflete Marle. Afinal, a refeição não cumpre só uma necessidade fisiológica. Sentar-se à mesa envolve compartilhar histórias e momentos com os familiares e os amigos, honrar tradições culinárias e testar novos sabores e combinações de ingredientes. Uma dieta muito restritiva isola e impede de aproveitar toda essa riqueza que está por trás de um reles prato. Mais um motivo para essas estratégias naufragarem em médio prazo.

    Tachar alguns produtos como bons ou ruins também é contraproducente. Proibir determinados itens só aumenta o desejo de prová-los, enquanto liberar determinada classe pode levar ao exagero nas quantidades. “Devemos sempre apostar no conhecimento e no consumo responsável”, acredita Antonio Herbert Lancha Junior, professor titular da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo e autor do livro O Fim das Dietas. Portanto, dentro de uma vida equilibrada, há espaço até para o chocolate e a batata frita. O segredo está na frequência e no tamanho das porções. “O ser humano não é uma máquina que precisa de um combustível qualquer. Cada um tem alguma comida que adora e faz bem à alma”, concorda a nutricionista Olga Amancio, presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição.

    Esse maniqueísmo alimentar não encontra amparo nem na ciência. Um experimento com 800 voluntários realizado no Instituto Weizmann, em Israel, concluiu que o mesmo alimento pode ser vantajoso a alguns e provocar barbaridades no organismo de outros. No artigo, os estudiosos citam o caso de uma mulher que sofria um aumento expressivo do açúcar no sangue após mastigar um inofensivo tomate. “As características genéticas individuais têm uma repercussão enorme no ganho ou na perda de peso”, ressalta Coutinho.

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    Se as dietas falham (ou, no mínimo, não surtem efeito de maneira consistente), então devemos desistir e nos conformar com os quilos extras? Claro que não. Um emagrecimento consciente e sustentável é possível dentro de um plano mais amplo de mudanças no estilo de vida. Isso envolve exercício, alívio do estresse, respeito ao sono… “Não há segredo: a dieta tem de contar com quantias adequadas de nutrientes”, diz Iara Waitzberg Lewinski, nutricionista do Ganep Nutrição Humana, em São Paulo. Tantas vezes, pequenos ajustes fazem diferença. Em uma pesquisa da Universidade Baylor, nos Estados Unidos, indivíduos capazes de manter o novo peso eram aqueles que, em vez de aderir a um pacote de proibições, priorizavam alimentos saudáveis de que realmente gostavam.

    Leia mais: Os perigos da dieta paleolítica

    O êxito contra o excesso de peso tira proveito também do acompanhamento de médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos. Esse time ajuda a balizar indivi-dualmente a rota do emagrecimento. Há casos, inclusive, em que remédios ou a cirurgia bariátrica têm um papel a cumprir. “Os profissionais de saúde devem realizar um atendimento customizado e considerar o que é saudável e prazeroso para cada pessoa na hora de fazer as prescrições”, argumenta Lancha. E não pode faltar o apoio de familiares e amigos. Em estudo da americana Universidade Harvard, voluntários que compareciam a reuniões e conversavam com outros pacientes enxugavam duas vezes mais quilos em relação aos que seguiam um programa sozinhos.

    “Se insistirmos na ideia de que as dietas são a resposta para a obesidade, não lograremos efeito nenhum”, sentencia Lancha. O emagrecimento saudável não depende de fórmulas mágicas ou sacrifícios drásticos, mas, sim, de estabelecer uma relação honesta com os alimentos e o próprio corpo. Criar metas realistas e reconhecer os sinais de fome e saciedade são um ótimo ponto de partida. É uma mudança de visão e postura na rotina – não uma vez ou outra – que permitirá assinar um cessar-fogo na guerra com a balança.

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    Que furada!

    Confira alguns planos dietéticos que ganham espaço na agenda de quem quer emagrecer num zás-trás. Eles valem a pena?

    Dieta da sopa

    Pede pra trocar almoço e jantar por ensopados e caldos de legumes durante uma semana ou mais. É até carregada de fibras, vitaminas e sais minerais. Mas deixa as refeições chatas – e quase aposenta a arcada dentária.

    Dieta do limão

    A principal vertente pede que seus seguidores bebam um copo de limonada (sem açúcar!) em jejum. O fruto até possui boas doses de vitamina C e minerais, mas não é a única solução para ficar magro, né?

    Dieta do tipo sanguíneo

    Diz que as escolhas à mesa devem se guiar pelo grupo sanguíneo. O tipo O carece de um capricho nas proteínas, enquanto o B necessita de leite e derivados aos borbotões. Não tem o menor fundamento científico.

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    Dieta Detox

    O conceito é amplo e abarca desde aqueles que defendem tomar só suco verde até quem mete o pau em glúten e lactose. A missão seria “desintoxicar” as células, termo com pouco crédito entre os estudiosos.

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