Os dias de maçã marrom acabaram. Uma versão transgênica do fruto proibido anunciada pela empresa canadense Okanagan Specialty Fruits em 2012 já foi aprovada pelo governo americano, e chegará mesmo às lojas entre fevereiro e março de 2017. Graças à modificação, a parte interna das maçãs da Okanagan não oxida quando é exposta ao ar — o que significa que você pode comer só uma fatia e guardar o resto na geladeira em vez de jogar fora.
A culpada pelo escurecimento é uma enzima chamada polifenol oxidase, que também é produzida pela batata, pela banana e diversos outros vegetais. A inovação parece só uma curiosidade no Brasil, em que é normal comer maçãs inteiras de uma vez só com as mãos. Nos Estados Unidos, porém, é comum vender a fruta já fatiada e embalada.
Para contornar o problema de substituir a casca natural por filme plástico, as maçãs recebem uma série de aditivos químicos que as mantêm frescas e evitam a oxidação — mas que de quebra também alteram seu sabor. A cartada da Okanagan é tirar o gene que faz a fruta produzir a enzima, evitando o uso posterior de conservantes.
Os primeiros sacos de maçãs fatiadas têm 40 libras (aprox. 18 kg) e serão distribuídos em dez lojas selecionadas do centro-oeste americano. Elas não foram identificadas, e a empresa afirmou não ter feito testes prévios de mercado para escolher pontos de venda com consumidores mais dispostos a aceitar produtos com alterações genéticas — a ideia é verificar a aceitação das maçãs na prática. Na época do anúncio, em 2012, 60% dos entrevistados afirmaram que comeriam os frutos sem problemas.
Ainda em 2014 a associação de produtores de maçãs dos Estados Unidos, a U.S. Apple, se declarou contrária ao plantio do novo produto, que é patenteado: caso queiram cultivar a fruta transgênica, outros agricultores teriam que pagar royalities. Essa maçã seria revolucionária por ser um dos primeiros produtos geneticamente modificados com vantagens tangíveis para o consumidor, o que pode virar o jogo da opinião pública a favor dos transgênicos: hoje, 39% dos americanos consideram esses produtos menos benéficos para a saúde que suas versões naturais.
A Okaganan não está associada a gigantes internacionais da agricultura e biotecnologia. Fundada em 1996, ela é comandada pelo casal Neal e Louisa Carter, especialistas em segurança alimentar come experiência em colaborações com países subdesenvolvidos.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Superinteressante.