Pais não deveriam dar suco de fruta antes de 1 ano, dizem experts
Pediatras americanos recomendam o consumo de frutas in natura; Sociedade Brasileira de Pediatria reforça a indicação
Recentemente, a Academia Americana de Pediatria (AAP) publicou um artigo no qual atualiza suas orientações a respeito do consumo de sucos de frutas por bebês, crianças e adolescentes. O que imediatamente chamou atenção no documento foi o pedido para os pais evitarem oferecê-los aos pequenos que ainda não completaram 1 aninho de vida. E, quando a entidade fala em suco, inclui até aquele natural, espremido na hora.
A AAP lembra que, até os 6 meses de vida, todas as necessidades nutricionais são alcançadas a partir do leite materno. E, para a entidade, dar suco nesse momento — ou seja, antes da comida sólida ser introduzida — aumenta o risco de o sumo da fruta tomar o lugar do leite materno ou da fórmula infantil, o que resultaria em uma menor ingestão de nutrientes importantes, como proteínas, gorduras, vitaminas e minerais. A partir do sexto mês de vida, o que os especialistas encorajam é o consumo das frutas in natura.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) endossa tal orientação. E há vários motivos para isso. A médica Mônica de Araújo Moretzsohn, do Departamento Científico de Nutrologia da SBP, conta que as frutas reúnem frutose, um tipo de açúcar. Quando o alimento é usado no preparo da bebida, acabamos perdendo suas fibras. “Com isso, o açúcar é aproveitado de forma muito rápida. Aí a insulina sobe também”, resume a nutróloga. Esse processo contribui para o surgimento de encrencas como ganho de peso e diabetes.
“Também é importante ressaltar que um copo de suco de laranja, por exemplo, pode ter três a quatro vezes mais calorias do que uma unidade da fruta”, acrescenta Mônica. Acontece que nenhuma criança chupa quatro laranjas de uma tacada só. Mas, no suco, essa quantidade desce goela abaixo na maior facilidade…
Como se não bastasse, na maioria das vezes a bebida costuma acompanhar o almoço ou jantar. “Só que isso interfere no paladar da criança, diminuindo seu apetite na hora das refeições”, avisa a nutróloga da SBP. O melhor, segundo ela, é recorrer à fruta ao natural como sobremesa ou lanche. “A partir dos 6 meses, todas as variedades podem ser consumidas”, afirma.
Depois de completar um ano, a criança estaria liberada para provar os sucos naturais – mas não à vontade. Entre 1 e 2 anos, recomenda-se limitar a dose a 100 mililitros por dia. Dos 2 aos 6 anos, por sua vez, o consumo diário pode chegar a 150 mililitros.
Não é só o peso que preocupa
“As cáries dentárias também têm sido associadas com a ingestão de sucos”, indica o documento da AAP. Para minimizar esse risco, a entidade aconselha que a bebida seja colocada em copos.
Isso porque quando se usa garrafinhas ou mamadeiras, o líquido – que tem açúcar, nunca é demais frisar – entra em contato com todos os dentes. “Já com o copo ele passa por cima da língua e é engolido”, descreve Mônica.
Suco é saudável, sim
O artigo da AAP pode deixar muita gente com a pulga atrás da orelha, achando que suco natural não é saudável. Não é bem assim. O problema é que, por mais nutritivo que seja, ele possui açúcar e calorias. Por isso, o exagero cobra consequências.
Sem contar que tem muita bebida por aí que parece natural, mas reúne um montão de açúcar adicionado – ou seja, além do dulçor da própria fruta, o produto é abastecido com quantidades extras de açúcar.
Então, se não for preparar o suco em casa, o ideal é procurar opções integrais de verdade (isto é, 100% fruta) e sem adição de açúcar, conservantes e corantes.
E atenção: apesar de o termo “néctar” soar como algo saudável, não é (nem de perto). Caixinhas com esse termo possuem apenas uma pequena parcela de polpa de fruta mesmo – a fórmula conta com bastante água, além de conservantes e corantes. Fora o teor de açúcar.
Para não cair nessas ciladas, tem que ficar muito atento aos rótulos. E, vale repetir, não deixe seu filho viver à base de suco – ainda que seja integral. “A fruta, por ter fibras e menos calorias, é sempre a melhor opção”, conclui Mônica.